18/02/2019 - 10:55
A dona de casa Cristina Aparecida Soares, de 34 anos, tenta preencher o vazio deixado pela morte da filha Geovanna Crislaine Soares da Silva, de 17 anos, mobilizando as redes sociais contra o feminicídio. Além de pedir justiça, ela quer o fim da lei que impede a prisão no período eleitoral, mesmo em caso de crimes graves. Geovanna foi assassinada pelo ex-namorado em 27 de outubro de 2018, em Votorantim, na véspera do segundo turno das eleições. O rapaz se apresentou à polícia e assumiu o crime, mas não ficou na cadeia – como ele se entregou 12 horas após o crime, não foi configurado flagrante. Pela lei, ninguém pode ser preso, a não ser em flagrante, cinco dias antes nem 48 horas depois do pleito.
Cristina conta que velava o corpo da filha quando soube que o assassino tinha sido liberado. “Ele saiu pela porta da frente, como se nada tivesse acontecido. Fiquei tão revoltada que postei em rede social, e muita gente me deu razão. É inaceitável uma lei que mantém na rua o autor de crime hediondo, não importa se tem eleição ou não. Nada justifica.” Rapidamente a página “Justiça pela Geovanna e todas as mulheres que passaram por crimes brutais”, no Facebook, atingiu 1,2 mil seguidores.
À mãe, não bastou. Ao saber que o inquérito estava parado em razão das férias da delegada, ela confeccionou camisetas com a foto da filha e foi com um grupo à frente da delegacia. Depois, rumou até o fórum e falou com o promotor criminal. A ordem de prisão foi expedida.
Agora, a mãe acompanha o processo, posta o andamento na internet e espera a data de julgamento. “Não é possível que mulheres e meninas sejam assassinadas assim. O pior é que o assassino viveu três anos dentro de casa, tratado como um filho.”
O acusado do crime, Jackson da Silva Santos, de 21 anos, morava no mesmo bairro e era tido pela família dela como um rapaz bom. “Ele trabalhava numa reciclagem e passaram a se encontrar, depois o relacionamento ficou mais sério. Com o passar do tempo, ele começou a beber demais, até que minha filha deu um basta”, afirma a mãe.
Recorrente. Ela diz que Santos não aceitava a separação e havia tentado matar sua filha alguns dias antes, mas a menina não contou. “Quando o celular dela voltou da perícia, achamos um áudio em que ele, aparentemente bêbado, pedia perdão. Ela respondeu: ‘Você quase me matou, tapou a minha boca, quase desmaiei’. Se ela tivesse falado ou a gente tivesse visto…”
Foi um vigia que surpreendeu Santos perseguindo a jovem e desferindo facadas, numa estrada no bairro vizinho. O rapaz fugiu, deixando o carro no local. Conforme a mãe, sua filha foi morta com 11 facadas. A defesa do rapaz, que está preso, informou que só se manifestará no processo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.