01/07/2009 - 7:00
JANTARES MILIONÁRIOS: Roberto Jardim pode trazer um chef com três estrelas no Michelin e promover jantares que custam até 15 mil euros
Aos 17 anos, o sonho do gaúcho Roberto Jardim era ser embaixador na ONU. Mas, aos 23 anos, um convite para trabalhar como executivo no ramo de calçados o seduziu. Jardim seguiu essa carreira por mais de 20 anos, até que decidiu transformar suas duas grandes paixões, a gastronomia e as relações internacionais, em profissão. Hoje, aos 61, ele usa seus dotes de negociador e a habilidade com os idiomas francês, inglês e espanhol em outra missão: trazer ao Brasil os mais conceituados chefs de cozinha da Europa.
E como 2009 é o ano da França no Brasil, Jardim está no céu. Dos 35 chefs franceses com estrela no Guia Michelin (que pontua os chefs com até três estrelas) que virão ao Brasil por conta dos eventos da comemoração, 33 serão trazidos por Jardim. Só neste ano, ele já trouxe Maurice Alexis, chef oficial do presidente francês, Nicolas Sarkozy, e Patrick Bertron, do restaurante Bernard Loiseau, com três estrelas.
CONSULTOR: o badalado Michel Roth, do Ritz de Paris, é quem indica os chefs a Jardim
Outros famosos como Michel Roth, do Ritz de Paris, e Anne-Sophie Pic, a primeira francesa a atingir três estrelas desde 1930, ainda devem aterrissar por aqui. Uma vez no País, todos realizam jantares abertos a um público de até 90 pagantes em hotéis cinco-estrelas como Hyatt e Tivoli. Experimentar a conceituada cuisine custa até R$ 600 por cabeça. “Se fosse na França, um jantar como esse não sairia por menos que 300 euros sem a bebida inclusa”, diz Jardim.
Quem prefere exclusividade pode até mesmo contratar um dos cozinheiros estrelados para jantares particulares. O valor chega a 5 mil euros para os chefs que possuem entre uma e duas estrelas. Se for alguém que possua três estrelas cravadas no avental, pode chegar a 15 mil euros. “Atualmente quem me procura são os chefs. Já tenho contratos fechados para até 2012”, afirma Jardim, que promove cerca de 100 jantares por ano.
EXIGÊNCIA: em 2007, quando veio ao Brasil, Anne-Sophie Pic pediu lagostas viva
Qual o segredo? Ser amigo pessoal do badalado Michel Roth, dono de duas estrelas no Michelin e respeitado por todos os seus pares na França. “Ele indica os chefs a serem trazidos”, explica. Normalmente, um chef é contratado para vir por uma semana, com cachês que vão de 3 mil euros a 5 mil euros por dia. “Os jantares atraem bastante público”, diz Renaud Pfeifer, gerente de operações do Tivoli São Paulo Mofarrej, que contratou quatro chefs. “Fiquei fascinado pelas frutas brasileiras. O murici, fruta da Amazônia com gosto de parmesão, é simplesmente incrível”, contou Patrick Bertron, do restaurante Bernard Loiseau e que esteve no Brasil, na semana passada, preparando jantares para 80 pessoas.
“Aceitei o convite para vir ao Brasil depois que o chef Patrick Gauthier, do La Madeleine, me disse que os eventos realizados pelo Roberto eram muito bem feitos.” Até virar referência, uma espécie de eminência parda dos chefs, Jardim teve uma trajetória atípica. Ele estudou direito na Universidade de Coimbra, em Portugal, morou na França e, de volta ao Brasil, fez carreira no ramo dos calçados. Após este período, trabalhou na importação de couros e, como apreciava culinária, abriu um restaurante em Porto Alegre chamado Le Cap Ferrat. Em 1996, fechou as portas e foi para Punta del Este, no Uruguai, onde promovia eventos nos hotéis Conrad e Las Cumbres.
Em 2001, quando o Uruguai foi afetado pela crise argentina, Jardim decidiu mudar-se para a Califórnia. Ali, entre as cidades de Pasadena e San Diego, promovia quatro jantares mensais de culinária brasileira. De volta ao Brasil, em 2003, e sem contatos no mercado, tinha em mente que as pessoas certas para conversar eram os presidentes de grandes empresas.
O hotel Hyatt aceitou sua proposta para promover jantares de primeira, mas para falar com um diretor do Santander, por exemplo, chegou até a mandar flores para a secretária para conseguir marcar uma hora. “Roberto Jardim é um empresário que apreciava a alta gastronomia, tinha bons contatos e fez disso o seu negócio. Seu trabalho incentiva intercâmbio de culturas e de técnicas”, aponta Jorge Monti, fundador da Associação Brasileira da Alta Gastronomia. Nada muito longe do que fazem os embaixadores.