Investir em uma franquia parece ser uma fórmula simples e segura de ganhar dinheiro. Um capital inicial e o pagamento de uma taxa mensal garantem a posse de um negócio estabelecido, com consultoria garantida em administração e em marketing. 

 

A ideia é tão boa que vem crescendo como nunca: em 2010, o faturamento do setor de franquias no Brasil avançou 21% em relação a 2009, para R$ 76 bilhões, e o número de unidades franqueadas cresceu 10%. 

 

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Leonardo Lagnado, franqueado da CNA: 
“A escolha do ponto é um dos fatores mais importantes. Escolha bem a região e consulte seu franqueador sobre isso”. 

 

Daí a pergunta que não quer calar: vale a pena tornar-se um deles? “Uma franquia reduz os riscos de abrir um negócio próprio, mas não é uma garantia de sucesso”, diz Filomena Garcia, diretora da Franchise Store, de São Paulo,  empresa que negocia transações com franquias. 

 

O primeiro quesito para avaliar as chances de sucesso é descobrir se você tem o perfil adequado. “Franquia não é para empreendedores natos”, diz o consultor Marcus Rizzo, da Rizzo Franchise. 

 

Explicando a aparente contradição: em uma franquia, as regras são definidas pela rede e são muito rígidas, não deixando muito espaço para a improvisação ou a adoção de um estilo próprio de gestão ou de novos produtos. 

 

“O franqueado não pode implantar mudanças sem autorização”, diz o consultor André Friedheim, da Francap. Para saber se você tem o perfil de um franqueado, faça o teste que está disponível no site da DINHEIRO na internet.

 

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Karen (à direita) e Patrícia Rodrigues, franqueadas da Onodera:
“É preciso escolher um setor que não esteja saturado e procurar locais onde haja demanda”

 

A disciplina estrita parece não assustar o empresário Celso Rodriguez Varela. Ele já empreendeu por conta própria. Manteve uma videolocadora durante 20 anos, mas resolveu mudar para melhorar a rentabilidade do seu investimento  e aplicou R$ 600 mil em duas unidades da rede de sanduíches Subway. 

 

Maior franquia de fast-food do mundo em número de lojas, com 34,4 mil unidades em 97 países, a Subway, dona de um faturamento de US$ 9 bilhões no ano passado,  tem 584 restaurantes no Brasil. 

 

Para associar-se a esse time, Varela conformou-se em seguir as regras rígidas da rede. “Minha intenção era abrir um negócio sem precisar passar pelos desafios iniciais”, diz. “Quis chegar já no meio da operação.” 

 

Mesmo já conhecendo bem o produto, ele visitou lojas e conversou com franqueados para entender como a operação funcionava. A lição de casa benfeita deu resultados. O faturamento da loja de Varela atualmente é de até R$ 100 mil por mês. 

 

Associar-se a uma marca conhecida tem suas vantagens, mas o franqueado não pode acreditar que a divulgação prévia da marca, os treinamentos e o acompanhamento do franqueador garantem automaticamente o sucesso. Habilidades em administração, marketing e gestão de pessoas são imprescindíveis para os bons resultados.

 

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“Considerar a experiência profissional anterior e o gosto pessoal na hora de escolher o setor da franquia também é importante”, diz Filomena. Quem não sabe nem onde fica a cozinha em casa e compra uma franquia de alimentação tem mais chances de se queimar. 

 

Não é o caso do empresário Leonardo Lagnado, 26 anos. A vontade de deixar o emprego num banco e usar o diploma de administração de empresas aliou-se à paixão por línguas – Lagnado fala inglês, espanhol, mandarim e estuda francês. 

 

Ele investiu um valor (que não revela em idioma nenhum)  em uma escola da rede CNA, que custa em média R$ 100 mil. Sua franquia começou a funcionar em fevereiro de 2010 e, de acordo com suas estimativas, deve devolver o capital investido em menos de um ano. 

 

O poliglota Lagnado está em melhor posição do que a média dos franqueados, pois o retorno não costuma ser tão rápido assim. É preciso esperar em média seis meses para que receitas e despesas se equilibrem e o franqueado só vai começar a calcular os lucros 18 meses depois do investimento inicial. 

 

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Carlos bUSCH, franqueado do Boticário: 
“Não se encante com os números do franqueador. Se suas ideias
não forem compatíveis, você não vai gerar bom retorno financeiro”

 

Por isso, é importante guardar um fundo próprio para investir em capital de giro. Friedheim recomenda ao investidor que mantenha em caixa ao menos 50% do investimento inicial até o retorno chegar e os lucros se consolidarem.

 

Para avaliar se o investimento vale a pena ou se é melhor deixar o dinheiro no banco, é necessário  analisar dois pontos principais. O primeiro são os custos extras, que se somam às taxas do franqueador – algumas redes cobram também a taxa de publicidade –, como impostos e aluguel do imóvel. 

 

Já na hora de calcular os gastos, vale lembrar que a negociação com fornecedores fica mais fácil. Grandes compradores conseguem preços mais camaradas. Também é preciso avaliar a concorrência. Uma franquia, como qualquer outro negócio, terá mais dificuldade em se estabelecer em um mercado já saturado. 

 

As irmãs Karen Rodrigues, 34 anos, formada em marketing, e Patrícia Rodrigues, 33, formada em administração, tomaram esse cuidado ao comprar uma franquia da clínica de estética Onodera. Patrícia já conhecia bem o setor, pois trabalhava numa empresa de expansão de franquias. 

 

Elas investiram R$ 180 mil só depois de fazer uma lição de casa caprichada. “Optamos por um setor que não tinha muitos concorrentes na época e escolhemos um ponto onde encontramos uma demanda reprimida”, diz Karen, que obteve o retorno do investimento em 18 meses.

 

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É possível reduzir ainda mais o risco? Sim, dizem os especialistas: basta seguir uma regra das aplicações financeiras e diversificar. É o que faz o empresário Carlos Busch, 41 anos. Ele pode ser considerado um franqueador em série. 

 

Aos 17 anos, após passar dois Natais trabalhando em uma franquia do Boticário  pertencente a uma tia, decidiu abrir sua própria unidade. Resultado: 23 anos depois, Busch possui 13 unidades. “Tenho lojas de diferentes formatos, de quiosque no shopping a unidades em hipermercados.” 

 

Sem revelar  os números exatos, ele limita-se a dizer que cada modelo demanda um investimento diferente (a partir de R$ 250 mil, segundo o Boticário) e que o tempo médio de retorno de suas unidades é de 36 meses. 

 

Apesar dos riscos, abrir uma franquia tem sim vantagens para quem se encaixar no perfil de franqueado. “A maior vantagem  é adotar um modelo de negócios que já foi testado por outros, com desenvolvimento constante de produtos e marketing garantido”, diz o consultor Marcelo Cherto.