Ben Carson é tão discreto quanto o magnata Donald Trump é extravagante e, devido a isto, o neurocirurgião aposentado o alcançou nas pesquisas de intenção de voto para as primárias presidenciais republicanas nos Estados Unidos.

Benjamin Carson, de 64 anos, é o único negro na corrida presidencial e, assim como o bilionário Donald Trump, nunca exerceu qualquer mandato político.

Seu crescimento nas intenções de voto, até alcançar Trump em várias pesquisas de opinião, se deu como uma maré lenta, surpreendendo observadores e candidatos que não esperavam que este médico desajeitado, invisível nos debates televisivos, seduzisse um republicano em quatro.

Sua história pessoal é uma declinação ideal do sonho americano. Cresceu em bairros pobres de Detroit e Boston, criado por uma mãe analfabeta, casada aos 13 anos, que expulsou seu marido bígamo de casa.

Aos 14 anos, Ben Carson tentou esfaquear um menino. Se a lâmina da faca não tivesse quebrado na fivela do cinto de sua vítima, o republicano lembra que provavelmente estaria na cadeia ao invés de ser pré-candidato à Casa Branca, uma história que deixa sem palavras seu público conservador.

“Esta foi a última vez que tive um acesso de raiva”, contou em junho, em Washington.

O jovem Ben era mau aluno, incontrolável. Mas sua mãe o forçava, assim como a seu irmão, a ler dois livros por semana. As notas melhoraram e Ben Carson tornou-se um aluno modelo que acabou sendo aceito na Universidade de Yale, antes de cursar medicina na Universidade de Michigan e trabalhar no grande Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, onde dirigiu o setor de neurocirurgia pediátrica.

Ele se tornou um dos oito neurocirurgiões negros ao redor do mundo, segundo contou em um livro em 2007.

A operação que o tornou famoso ocorreu em 1987, quando ele separou, assistido por uma equipe médica de 70 pessoas, dois gêmeos siameses alemães com sete meses de vida unidos pela cabeça, uma intervenção de 22 horas e um primeiro caso de sucesso mundial, porque ambos os bebês sobreviveram.

Em 2008, George W. Bush concedeu-lhe a mais alta condecoração civil americana, a Medalha Presidencial da Liberdade.

Sua carreira médica também foi o tema de um filme em 2009, “Mãos Talentosas – a História de Ben Carson” (“Gifted Hands”, no original), com Cuba Gooding Jr. no papel do médico.

Ben Carson escreveu quatro livros, de ordem espiritual ou motivação pessoal, quando se aposentou em 2013 para embarcar no circuito conservador.

Tornou-se um orador muito procurado entre os ultraconservadores. No palco, ele exibe um leve sorriso, com um discurso suave pontuado por anedotas, piadas e trechos da Bíblia.

Promove a compaixão e defende a responsabilidade individual, um valor que o leva a denunciar o estado de bem-estar social, que segundo ele mantém propositadamente as pessoas na pobreza.

Apesar disso, Ben Carson cultiva algo de “politicamente incorreto”, e deixou muitos chocados com declarações provocatórias sobre a homossexualidade, a escravidão, o holocausto, as armas, a compatibilidade do Islã com Constituição dos Estados Unidos…

Em um discurso em 2013, afirmou que queria “reeducar as mulheres” sobre o aborto. Na ocasião também criticou duramente a reforma do sistema de saúde de Obama: “Obamacare é realmente a pior coisa que aconteceu a este país desde escravidão. E é, de certa forma, a escravidão, porque nos escraviza ao Estado”, disse ele.

Sua recente explosão nas pesquisas, especialmente em Iowa, foi impulsionada por seu sucesso com a base evangélica, onde vence o não-muito cristão Donald Trump.

Mas, assim como o bilionário, Ben Carson aproveita o clima anti-establishment.

“Eu não sou um político. Não tinha a intenção de me tornar um. Sou um homem normal”, reiterou no domingo, em mais passagem por uma igreja no Tennessee, diante de milhares pessoas.

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