O mundo da moda é frequentemente influenciado pelo contexto socioeconômico e vice-versa. A roupa, mais do que uma proteção contra o frio, representa aquilo que as pessoas são ou gostariam de ser. Um bom exemplo disso é a revolução provocada pela minissaia, criada pela estilista britânica Mary Quant nos anos 1960, que logo se transformou no símbolo fashion da efervescência cultural de Londres no período. Os varejistas de moda que não ficarem atentos a essas tendências estão fadados a verem suas marcas caírem no esquecimento. Atenta à necessidade de se reinventar continuamente, a Riachuelo, terceira maior empresa do setor de vestuário no Brasil, com um faturamento de R$ 3,3 bilhões no ano passado, está investindo na reestilização da sua marca.

Após 15 anos, a empresa vai alterar seu logotipo. “Nosso consumidor mudou”, afirma Flavio Rocha, presidente da rede. “Cada vez mais ele quer comprar moda, e não apenas preço.” A necessidade de rever a identidade visual da varejista veio, segu ndo Rocha, das mudanças socioeconômicas pelas quais o Brasil tem passado nas últimas décadas, em especial a ascensão da classe média. Com foco nesse público, a Riachuelo vem se beneficiando do aumento do poder de compra das classes menos favorecidas. Esse consumidor, que antes era muito sensível aos preços, hoje tem aspirações maiores.

“Antes da democratização do poder de compra, veio a democratização da informação”, afirma Rocha. “Nosso consumidor é muito antenado, gosta de moda e está sempre à procura das últimas tendências.” A chegada de grandes redes multinacionais de varejo ao País, como a inglesa TopShop e as americanas GAP e Forever 21, mostra que o mercado brasileiro de moda está amadurecido e que há uma demanda por roupas mais fashion. Segundo dados da empresa de pesquisa Ibope, o setor de vestuário deve movimentar, neste ano, R$ 138 bilhões no Brasil.

“Nosso consumidor mudou. Cada vez mais, ele quer comprar moda, e não apenas preço”
Flavio rocha, presidente da Riachuelo

A tarefa de mudar a cara da empresa ficou a cargo da TEMPODESIGN, escritório do designer Ricardo van Steen, que já havia criado a identidade visual da marca Pool, pertencente à Riachuelo. Van Steen focou nas redes sociais e na forma como os jovens se expressam atualmente para criar o novo logotipo. “A abreviação de palavras é muito utilizada”, afirma o designer. “Isso facilita a comunicação.” Após diversos exercícios de redução de letras, surgiu a RCHLO, uma abreviação da palavra Riachuelo, mas que não pode ser pronunciada de outra forma. A nova grafia já está sendo utilizada nas sacolas de compras e nos cartões de crédito da varejista.

Em um prazo de dois anos, todas as lojas da rede devem receber novas fachadas com o logotipo. “Por ser mais curta, a palavra RCHLO tem muito mais força em uma fachada”, diz Van Steen. “O uso de letras maiúsculas faz referência ao crescimento da Riachuelo e à sua importância hoje no mercado.” O público recebeu bem a mudança. “Muita gente curtiu, em especial o cartão de crédito, e muita gente ficou curiosa, perguntando sobre o que estava acontecendo”, afirma Rocha. “A indiferença, que é o pior sentimento que você pode encontrar, não aconteceu.” Para Van Steen, uma marca, especialmente de moda, não pode ficar à mercê de tendências passageiras nem se perder com o tempo.

“Para isso, ela precisa ser simples, direta e ter charme”, afirma o designer. “E também alguma particularidade que a torne inesquecível e desejada.” Além de ter criado a identidade da marca Pool, Van Steen esteve envolvido em projetos de outros varejistas, como a C&A e a Marisa, para a qual sua agência criou o slogan “De Mulher para Mulher”. O projeto da Riachuelo faz parte de um plano de Rocha, anunciado em 2012, de dobrar o tamanho da companhia até 2016. Para isso, ele vai investir R$ 500 milhões este ano na reforma e na abertura de lojas. Atualmente, a varejista possui 213 pontos de venda.