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FHC: “Chegamos ao limite” Geraldo Alckmin: “Estamos em guerra”

 

O Brasil vivia, até a semana passada, uma situação de dupla personalidade. Maior economia da América Latina, menina dos olhos do Fundo Monetário Internacional, ilha de crescimento num continente em crise, este mesmo país suportava, com espantosa passividade, uma onda de crimes sem precedentes e sem limites, digna de nações institucionalmente destruídas. É como se o Brasil tivesse um pé econômico na Espanha e outro, social, no Afeganistão ou em Ruanda. Os números da violência são dramáticos. Apenas no ano passado, 40 mil pessoas foram assassinadas no Brasil, cerca de 3,5 mil mortes por mês. Em algumas áreas da cidade de São Paulo, a metrópole mais próspera do País, ocorrem 60 homicídios por 100 mil habitantes, a pior estatística mundial do gênero. Também no ano passado, houve 522 seqüestros registrados no País (307 deles no Estado de São Paulo), contra 261 no ano anterior. Para proteger-se dessa barbárie, empresas e pessoas físicas gastam em segurança privada a fabulosa quantia de R$ 48 bilhões por ano, enquanto o Estado empobrecido coloca outros R$ 40 bilhões. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sustenta que a violência já se tornou o maior obstáculo ao crescimento do País. Quer dizer: quase sem perceber, certamente sem discutir ou rebelar-se, o Brasil estava se convertendo numa nova Colômbia. A situação brasileira chegou a tal ponto que executivos estrangeiros que se aconselham com a empresa de segurança Control Risks, americana, estão se recusando a trabalhar no País ? ou exigindo, para isso, salários muito maiores do que ganhariam em ambientes seguros. Em poucas palavras, era o caos disfarçado de normalidade.

 

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Dor nas ruas: Criminalidade é o problema nº1 do país

 

Como a inflação. ?Para reduzir a violência, o governo precisa demonstrar ter a mesma coragem política que usou para acabar com a inflação?, afirma o pesquisador Ib Teixeira, consultor na área de segurança. O paralelo com inflação ilumina um aspecto essencial do drama brasileiro: as pessoas se acostumaram à convivência com o crime, se adaptaram a ele, não acreditam que possa ser vencido. Já se blindaram no País 15 mil carros, há 500 mil pessoas trabalhando em segurança privada e multiplicam-se, em todas as cidades brasileiras, os condomínios-prisão, com muros de três metros. Ao contrário de outros aspectos do serviço público, como o fornecimento de água ou o transporte, a segurança parece ter passado à esfera do insolúvel. ?A violência tem solução?, contesta João Sayad, secretário da Fazenda da cidade de São Paulo. ?E a solução está na polícia. Ela precisa de mais vigilância, mais estímulo, mais dinheiro.? Existe consenso entre os especialistas de que a polícia brasileira ? um contingente de quase 500 mil pessoas ? é corrupta, mal aparelhada e, conseqüentemente, ineficiente. Para atacar a corrupção é preciso determinação e coragem. Mas para que se tenha policiais melhor remunerados, com pós-graduação no exterior, é preciso dinheiro e uma nova ordem de prioridades. O caso dos salários é um exemplo: um policial brasileiro custa R$ 600 ao Estado, ao passo que seu equivalente americano recebe R$ 4.500. Mas é inútil acenar com esses números enquanto a estabilidade monetária e a redução do déficit operacional forem as únicas metas intocáveis do governo de Pedro Malan.

 

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Segunda-feira, 21: FHC recebe Alckmin e sua proposta de acabar com celulares pré-pagos

 

?Precisamos de um Proer para segurança?, afirma o deputado Michel Temer, ex-secretário da Segurança de São Paulo. ?Temos de aumentar os gastos e passar da escala do milhão para o bilhão.? A idéia é clara: se há uma crise que ameaça a estabilidade social e econômica, é preciso mobilizar recursos para enfrentá-la. Isso significa gente, inteligência, tempo, trabalho e, acima de tudo, recursos. Quando os bancos ameaçaram quebrar, em 1995, o governo FHC não teve dúvidas em atirar R$ 26 bilhões de dinheiro público para estancar o problema. Agora é hora de fazer o mesmo com segurança. Basta sair nas ruas de São Paulo, Recife ou Rio de Janeiro para perceber que esse é, de longe, o problema mais grave do País. No final da década de 80, a Itália vivia um pesadelo de seqüestros igual ou pior que o brasileiro. Roubavam-se crianças, cortavam-se orelhas, mantinham-se seres humanos trancados em poços por meses. Os casos, como aqui, contavam-se às centenas. Pois com um mistura de leis especiais, investigação policial e determinação da Justiça em bater as máfias, o pesadelo acabou.

 

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Ivoncy Ioschpe, IEDI: “Violência prejudica não só pessoas, mas investimento”

 

 

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Laerence Pih, empresário: “Não justifica pagar salários de fome para a polícia”

 

 

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Horácio Lafer Piva, Fiesp: “Estamos sitiados e muito amedrontados”

 

No ano passado houve apenas um seqüestro na Itália. Outro exemplo é o de Nova York. Aplicando intransigência e, sobretudo, inteligência estatística e computacional à ação da polícia, o ex-prefeito Rudolf Giuliani reduziu dramaticamente o número de roubos e assassinatos na cidade mais rica do mundo, que costumava ser terra de ninguém. A mesma ?tolerância zero? está sendo testada no Distrito Federal e o coronel João Vítola, coordenador de segurança pública do DF, diz que as coisas estão melhorando. ?A criminalidade ao redor do Plano Piloto caiu 40%?, diz o coronel. Para que o resto do País avance na mesma direção, algo precisa mudar no Palácio do Planalto. ?O combate ao crime não é prioridade de governo?, afirma Luiz Antonio de Souza, do Núcleo de Estudos da Violência da USP. Os números não mentem. O programa de segurança pública federal teve orçamento de R$ 2,4 bilhões em 2000 e R$ 2,3 bilhões em 2001 ? e apenas R$ 1,6 bilhão foram efetivamente gastos. Na rubrica de combate ao crime organizado, a verba caiu de R$ 86 milhões para R$ 22,4 milhões. E não é só isso. Falta liderança, plano, coordenação com outras esferas de governo e mesmo comprometimento pessoal. Até a semana passada, por exemplo, o presidente Fernando Henrique já tinha nomeado seis ministros da Justiça desde que assumiu o governo. A pasta é um daqueles postos sem dono usados para agradar aliados políticos, embora dali devessem sair os planos e a coordenação federal do combate ao crime no Brasil. Basta comparar com a Fazenda, onde o ministro Malan trabalha em paz há sete anos, para se perceber onde está o foco de atenção do governo. Isso, claramente, tem de mudar. O presidente Fernando Henrique vai entregar ao seu sucessor um país com estabilidade monetária. Seria prudente que ele dedicasse seus último 11 meses de governo a evitar que o Brasil se transforme na Colômbia.

 

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Romeu Chap Chap, Secovi: “Há ligação entre atividade econômica e violência”

 

 

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Abram Szajman, Federação do Comércio: “Sou favorável à tolerância zero feita em Nova York”

 

 

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Olacyr de Moraes, empresário: “É mortal para os negócios e para o turismo”