15/10/2003 - 7:00
Na última semana, uma manobra hostil dos fundos de pensão das estatais surpreendeu o mercado. Na segunda-feira 6, as fundacões conseguiram afastar o Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, da gestão do fundo CVC Equity Partners FIA, sob a alegação de quebra de confiança. Tal fundo é um dos principais acionistas de uma jóia da telefonia brasileira: a Brasil Telecom, que tem 10 milhões de clientes e R$ 8 bilhões de faturamento. Temporariamente, o Opportunity cederá lugar à BB-DTVM, distribuidora de valores do Banco do Brasil. A mudança, comemorada nos fundos, foi recebida com apreensão entre investidores nacionais e estrangeiros. Isso porque, desde a privatização, as empresas geridas pelo Opportunity vêm apresentando bons resultados. A Brasil Telecom, por exemplo, deverá lucrar cerca de R$ 600 milhões em 2003. ?Do ponto de vista dos acionistas minoritários, é melhor que o Opportunity continue à frente da empresa?, disse Rizwan Ali, analista do banco de investimentos Bear Stearns.
Na prática, porém, a Brasil Telecom ainda continua nas mãos de Dantas, uma vez que outro fundo, do Opportunity e do Citibank, chamado de CVC Equity Partners LP, tem o controle da companhia. Por isso, os fundos de pensão querem agora convencer o Citi a fazer o mesmo e afastar Dantas dos seus negócios. A estratégia foi revelada por Sérgio Rosa, presidente da Previ, ligada ao Banco do Brasil. Caso prevaleça, a empresa seria gerida pelas fundações e pela Telecom Italia, outro acionista da Brasil Telecom. A batalha, porém, é muito mais difícil porque, graças ao bom desempenho da Brasil Telecom, o Citi já manifestou estar de acordo com a gestão de Dantas. ?O Opportunity tem o apoio de outros parceiros e continua no controle?, avaliou Patrick Grenham, analista de telecomunicações do Citigroup. A Brasil Telecom, por exemplo, vem sendo muito mais lucrativa do que a Telemar, onde a participação dos fundos e do BNDES é relevante no capital total, embora insignificante na gestão.
De modo geral, o que os fundos de pensão viram como vitória foi percebido no mercado como um risco para os acionistas da Brasil Telecom e para as próprias fundações. Isso porque, de acordo com analistas, a administração de Dantas tem também preservado interesses dos investidores minoritários. ?O Opportunity tem conseguido isolar a Telecom Italia do comando, e os interesses dos italianos não convergem com os da Brasil Telecom?, ressaltou Rizwan Ali, do Bear Stearns. Tanto na Itália como no Brasil, a Justiça investiga a compra da Companhia Riograndense de Telecomunicações pela Brasil Telecom por US$ 850 milhões, em 2001. Isso porque dois executivos da Previ, Henrique Pizzolato e Antônio Luiz Freitag, denunciaram o superfaturamento do negócio, em até US$ 250 milhões, por pressão italiana. Além disso, caso a Telecom Italia e os fundos de pensão assumam a Brasil Telecom, a empresa ficaria, de acordo com as regras do governo, impedida de operar serviços de telefonia celular, para os quais adquiriu uma licença. Isso porque os italianos têm uma empresa que atua na mesma região: a TIM. O que se comenta no mercado é que, num afastamento do Opportunity, haveria o risco de a TIM, empresa 100% da Telecom Italia, ser incorporada pela Brasil Telecom, onde os italianos têm 6% do capital. Ou seja: a conta da aquisição seria repartida entre os milhões de acionistas da operadora brasileira.
O mercado também enxergou outro risco. Os contratos entre o Opportunity e os investidores prevêem uma estratégia conjunta de saída. Ou seja: se a Brasil Telecom fosse vendida, o comprador teria de adquirir os dois CVC: o dos fundos e o do Citi. Era uma forma de dividir o prêmio de controle. Agora, como o Opportunity não administra mais o CVC nacional, a participação dos fundos
poderá valer menos. Numa venda da empresa, ainda gerida pelo Opportunity, os fundos de pensão não teriam prêmio algum. ?O cenário provável é a venda da participação da Telecom Italia para o Opportunity, mas eles estão tentando criar barulho para elevar o preço?, escreveu o analista Rodrigo Pereira, do Pactual. Não custa lembrar que o mesmo aconteceu em outra disputa, a da Telemig Celular. Os fundos de pensão aliaram-se à canadense TIW para afastar Dantas, mas, no fim da história, ficaram sós. Isso porque a TIW cedeu e vendeu as ações ao Opportunity.
A estratégia adotada pelos fundos de pensão ainda pode ser contestada na Justiça. Isso porque a destituição do gestor, de acordo com o regulamento do fundo, exige 90% dos votos. Na assembléia de investidores, porém, a Previ propôs que a Sistel, fundo das empresas de telefonia, fosse impedida de votar. Como a Sistel tem 17%, a destituição ocorreu sem o quórum previsto. ?Em 30 anos de mercado, nunca vi algo assim?, disse Paulo Aragão, advogado do Opportunity. ?A maioria se impôs ao arrepio da lei, como acontecia nos tempos do Soviet Supremo.?