20/12/2006 - 8:00
No início do século XX, o arquiteto e urbanista inglês Barry Parker (1867- 1947) se destacou por criar o conceito de Cidades Jardins, no qual as áreas construídas harmonizavam com espaços verdes. Em 1902, com esse ideal, Parker ajudou a projetar e implantar os bairros paulistanos de Jardim América, Alto da Lapa, Pacaembu e Butantã. Depois de 1913, contudo, nenhum outro projeto desse tipo foi feito e a cidade cresceu desordenadamente. Quase 100 anos depois, surge uma nova proposta para a capital paulista. Trata-se do Campos São Paulo, um condomínio fechado com status de bairro, que será lançado em 2007, próximo ao Parque Burle Marx, zona sul da cidade. Inspirado nas idéias de Parker, ele abrigará 32 torres residenciais de oito andares, um shopping com mais de 20 lojas, supermercado e restaurantes, prédio comercial com 23 andares, campo de golfe, ciclovia e uma gigantesca área verde. Tudo isso em uma área de 260 mil metros quadrados, o equivalente ao bairro nobre da Vila Nova Conceição, também na zona sul.
Com um investimento de R$ 1 bilhão e previsão deconclusão para 2011, o projeto é coordenado pela construtora Tecnisa em conjunto com as gestoras imobiliárias Maxcap e Bueno Netto. ?Ele é mais do que um empreendimento?, diz José Paim de Andrade Jr., sócio da Maxcap, empresa de gestão imobiliária. ?É um bairro que resgata a qualidade de vida.? Para tornar isso realidade, o escritório de arquitetura Aflalo & Gasperini foi contratado com a missão de desenhar o empreendimento minuciosamente. Do total do terreno, apenas 12% será usado para construção ? o que garante uma gigantesca área verde com quase 230 mil metros quadrados. Tudo será feito de modo a não agredir o meio ambiente. ?Teremos uma estação de tratamento de esgoto, usaremos materiais orgânicos nas construções e toda água do jardim será reaproveitada?, diz Adalberto Bueno Netto, presidente da Bueno Netto, empresa de gestão imobiliária. Mais: paisagistas e ornitólogos foram contratados para trazer de volta ao Campos a fauna e a flora que estavam extintas. Apesar das características inovadoras, há quem discorde desse tipo de projeto. ?Não vejo isso como um bairro, mas sim como um gueto para milionários?, diz João Setti, professor de urbanismo da USP e do Mackenzie.
Ele é, de fato, um empreendimento isolado, guardado por um séquito de seguranças e câmeras por todos os lados. Não é para menos. Os valores dos 447 apartamentos, com áreas que vão de 276 m2 até 1.020 m2, variam de R$ 1,9 milhão a R$ 7,1 milhões. Aliás, os apartamentos mais caros serão comercializados pela inglesa Sotheby?s. Erguidos em pedras naturais e com amplas varandas de vidro, cada apartamento tem uma raia semi-olímpica com 25 metros de extensão. Os moradores do Campos São Paulo também terão à disposição heliponto, 700 vagas de estacionamento e três clubes de lazer: o Club House, o Family Club, e o Racquet Club, com quadras de squash e tênis, academia, spa, piscinas olímpicas e pistas para a prática de cooper. Sem contar o campo de golfe com 125 mil metros quadrados. Projetado pelo renomado arquiteto americano Randall Thompson, o gramado terá nove buracos e iluminação noturna. O campo de golfe em um empreendimento, segundo dados da pesquisa Golf Research Group, elaborada pelo instituto americano Urban Land Institute, valoriza o imóvel em até 80%. A pesquisa, que analisou o mercado imobiliário nos Estados Unidos, aponta que, nos últimos cinco anos, o preço médio de uma residência integrada a um campo de golfe subiu 62%, enquanto o preço dos outros imóveis saltou 40%. No Brasil, essa tendência promete se repetir. Afinal, o número de praticantes desse esporte cresce cerca de 12% ao ano. Além disso, mesmo que as pessoas não sejam adeptas do golfe, optam pela paisagem. ?Assim, o Campos São Paulo torna-se a melhor opção de investimento no mercado imobiliário?, diz Bueno Netto. É, sim, uma tacada audaciosa, mas não é garantia de sucesso.