03/12/2003 - 8:00
No início de sua carreira, Tiger Woods, o melhor golfista da atualidade, estipulou uma meta. Pregou um recorte de papel na parede do seu quarto com os recordes de Jack Nicklaus, o maior jogador da história. Seu único objetivo: alcançar os números do mito. Cada vez que Woods vence um campeonato, faz um pequeno rabisco no papel na esperança de ultrapassá-lo. ?Seria bom para o esporte se ele quebrasse meus recordes?, diz Nicklaus. ?Mas acho que ainda vai demorar alguns aninhos?, comenta com um ar de satisfação. As estatísticas são nítidas. Nicklaus ostenta seis títulos do Masters, o mais tradicional torneio do mundo ? Woods tem apenas dois. Ao abandonar o green profissional, há uma década, a lenda iniciou uma outra atividade, e nela também já é um dos grandes nomes: tornou-se arquiteto de campos de golfe.
Na semana passada, Nicklaus esteve no Brasil para dar uma de suas mais audaciosas tacadas. Anunciou a criação da Nicklaus Design Brazil em parceria com o empresário Ricardo Bellino, presidente da Trump Realty Brazil, do magnata Donald Trump. A empresa desenhará e construirá campos no País. Além disso, o Brasil receberá a primeira academia de golfe assinada pelo astro na América Latina. ?O potencial do mercado brasileiro é enorme?, diz Nicklaus.
O jogador, que já recebeu o título de golfista do século, está para o esporte como Juan Manoel Fangio para a Fórmula-1 ou Pelé para o futebol. A chegada de uma empresa com o seu nome é uma espécie de autenticidade de que o Brasil começa a entrar no circuito dos grandes campeonatos mundiais. O primeiro trajeto confeccionado por ele no País será inaugurado em 2006, em Itatiba, no interior de São Paulo. É o campo do condomínio de luxo Villa Trump. O local será a sede do Torneio Aberto de Golfe do Brasil, que passa a se chamar Trump Open pelos próximos 30 anos. ?Também queremos sediar uma das etapas do PGA?, diz Ricardo Bellino, da Trump Realty. Como ter um trajeto assinado por Nicklaus é o mesmo que possuir uma grife, as possibilidades de trazer um dos mais respeitados campeonatos do mundo são mais prováveis.
O fascínio que o jogador causa nos amantes do esporte impressiona. Na terça-feira 25, ele esteve na abertura do American Express Trump Open, o 53º Aberto de Golfe do Brasil, em Cotia, São Paulo. Lá, figurões da sociedade e empresários de calibre deixaram a pompa de lado e atacaram de tietes. Corriam atrás de Nicklaus em busca de um simples aperto de mão ou de um autógrafo. As pessoas exibiam a assinatura do mito como se estivessem com um troféu nas mãos. Mas para ostentar o grifo de Nicklaus em um campo custa caro. O mercado estima que ele ganhe US$ 1 milhão por projeto. Detalhe: ele já criou 250 campos em mais de 30 países. A atividade requer a astúcia de um jogador e a sabedoria de um arquiteto. São necessários cerca de 5 anos para transformar o esboço em realidade. O trabalho completo custa, em média, US$ 5 milhões.
Para que um campo seja considerado excelente ele deve ter 18 buracos e apresentar uma integração de vários fatores, como traçado, relevo, qualidade da grama, drenagem e a natureza do local. O terreno, por exemplo, deve ter cerca de 600 mil m2, o equivalente a 80 campos de futebol. A melhor grama é a originária da África. A localização deve ser planejada com extremo cuidado para que os ventos fortes não influenciem nas jogadas. Mas o fator crucial para o sucesso de um campo de golfe é estar de acordo com as leis ambientais da região. ?Tem de se adaptar às regras de cada cidade?, diz Pedro Cominese, presidente da Confederação Brasileira de Golfe (CBG). Atualmente existem 100 campos espalhados pelo Brasil. ?Há quatro anos tínhamos apenas 60?, diz Cominese. Apesar do crescimento, ainda é um número ínfimo. Nos EUA, por exemplo, há milhares de percursos e a indústria em torno do esporte movimenta US$ 62 bilhões por ano. Levado a indicar o melhor campo do planeta, Nicklaus sorri, abandona temporariamente a modéstia e responde: ?Ah! Um dos 250 que eu já criei?.