06/01/2010 - 8:00
?Não tenho mais nada com as usinas, mas agora sou acionista da Bunge internacional” Maurílio Biagi Ex-Presidente do Grupo Moema
Se um sobrenome pudesse definir a história do açúcar e do álcool no Brasil, maneira como Gerdau significa aço e Ermírio de Moraes, cimento, esse nome seria Biagi. Uma dinastia que nasceu quando o imigrante Pedro Biagi criou a Usina da Pedra, ainda na década de 30. Seu filho, Maurílio, se tornou a figura mais importante do Proálcool, nos anos 70. Dono de várias usinas, ficou tão próspero, que passou a ser engarrafador da Coca-Cola, e ainda criou a Zanini, uma indústria de bens de capital na cidade de Sertãozinho que forneceu equipamentos para várias usinas no País. Os Biagi, durante muitos anos, foram sinônimo de dinheiro e poder. Eram os reis de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, epicentro da ?Califórnia brasileira?. Essa história começou a chegar ao fim há dois meses, quando a ala majoritária da família, liderada pelos irmãos Luiz e André, filhos de Maurílio, venderam a maior usina do Brasil para o grupo francês Dreyfus ? era a única forma de sobreviver às dívidas. Na semana passada, na véspera do Natal, escreveu-se o último capítulo, quando Maurílio Biagi Filho, o primogênito vendeu a Moema para a também multinacional Bunge por R$ 2,6 bilhões, incluindo as dívidas. Era o fim da dinastia Biagi. Hoje, a família que já foi sinônimo de álcool no Brasil, não tem mais uma usina sequer.
Procurado pela reportagem de DINHEIRO, Maurílio Biagi minimizou o fato. Segundo ele, a operação foi boa para todas as partes. ?Foi uma troca de ações. Não tenho mais nada com o Grupo Moema, mas agora sou acionista da Bunge Internacional?, conta o empresário, que ao lado dos sócios Eduardo Diniz Junqueira e dos filhos de Armando Junqueira recebeu aproximadamente 7,3 milhões de ações ordinárias da Bunge Limited. Com base no preço de fechamento das ações, participação dos controladores chega próximo a R$ 1,6 bilhão. Ou seja, ao contrário dos irmãos, Maurílio Biagi saiu do negócio com os bolsos cheios.
Casos como o da família Biagi têm se tornado cada vez mais frequentes. Desde a chegada dos grandes grupos estrangeiros ao setor sucroalcooleiro, tem-se notado uma movimentação no mercado, em que as empresas familiares têm perdido espaço para as multinacionais. A líder global em etanol ainda é a brasileira Cosan, é verdade. A ETH, do grupo Odebrecht, vem na segunda posição entre os maiores produtores, mas outros grupos estrangeiros, como a americana ADM, já possuem projetos ousados para o Brasil.
É consenso entre os especialistas que o setor deverá se internacionalizar ainda mais nos próximos anos. ?Há alguns anos, a participação do capital estrangeiro nas usinas brasileiras girava em torno de 1% a 2%. Hoje esse número está em 15%”, diz Sérgio Torquato, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Segundo analistas do setor, esta ?invasão? estrangeira nos últimos anos pode ser explicada pelos problemas financeiros resultantes da crise, que acabaram fragilizando os grandes grupos nacionais e permitiram a entrada de capital externo. De acordo com Marcos Jank, presidente da Unica ? União da Indústria de Cana-deaçúcar, no entanto, esta é uma tendência para os próximos anos. ?Estimamos que os estrangeiros responderão por 20% da cana no Centro-Sul em 2010?, completa ele, lembrando que o número deverá ser 8% maior que o registrado em 2009.