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WRIGHT: ele se foi com toda a família

 

NO INÍCIO DOS ANOS 90, com o Brasil ainda mergulhado na hiperinflação, um simpático inglês, criado pelos tios no Rio Grande do Sul, costumava pegar sua malinha e viajar para Londres e Nova York quase todas as semanas. Roger Wright, um dos primeiros sócios do Banco Garantia, tentava convencer investidores a comprar papéis de companhias brasileiras, quando os empresários mal conheciam o significado do termo ADR – os recibos de ações negociados no mercado americano. Persistente, Roger logo ganhou um apelido no circuito internacional da chamada haute finance: o de “Mr. Brazil”.

Com o Plano Real e a estabilização da economia, que atraiu bilhões em capitais estrangeiros para o País, Roger passou a ser cada vez mais ouvido e dezenas de empresas nacionais, começando pela Aracruz Celulose, emitiram seus ADRs.

O Garantia assessorou várias dessas operações e Roger fez fortuna. Fanático por futebol, ele construiu uma mansão no bairro do Morumbi e promoveu animadas peladas com amigos e colegas do mercado, até ser marcado por uma tragédia: a morte da esposa, Cecília Wright, mãe de seus dois filhos e herdeira da Adubos Trevo, no acidente com o Fokker 100 da TAM, em 1996. Depois disso, Roger caiu em depressão, se afastou do Garantia e voltou ao mercado em 2001, ao criar a gestora de fundos BPW, com as iniciais dos três sócios fundadores: Bassini, Playfair e Wright. Um ano depois, ele desenhou uma operação de compra da Embratel pelas três operadoras fixas do País: Telefônica, Oi e Brasil Telecom.

A Embratel acabou sendo vendida para a Telmex, do bilionário Carlos Slim, mas Roger se firmou como um interlocutor querido por todas as partes. A tal ponto que o próprio Slim confiou a ele parte da gestão de sua fortuna e os dois passaram a se encontrar com frequência para tratar de oportunidades no Brasil e em outros países. Roger também ficou próximo dos então controladores das operadoras telefônicas. Em 2005, quando o Citibank destituiu o Opportunity da gestão do fundo CVC, Roger foi a primeira pessoa a ser convidada para o posto, mas disse não em função da amizade com o banqueiro Daniel Dantas. Após a BPW, Roger criou a Arsenal Investimentos, batizada em homenagem ao time de futebol do seu coração, com outros sócios egressos do Garantia. A empresa, além de atuar em fusões e reestruturações de empresas, como a do Frigorífico Independência, tem mais de R$ 3 bilhões sob sua gestão.

Anos depois, um novo desastre marcaria sua vida. Em 2007, ele compareceu a uma reunião de trabalho em Porto Alegre, acompanhado da assessora Simone Westrupp. Na volta a São Paulo, com o voo lotado, Roger cedeu a ela o bilhete e tomou outro avião. Ao descer em São Paulo, soube que Simone havia morrido com o choque do Airbus. Depois disso, ele deixou o conselho de administração da TAM, do qual fazia parte. Mas, apesar das duas tragédias, nunca deixou de voar e comprou seu King Air logo após adquirir uma mansão no condomínio Terravista, um dos mais luxuosos do País, em Trancoso, no litoral sul da Bahia.

Na segunda-feira 25, ele comemoraria seu aniversário com toda a família: a segunda mulher, Lucila, os dois filhos do primeiro casamento e os netos. Todos morreram, num acidente que representa uma tragédia para outras famílias da elite econômica. José Luiz Alquéres, presidente da Light, perdeu a filha, casada com um filho de Roger, e um neto. Noberto Pinheiro, dono do banco Pine, também perdeu uma neta no voo.

Estima-se que Roger esteja deixando uma fortuna de US$ 500 milhões. Ele tem um meio-irmão por parte da mãe, com quem não mantinha relações, e três meio-irmãos por parte do pai. O trabalho de “vender o Brasil”, que ele começou há duas décadas, rendeu frutos. Só neste mês, US$ 2 bilhões em recursos externos entraram na Bovespa.