19/11/2003 - 8:00
Itamar Franco está deprimido e ainda não se sente à vontade como embaixador. Há três meses em Roma, o ex-presidente está com a barba por fazer, dedica-se à leitura e queixa-se aos amigos do fato de morar no Palazzo Doria Pamphili, na Piazza Navona. Embora seja uma das construções mais luxuosas e imponentes da capital italiana, o palácio renascentista que abriga a representação brasileira desde 1920 é frio e impessoal aos olhos de Itamar. Por isso, ele chegou até
a procurar um imóvel para alugar em Roma, mas desistiu quando soube do preço. Nada menos do que R$ 13,4 mil mensais. Enlaçado com a major da PM mineira Doralice Lorentz, sua ajudante-de-ordens durante o governo estadual, Itamar aproveitou seus primeiros meses em Roma para conhecer algumas das mais belas cidades do litoral mediterrâneo. Ele e a mulher já foram a Amalfi, Salermo e Sorrento. Ainda assim, apesar da dolce vita italiana, ele já pensa em dar
cabo ao exílio e regressar a Minas Gerais. A amigos, confidenciou
que talvez não continue em Roma em 2004. ?Se o presidente Lula precisar do cargo, no dia seguinte minhas malas estarão prontas?,
é o que tem dito.
Itamar, que administra um orçamento anual de US$ 2 milhões em Roma, é um dos poucos embaixadores que não pertencem ao corpo diplomático ? assim como ele, há o caso de Paes de Andrade, em Lisboa. Essa situação, que premia aliados políticos, não apenas desperta crises de ciúmes no Itamaraty, como também cria problemas gerenciais concretos. Itamar, por exemplo, não fala italiano e tem também dificuldades no inglês. Por isso, o embaixador evita encontros com empresários e políticos locais. Até agora, sua agenda oficial tem se limitado a acompanhar ministros petistas em Roma. Por lá, já passaram Tarso Genro, Luiz Dulci, José Graziano, Gilberto Gil e, na última semana, o chanceler Celso Amorim. O antecessor de Itamar
no posto, Andrea Matarazzo, também foi indicado politicamente pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas tinha ligações familiares e empresariais com a Itália. Por lá, organizou contatos
entre executivos brasileiros e italianos. Em vez de deprimir-se du-
rante seu mandato, só ficou triste quando teve de deixar um dos endereços mais belos e suntuosos da Europa para ceder o posto a Itamar. Antes de Matarazzo, a posição foi de um dos mais experien-
tes diplomatas brasileiros, o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, que chegou até a restaurar a fachada do Doria Pamphili, com
apoio de empresas brasileiras.
A Itália é hoje um dos principais parceiros econômicos do Brasil. O comércio bilateral movimenta US$ 3,5 bilhões por ano e as multinacionais italianas, como a Fiat, a Telecom Italia e a Pirelli,
estão entre os maiores investidores externos no País. Servir em
Roma, por si só, já seria o sonho dourado de qualquer embaixador.
O belo Palazzo Doria Pamphili apenas reforça a cobiça. A construção foi definitivamente adquirida pelo Brasil em 1960, no governo Jus-
celino Kubitschek, numa negociação conduzida pelo embaixador
Hugo Gouthier, que envolveu três navios com sacas de café, à
época avaliadas em 900 mil liras. O palácio tem nada menos que 20 mil metros quadrados construídos e várias obras de arte da
Renascença. Mas o ex-presidente Itamar hoje sente falta
das montanhas de Minas.