Ícone do telejornalismo, Glória Maria morreu aos 73 anos vítima de um câncer. Colegas, artistas e políticos lamentam a morte da jornalista, considerada a primeira repórter negra da televisão brasileira.”Pioneira”, “espetáculo mais extraordinário de vigor”, “símbolo do telejornalismo brasileiro”. Assim Glória Maria foi celebrada por jornalistas, apresentadores, artistas e políticos que usaram suas redes sociais para se despedir de um dos grandes ícones da televisão nacional.

Glória Maria morreu nesta quinta-feira (02/02), aos 73 anos, no Rio de Janeiro. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2019 e, posteriormente, desenvolveu metástases no cérebro. Segundo um comunicado da TV Globo, o tratamento deixou de fazer efeito.

“Em meados do ano passado, Glória Maria começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias, e Glória morreu esta manhã, no Hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio”, diz a nota da emissora.

A jornalista deixa duas filhas, Laura, de 14 anos, e Maria, de 15, as quais adotou em 2009 após uma temporada na Bahia.

Pioneirismo

Nascida no Rio, Glória Maria Matta da Silva se formou em jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e trabalhou na Globo sua vida inteira. Entrou na emissora em 1970, ainda como estagiária, e apresentou sua primeira reportagem em 1971, numa época em que os repórteres não apareciam no vídeo.

Considerada a primeira repórter negra da televisão brasileira, ela foi pioneira em muitas frentes. Em 1977, tornou- se a primeira profissional a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional. Foi também a primeira jornalista mulher brasileira a cobrir uma guerra, em 1982, a Guerra das Malvinas.

Glória passou a trabalhar no Fantástico em 1986 e, em 1998, se tornou a primeira mulher negra a apresentar o programa dominical, uma função que ela exerceu até 2007. Nesse último ano à frente do Fantástico, foi ainda a primeira jornalista a participar de uma transmissão em HD na televisão brasileira. Mais tarde, comandou o Globo Repórter.

Ao longo de sua carreira, Glória viajou por mais de 100 países, comandou uma série de coberturas importantes e entrevistou todos os tipos de personalidades, de Michael Jackson ao ex-presidente da época da ditadura militar João Baptista Figueiredo.

O adeus

Não à toa a morte de Glória Maria comoveu um grande número de colegas da TV e do jornalismo, além de políticos, celebridades e artistas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ter recebido “com muita tristeza” a notícia da morte de “uma das maiores jornalistas da história da nossa televisão”.

“Glória foi repórter em momentos marcantes do Brasil e do mundo, entrevistou grandes nomes e deixou sua marca na memória de brasileiros e brasileiras”, escreveu. “Foi a primeira repórter a fazer uma entrada ao vivo no Jornal Nacional e se tornou eterna nos programas Fantástico e Globo Repórter. Meu abraço e solidariedade aos familiares, amigos, colegas e admiradores de sua carreira.”

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também se pronunciou. “Glória Maria foi a repórter mais popular da história da televisão brasileira. Foi ainda uma pioneira, que abriu caminho para as mulheres negras num espaço até então reservado aos homens. Contou a história e fez história.”

A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) se disse “devastada” com a morte de Glória Maria. “Uma precursora, que abriu caminhos para gerações de mulheres negras, não só no jornalismo, mas em diversas áreas. Descanse em paz Glória!”

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã da vereadora assassinada Marielle Franco, escreveu: “Quem é mulher negra sabe da importância de tê-la visto na televisão. Glória é considerada a primeira repórter negra da televisão e sempre será lembrada como sinônimo de competência.”

Em depoimento à GloboNews, o jornalista William Bonner disse que aprendeu a gostar de telejornalismo vendo reportagens de Glória Maria, e elogiou a “exuberância da produção dela, a vontade com que ela sempre saía para realizar um trabalho e o alvoroço que ela provocava quando se preparava para sair, no camarim, no corredor, na redação”.

“Glória é um símbolo não só da Globo, mas é um símbolo do telejornalismo brasileiro. Por isso estamos muito feridos hoje”, acrescentou o apresentador do Jornal Nacional, que ainda exaltou o legado deixado pela jornalista. “Ela criou trilhas na nossa profissão. Ela inventou formas de fazer.”

O jornalista Pedro Bial também gravou uma mensagem emocionado. “Eu nunca vi nenhuma pessoa mais cheia de vida, fulgurante, como Glória Maria. O espetáculo mais extraordinário de vigor, de vida, aquela rainha negra. Não é acaso que ela tenha partido no Dia de Iemanjá. Iemanjá levou sua irmã para descansar. Ela, guerreira que tanto lutou.”

A apresentadora Ana Maria Braga também saudou Glória como guerreira e pioneira em sua profissão. “Hoje nos despedimos dessa guerreira, pioneira no jornalismo e corajosa contadora de histórias. O seu talento e sua representatividade são marcos na história da televisão e jornalismo.”

A atriz Taís Araujo, por sua vez, escreveu: “Difícil encontrar palavras pra me despedir… mas me brotam palavras pra dizer o que Glória representa: poder, inteligência, caráter, personalidade, identidade, possibilidades, viagens, vigor, bom humor, gargalhadas, dança, música, champanhe, passaporte, mundo! É isso, Glória mudou meu mundo, mudou o nosso mundo!”

A atriz Zezé Motta foi outra que mencionou as portas que Glória abriu como mulher negra na televisão. “Ela] enfrentou dificuldades por ser mulher, por ser negra e por ter vindo de uma família pobre. Mas com muito trabalho, mostrou dignidade, conseguiu respeito, sua história sempre foi de superação. Foi desbravadora. Foi a primeira mulher e primeira negra a apresentar um jornal na televisão brasileira. Desde sempre derrubando gigantes!”

Já a ativista dos direitos humanos e artista Preta Ferreira descreveu Glória como um “ícone, única”. “Nós, mulheres pretas, sabemos o valor dessa grande comunicadora”, escreveu. “Abriu as portas e inspirou muitas mulheres negras na comunicação. Uma perda lamentável ao Brasil. Vão-se os grandes abrindo caminhos para quem está chegando.”

ek/lf (ots)