A principal pedra do sapato da Nvidia neste começo de 2025 não é a Deepseek, mas sim uma regra aprovada no fim da gestão de Joe Biden que restringe as exportações de chips para países não aliados. Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, o Diretor de Enterprise Sales da Nvidia para América Latina, Marcio Aguiar, declarou que a gigante de tecnologia norte-americana trabalha para que medida ‘não seja renovada’ pelo governo Donald Trump quando perder sua validade – o que ocorrerá em meados de maio.

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“Obviamente ninguém quer trabalhar…..nenhuma empresa quer trabalhar ciente do poder que ela tem de oferecer os seus melhores produtos, as suas melhores tecnologias, e ter restrições para vender para países que são extremamente relevantes para o nosso negócio”, comenta o diretor da Nvidia.

Segundo o executivo, esse tipo de restrição ‘não é a mais benéfica para a indústria’ que a empresa atua.

Apesar disso, destaca que a empresa ‘vai seguir cumprindo com as regras impostas’ pelo governo dos Estados Unidos, mas vai tentar contornar a situação dentro do possível e dentro dos parâmetros legais, ‘desenvolvendo novas técnicas e novas ferramentas para que todos consigam ter acesso’ aos produtos da gigante de tencologia.

Sobre a ameaça vinda da China – a DeepSeek -, Aguiar comenta que apesar de o fenômeno ter abalado as ações da Nvidia, a empresa não teve grandes surpresas da porta para dentro.

“A gente já acompanha a Deepseek e sabemos que vão surgir outras empresas similares”, disse.

A visão é de que o guidance será alcançado e que a demanda pelos produtos da empresa segue aquecida.

“A gente já deu o nosso guidance. A nossa previsão de vendas agora para o primeiro trimestre é de um crescimento de em média 5%”, comenta.

As ações da Nvidia recuam 22% no acumulado de 2025 até então. Todavia nos últimos dois anos os papéis ainda acumulam uma valorização de 365%, com a empresa passando a integrar o clube do trilhão nos últimos meses e chegando a ocupar o posto de mais valiosa do mundo.

Trava impede Nvidia de exportar mais

A medida citada pelo executivo da companhia foi tomada ainda na gestão de Joe Biden, às vésperas do fim da gestão do democrata.

Antes de Biden deixar a Casa Branca, em janeiro de 2025, o governo dos Estados Unidos introduziu novas restrições à exportação de chips avançados de inteligência artificial (IA).

As medidas impedem que países adversários no campo geopolítico – como China e Rússia – adquiram tecnologias de ponta que possam ser utilizadas para fins militares ou de vigilância.

A legislação estabelece três níveis para grupos de países, firmando regras para acesso aos chips da Nvidia e outras tecnologias de ponta de grandes corporações americanas:

  • Nível 1: Inclui os EUA e 18 aliados, como Alemanha, Japão e Coreia do Sul. Os países desse grupo possuem acesso praticamente irrestrito aos chips americanos
  • Nível 2: Grupo de países com restrições moderadas (inclui Brasil, Índia, Israel, dentre outros), no qual as empresas podem obter permissões especiais para exportar mas precisam cumprir padrões de segurança e direitos humanos estabelecidos pelos EUA
  • Nível 3: Grupo que contempla nações adversárias no campo geopolítico, como China e Rússia. Esses países enfrentam bloqueio quase total na importação de chips, semicondutores e hardware análogo

Acerca da Designação de Usuário Final Validado (VEU), as empresas que integram o Nível 2 podem obter permissões especiais (VEU) para exportar chips, desde que aceitem requisitos de segurança e direitos humanos dos EUA.

A legislação também estabelece limites na capacidade total de computação que um país pode possuir

A validade dessa medida é de 120 dias. Ou seja, essa normativa ficará em vigor até o dia 10 de maio de 2025 – podendo então ser postergada ou não por Trump.

Ainda antes disso, em agosto de 2022, o governo Biden aprovou o CHIPS and Science Act, que destina cerca de US$ 280 bilhões para impulsionar a indústria de semicondutores e pesquisa em tecnologia nos EUA.

Juntamente com esses incentivos – que incluem aproximadamente US$ 52 bilhões para empresas que fabricam chips nos EUA, como a Nvidia – a legislação também estabelece restrições.

No âmbito desse regramento, visando que a China avance de forma mais lenta no desenvolvimento de chips avançados, o CHIPS and Science Act proíbe que empresas que recebam esses subsídios expandam operações na China por um período de 10 anos.

O governo Biden também restringiu a exportação de chips de IA avançados, como os da Nvidia (série A100 e H100), para a China.

Novidades de IA no radar

Sobre as novidades esperadas para este ano dentro do universo de IA, Aguiar comenta que devemos ver um aprimoramento da IA generativa.

“O avanço de tecnologias de IA generativa…IA generativa veio para realmente mudar, para desmistificar o uso de inteligência artificial. O que vivemos hoje em questão de técnicas de transformar, por exemplo, voz para imagem, texto para vídeo, isso é o início do que veremos transformando as empresas e realmente se tornando mais competitivas com esses recursos inovadores”, explica o diretor da Nvidia.