RICARDO STEINBRUCH, PRESIdente do Banco Fibra, destoa do figurino do banqueiro tradicional. Enquanto os figurões do mercado financeiro trocaram a cartola e a casaca pelo terno e gravata, ele deixou a formalidade de lado e adotou o jeans no cotidiano corporativo. Não era para menos: Steinbruch também comanda a fabricante de tecidos Vicunha Têxtil, maior empresa do setor na América Latina, e gosta de fazer propaganda do próprio produto. Mais conhecido como industrial do que como banqueiro, ele prefere ficar longe das reuniões da Febraban. E dos holofotes. “Adoro ir a um restaurante e não ser reconhecido”, diz à DINHEIRO, como quem desfruta de um privilégio negado ao irmão Benjamin, o famoso presidente da CSN.

A siderúrgica da família, uma empresa com valor de mercado superior a R$ 50 bilhões, é uma gigante comparada ao Fibra, instituição com capital de R$ 800 milhões. Mas isso não quer dizer que o banco do grupo Vicunha, o nono maior dentre os privados nacionais, está fadado a ser pequenino para sempre. Se o Banco Itaú prevaleceu sobre as indústrias das famílias Setubal e Villela e se o Banco Votorantim ganhou estatura no conglomerado dos Ermírio de Moraes, por que o Fibra não seguirá o mesmo caminho? “A gente arrumou o banco para crescer”, diz Steinbruch (leia entrevista na pág. 78), sem aparentar, no entanto, pretensões de ofuscar a estrela da CSN.

Os planos de crescimento incluíam captar até R$ 500 milhões com uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) na Bovespa, em 2007. Mas o humor do mercado virou e a operação foi cancelada. Em vez disso, o grupo fez um aumento de capital de R$ 275 milhões e ganhou um novo acionista: a International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, que comprou 7,9% do banco. “É o único investimento em equity (ações) do IFC no Brasil”, lembra Osias Brito, vice-presidente executivo e responsável pela gestão financeira do Fibra. Ex-diretor do Unibanco, Brito é um dos quatro pilares da equipe montada por Steinbruch para tocar o Fibra. Os outros três são os vice-presidentes Maercio Soncini, de atacado, Marcio Ronconi, de varejo, e Cássio Von Gal, diretor financeiro e internacional.

TRIUNVIRATO: Brito, Soncini e Ronconi, os vice-presidentes que tocam o Fibra no dia-a-dia

Os quatro recebem a autonomia necessária para comandar o banco no dia-a-dia. “Participo do comitê executivo uma vez por semana e delego a gestão”, afirma. A estratégia, voltada principalmente para o crédito a empresas de médio porte e ao consumidor, tem sido bem-sucedida. Desde 2004, a carteira de empréstimos cresce a uma taxa média anual de 47%. Alcançou R$ 5 bilhões no primeiro semestre de 2008. O lucro líquido subiu para R$ 60 milhões, com um retorno de 26% anuais sobre o patrimônio líquido. A inadimplência (créditos vencidos há mais de 90 dias) caiu para 0,7% dos ativos totais. “Fazemos uma gestão conservadora e com muito controle de riscos”, afirma Soncini. Se depender do banqueiro Steinbruch, o andar da carruagem será mantido. Mas sem aventuras no caminho. “Aqui não tem porralouquice”, diz ele. Mais informal, impossível.

“NUNCA ME SENTI BANQUEIRO”
Ricardo Steinbruch, presidente do Fibra, recebeu a DINHEIRO na segunda-feira 8. Principais trechos da entrevista:

DINHEIRO: Quais são os planos?
RICARDO STEINBRUCH: A gente arrumou o banco para se posicionar no mercado e crescer. Estamos muito otimistas. Vai ter briga por espaço. Vamos continuar no mercado, olhando oportunidades e crescendo organicamente. Estamos num momento muito bom.

DINHEIRO: Pensam em adquirir outro banco para crescer? STEINBRUCH: Queremos crescer da maneira mais consciente e menos arriscada possível. Somos muito conservadores. Não vamos tomar nenhuma medida que possa prejudicar o futuro do banco.

DINHEIRO: Como será o papel do Fibra no grupo Vicunha em dez anos?
STEINBRUCH: Queremos que a importância do banco cresça cada vez mais no grupo.

DINHEIRO: O sr. gosta do mercado financeiro?
STEINBRUCH: Sempre gostei. Fui estagiário daquele rapaz (aponta para o vice-presidente Maercio Soncini) no banco Francês e Brasileiro. Foi meu primeiro emprego. Naquela época, gostava tanto que forcei meu pai a abrir o banco. É uma boa diversificação.

DINHEIRO: Qual é sua visão do risco desse negócio? O Brasil tem uma das taxas de juros mais altas do planeta.
STEINBRUCH: Nunca tivemos um ambiente macroeconômico tão bom como agora. A perspectiva não é de uma piora. Se olharmos o passado, é inegável o progresso consistente e enorme. Isso só nos leva a ser mais otimistas. Os empresários brasileiros sempre foram otimistas e sempre investiram.

Isso faz toda a diferença. O pessoal vai precisar de financiamento e o mercado vai crescer. O consumo também. Nunca passamos tão bem por uma crise internacional.

DINHEIRO: Esse cenário é sustentável?
STEINBRUCH: Sim. Nenhum governo que entrar vai querer pôr em risco a estabilidade. É óbvio que existem desafios, temos um déficit nominal ainda grande. Se o governo endereçar isso, lá na frente as taxas de juros vão cair.

DINHEIRO: O que acha de Dilma Rousseff para presidente? STEINBRUCH: O empresário não se mete em política, vai de acordo com as mudanças. Em qualquer governo, tem que ter a visão nacional de longo prazo.

DINHEIRO: Como banqueiro, quem o sr. admira?
STEINBRUCH: Nunca me senti banqueiro. Meu coração é dividido, não sou 100% banqueiro nem 100% industrial. Tenho visão de empresário. Exemplos não faltam: Olavo Setubal, Amador Aguiar.

DINHEIRO: Ficou chateado com o cancelamento do IPO? STEINBRUCH: Para falar a verdade, não. Não estávamos preparados para o IPO na época do boom. Quando tive certeza que sim, a onda passou. Outras ondas virão e vamos ver se nos interessa ou não. Com esse mercado (em baixa), não tenho de dar satisfação a ninguém como está minha ação. A nossa rentabilidade, que vem crescendo, é a nossa resposta para esse momento. A capitalização mostra a crença dos acionistas no banco.