07/08/2002 - 7:00
O fantasma do apagão voltou a assustar o Brasil. Um novo racionamento de energia pode acontecer e já tem até data marcada: 2004. Isso porque boa parte dos investimentos anunciados durante o auge da crise da energia estão atrasados, ou completamente parados. Segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica, das 32 térmicas do Programa Prioritário, 22 estão com o cronograma atrasado. Apenas seis usinas a gás foram inauguradas. O problema é que esses empreendimentos levam de 18 a 24 meses para ficarem prontos. ?Se esses projetos começassem hoje, não
seriam acabados a tempo?, diz Orlando Gonzáles, presidente da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee). No setor hidrelétrico, a situação é pior ainda. Das 53 concessões para hidrelétricas, 14 estão atrasadas. Já nas pequenas centrais geradoras, as chamadas PCHs, dos 125 projetos, 89 ainda estão patinando. Todos esses atrasos não devem afetar o abastecimento de energia de 2002 e 2003. O problema é uma nova estiagem no fim do ano que vem, associada ao aquecimento da atividade econômica. ?Se faltar chuva no final de 2003 e a economia voltar a crescer, poderemos encarar um novo racionamento?, diz o professor Ildo Sauer, da USP.
São vários os motivos que estão causando a paralisação dos projetos de geração. Primeiro, a queda de 15% no consumo de energia, que se manteve mesmo depois do fim do racionamento. Só no Estado de São Paulo o consumo atingiu o nível de 1998. Isso criou uma situação paradoxal. Os investidores não tocam os empreendimentos porque temem que vá sobrar energia no futuro, o que derrubaria o preço do megawatt/hora. No entanto, se não houver investimentos, irá faltar energia. ?Existe uma falsa sensação de segurança?, diz o professor Maurício Tolmasquim, da UFRJ. Outra questão que aflige os investidores são as brechas regulatórias, que impedem a obtenção de financiamento. Para agravar ainda mais a situação, a Petrobras está revendo sua participação em obras termelétricas. A estatal participa de 16 projetos que deveriam estar concluídos até 2004. Quando finalizados, eles teriam capacidade instalada de 6,5 mil megawatts. Na quinta e sexta-feiras da semana passada, a empresa reuniu os maiores especialistas da área no Brasil para um encontro no Hotel Mirador, no Rio de Janeiro. O objetivo era discutir os rumos da Petrobras no setor energético, que pelo jeito não são muito animadores. É bom não aposentar definitivamente as lanternas.