GERDAU, VALE, Sabó… Um ranking com essa ordem logo desperta a curiosidade em relação ao terceiro nome da lista, que é a fabricante de autopeças já apontada como a terceira empresa brasileira mais ?transnacional?. Com receitas anuais de US$ 300 milhões, dos quais 43% são provenientes do Exterior, a Sabó só aparece no ranking porque possui uma qualidade muito especial. ?Temos apetite global?, diz Luiz Gonzalo, diretor-geral da empresa, que acaba de abrir dois escritórios na Ásia: um na China e outro no Japão. ?Com a globalização, passamos a adquirir para não sermos adquiridos, como ocorreu com a maioria das autopeças brasileiras?, reforça o executivo. Tudo começou em 1970, quando a empresa foi chamada pela Opel para fornecer o retentor do antigo Chevette. Ganhando a confiança das montadoras, a Sabó iniciou seu processo de internacionalização e, nos anos 90, fez suas primeiras aquisições, na Argentina e na Alemanha. Hoje, a multinacional é uma das cinco maiores empresas do mundo em vedação, com fábricas e centros comerciais em 11 países. ?A nossa presença em outros países também é estratégica porque as montadoras escolhem os fornecedores nos seus países de origem?, explica Gonzalo. ?Se não estivéssemos lá, não ganharíamos muitos contratos.?

Assim como a Sabó, as empresas brasileiras têm demonstrado um apetite global cada vez maior e uma das razões é a valorização do real, que aumenta o poder aquisitivo das companhias nacionais. Isso ajudou a Vale a comprar a mineradora canadense Inco e também contribuiu para que a Gerdau, que já era dona da Ameristeel nos Estados Unidos, fizesse outras aquisições importantes em 2007, como a compra da Chaparral. O grande destaque do ano, no entanto, foi o frigorífico Friboi, liderado pelo empresário Joesley Batista, que adquiriu a Swift por US$ 1,4 bilhão e se tornou o maior do mundo, com grande presença nos mercados mais importantes da carne no mundo, como Estados Unidos e Austrália.

Daqui para a frente, tais movimentos só tendem a crescer. De acordo com um estudo publicado recentemente pela Fundação Dom Cabral, em parceria com a Columbia University, os ativos no Exterior das 20 principais multinacionais brasileiras cresceram 112% entre 2005 e 2006, quando chegaram a US$ 56 bilhões. Juntas, elas fizeram do Brasil o segundo maior investidor externo entre os países em desenvolvimento e deram início a um outro fenômeno. Pela primeira vez, em 2006, o fluxo de saída de capital (US$ 28 bi) foi maior do que o de entrada (US$ 19 bi). Isso devido à aquisição da Inco, pela Vale, numa operação de US$ 19,4 bilhões. ?As empresas brasileiras, lideradas pela Vale, estão se tornando importantes atores no mercado mundial de investimento direto estrangeiro?, diz Karl Sauvant, diretor executivo do Columbia Program on International Investment. ?Esse é um desempenho extraordinário das principais multinacionais brasileiras. Levanta verdadeiros desafios gerenciais para elas, como a gestão do processo de internacionalização e das redes internacionais de produção e, ao mesmo tempo, contribui para um mundo mais sustentável?, acrescenta Emerson Almeida, presidente da Dom Cabral.

No ranking de internacionalização da Fundação, a Gerdau aparece em primeiro lugar porque 54% da sua receita vem de fora do País. Das dez maiores multinacionais, oito têm ações comercializadas tanto na Bolsa de Nova York quanto na Bovespa. O coordenador do Núcleo de Estudos de Internacionalização da FDC, Luiz Carlos Carvalho, explica que, sem o avanço para além das fronteiras, as empresas jamais teriam condições de auferir lucros bilionários, alavancar seus negócios e, no caso de empresas menores, crescer adquirindo outros ativos. ?Com a internacionalização,as empresas se tornam mais complexas, mais fortes e os produtos e serviços mais sofisticados?, diz Luiz Carlos. ?Acabamos com o complexo de cachorro magro, conquistamos credibilidade e capital mais barato. Não é um olhar ufanista, mas um olhar de quem vê uma janela de oportunidades.? A internacionalização também é vantajosa porque gera a permanência no país de origem dos empregos mais sofisticados e mais bem remunerados. Todos os CEOs das nossas 20 maiores multinacionais são brasileiros. Além disso, a expansão global fomenta os fornecedores locais. A Odebrecht, por exemplo, que lidera o ranking das multinacionais com mais de dez mil funcionários no Exterior, levou do Brasil para a Venezuela todos os componentes metálicos para a construção da segunda ponte sobre o rio Orenoco. ?Estamos levando materiais e equipamentos para mais de 20 países?, diz Roberto Dias, diretor de relações institucionais da Odebrecht. ?Lá fora, o nível de faturamento aumenta. Não podemos desperdiçar essas oportunidades, por isso a nossa vontade de expandir não tem limites.?