A loja principal da grife Louis Vuitton, do grupo LMVH, o principal conglomerado de luxo do mundo, parece mais um museu de arte e moda do que uma unidade de varejo. Localizada na avenida Champs-Elysées, um dos endereços mais glamourosos do mundo, a movimentada butique, que funciona de domingo a domingo, é um dos símbolos da arquitetura do luxo contemporâneo. Seu idealizador, o arquiteto americano Eric Carlson, 52 anos, no entanto, entrou no mundo do luxo por acaso. “Quando me chamaram para trabalhar no grupo LMVH, nem tinha certeza se deveria aceitar”, diz Carlson.

“Não entendia nada de sofisticação.” À primeira vista, Carlson é uma pessoa humilde. Gosta de atribuir o êxito que obteve em sua carreira ao simples acaso. Foi tudo uma questão de estar no lugar certo na hora certa, segundo ele. Sua história e seu currículo, entretanto, derrubam a hipótese de sucesso acidental. No Brasil, Carlson já assinou projetos emblemáticos, como o shopping JK Iguatemi, na capital paulista, considerado a nova meca do luxo do País, várias unidades da rede de joalheria H.Stern e o sofisticado restaurante paulistano Tre Bicchieri.

Sua jornada por aqui, ao que tudo indica, ainda será longa. Contratado pela família Jereissati, controladora do grupo Iguatemi, ele projetará novos empreendimentos da companhia nos próximos anos, como novos centros comerciais e lojas de outlet premium. Todos os projetos são mantidos em sigilo por uma regra contratual. Sabe-se, no entanto, que graças à demanda do crescente mercado de luxo brasileiro, Carlson pretende turbinar seu escritório no bairro paulistano dos Jardins, uma espécie de sucursal de sua empresa, a Carbondale, sediada em Paris. “Temos projetos bastante complexos no Brasil”, diz.

“Por isso, aprimorar nossa estrutura física por aqui é fundamental para nos relacionar melhor com nossos clientes e fornecedores.” Uma das características de Carlson é sua capacidade de adaptar projetos sofisticados a qualquer tipo de ambiente, seja uma concessionária de veículos, seja um aeroporto ou mesmo um museu. “A metodologia dos projetos de luxo pode ser replicada para outros mercados”, diz Ênio Moro Júnior, coordenador de arquitetura da Faculdade Belas Artes. “Carlson pode repetir seu trabalho em grandes obras de infraestrutura, algo que o Brasil necessita hoje em dia.”

Luxo e sofisticação não significam, necessariamente, projetos caros ou voltados apenas para consumidores endinheirados. Segundo o próprio Carlson, uma arquitetura luxuosa pode estar escondida em uma obra exclusiva. “Os escritórios de arquitetura premium são os que mais inovam”, diz Moro Júnior. A afinidade de Carlson com o compasso vem de longe. Nascido na pequena cidade de Ann Arbor, no Estado industrial do Michigan, decidiu cursar arquitetura na faculdade por gostar, desde pequeno, de matemática e de desenhar. “Meu pai sempre me aconselhou a estudar o que gostava”, diz ele, um aficionado por aventuras profissionais.

Sem medo de mudar de endereço, passou por escritórios em Washington, São Francisco, Barcelona, Amsterdã e Tóquio, até criar raízes em Paris, em 1991. “Cheguei à cidade com uma mão na frente e outra atrás, sem saber uma palavra de francês”, diz. “É nessas horas que me lembro como eu era meio louco.” O arquiteto conta que foi um headhunter que indicou seu currículo para o grupo LMVH, dono de um faturamento de € 21 bilhões, entre janeiro e setembro de 2014. A companhia francesa procurava um profissional com experiência no exterior para a criação de um departamento de arquitetura interno.

Nos anos 1990, época em que as receitas do grupo explodiam, a Louis Vuitton necessitava de lojas cada vez maiores e luxuosas. Carlson não só ajudou a criar o departamento como se tornou diretor da empresa. Após nove anos na grife francesa – e depois de ter adquirido uma experiência singular no mundo do luxo –, decidiu abrir seu próprio escritório, o Carbondale, em 2004. “Eu queria diversificar meus projetos e clientes”, diz. Clientes nunca foram um problema para Carlson, segundo ele.

“No luxo, você não procura consumidores, eles vêm atrás de você”, diz. Durante estes dez últimos anos, a Carbondale conseguiu uma carteira invejável de clientes. Carlson assinou projetos como o Museu 360º da alta relojoaria suíça Tag Heuer, em La Chaux-de-Fonds, a fachada da joalheria Tiffany de Tóquio e a principal loja da BMW em Paris, além da badalada butique da Louis Vuitton na Champs-Elysées, pela qual já foi premiado pela Associação Francesa de Construção Metálica, em 2006, devido ao design interior do estabelecimento. “Espero repetir o mesmo sucesso em terras brasileiras”, afirma.