O tradicional brinde na virada do ano vai deixar saudades no bolso dos consumidores brasileiros, e isso não tem relação alguma com a posse da presidente Dilma Rousseff. É que em 2011 o tim-tim certamente estará mais caro, numa estimativa que pode chegar a até 25% na faixa dos vinhos populares. A culpa desse reajuste é do novo Selo de Controle Fiscal, uma tarja nas cores verde (para os vinhos nacionais) ou vermelha (importados) que será obrigatória  a partir de 1º de janeiro. A partir de 2012, todos os vinhos colocados à venda, inclusive de safras mais antigas, devem ter o selo em seu gargalo. Caso contrário, podem ser apreendidos pela Receita Federal.

 

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A ideia do selo é criar uma barreira para a entrada dos vinhos importados, que ficaram mais baratos com a queda do dólar diante do real. A logística e os custos para colocá-lo nas garrafas dificulta e tende a inviabilizar a importação dos chamados vinhos baratos e, supostamente, de baixa qualidade. 

 

Terminais portuários informaram os importadores que cobrarão uma taxa de R$ 2 por garrafa selada, custo que cobriria o trabalho de abrir cada caixa e colocar as tarjas (a Receita obriga a selagem em território brasileiro). 

 

O valor parece pequeno, mas é gigantesco conforme o produto. Equivale a uma sobretaxa de 25% sobre o preço final de venda do popular lambrusco, um dos importados mais vendidos no Brasil. Um contêiner com capacidade para 12 mil garrafas de 750 ml sairá R$ 24 mil mais caro, penalizando o importador e o consumidor. Pequenos produtores nacionais também sofrerão com a burocracia.

 

Defendido pelos grandes produtores de vinho brasileiro, o selo mostra que a indústria vitivinífera nacional não soube apreender a principal lição da abertura econômica da década de 1990. 

 

Naquela época, o dólar barato e o mercado aberto para os brancos e tintos importados foram dois fatores chaves para a melhoria da qualidade da bebida brasileira. Outrora acostumados a um mercado cativo, os produtores precisaram trabalhar sério para enfrentar a concorrência. 

 

E fizeram a lição de casa. Investiram nos vinhedos, com o plantio de novas variedades, e aprimoraram o manejo para obter frutos de maior qualidade. As vinícolas também foram modernizadas, com maquinário de última geração. 

 

Foi nesta década não tão distante que nomes como Miolo ou Salton começaram a conquistar os consumidores pela qualidade do que colocavam na taça. Hoje, são vários os exemplos de vinícolas nacionais que exportam brancos, tintos e, principalmente, espumantes. Há rótulos brasileiros vendidos até na França!

 

Em vez de batalhar por restrições às importações em Brasília, os produtores locais  deveriam defender medidas que incentivassem o consumo, independentemente da procedência das garrafas. 

 

Em países como Itália e Espanha, o vinho é tratado como alimento (os benefícios à saúde são comprovados no consumo moderado) e paga menos impostos. O Selo de Controle Fiscal é um tiro no pé e pode ser acompanhado de novas medidas do gênero se nada for feito. 

 

Uma pequena sobretaxa nos vinhos mais caros não vai afetar os hábitos de consumo das camadas mais ricas da população. Porém, um grande aumento nos rótulos mais baratos afeta diretamente as compras da classe média, justamente a mais beneficiada pelos avanços da economia nos últimos anos.

 

*Diretora de redação da revista Menu