18/09/2002 - 7:00
Bastava pisar naquele barco para virar notícia no jet-set internacional nas décadas de 50 e 60. Tratava-se de um mundo à parte, onde magnatas, governantes poderosos e celebridades de Hollywood regozijavam-se da boa comida, boa bebida e dos fantásticos contatos proporcionados pelo anfitrião, que adorava exibir sua opulência. ?Um milionário deve sempre viver um pouco além de suas posses para manter a credibilidade?, dizia o armador grego Aristóteles Onassis. Esse não era o caso de Ari, como era chamado por seus amigos, pois dinheiro era o que não lhe faltava. Mas, em sua época, se essa credibilidade da qual falava tivesse um sinônimo nada se encaixaria tão perfeitamente como o seu iate: o Christina.
Agora não é preciso ser influente ou celebridade para pisar a bordo da embarcação de 325 pés. Basta pagar US$ 70 mil para tê-lo por um dia. Depois da morte de Onassis, em 1975, o barco foi doado ao governo grego. E em 1998, ele foi vendido para o também milionário John Paul Papanicolau, em conjunto com a empresa de turismo Tauck World Discovery. Foram gastos US$ 50 milhões na reforma, a mais cara da história, para reproduzir fielmente o mesmo ambiente da época. Cada suíte de 50 m2, por exemplo, leva o nome das ilhas preferidas de Onassis como Skorpios, no mar Jônico, e conta, além do clima nostálgico, com moderno sistema de CD e DVD. Os banheiros? Todos em mármore. O ápice fica por conta do apartamento onde Onassis, de 1,60 m e não muito conhecido por sua beleza, desposou as mulheres mais desejadas do planeta. Ali, nos 220 m2 divididos em três salas, vista panorâmica para o oceano, abajours Baccarat e torneiras de ouro, renderam-se aos seus encantos divas como a cantora lírica Maria Callas, a atriz Marilyn Monroe e a ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Jacqueline Kennedy. ?Se as mulheres não existissem, todo o dinheiro do mundo não teria sentido?, dizia ele.
Couro de baleia. Poucos
homens conseguiram brilhar no cenário internacional como
Onassis. Extremamente audacioso e sedutor, o magnata era temido por seus inimigos e amado por seus amigos. E nesse quesito foi um exímio colecionador. Não era difícil ver no bar do Christina, ambiente que reflete a personalidade excêntrica do armador, figuras ilustres que se chocavam ao saber que os bancos eram revestidos em couro de baleia. Foi lá, por exemplo, que o ex-presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, conheceu o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill.
Não se tratava apenas de viajar em um barco cheio de luxo e modernidade. Ali era o lugar para ver e ser visto. O cantor Frank Sinatra, os magnatas John D Rockefeller e Paul Getty, o rei Farouk, do Egito, e uma extensa constelação desfilaram pelo convés do Christina. Os atores Elizabeth Taylor e Richard Burton, por sua vez, preferiam a serenidade do Lapis Lounge onde, nas noites frias, acendiam a lareira feita com a pedra semi-preciosa lapis lazulli para se aquecerem. Os agitos também eram intermináveis. O megaiate do magnata foi o palco de duas das mais badaladas festas do século passado: o casamento do príncipe de Mônaco Rainier com a atriz Grace Kelly e o próprio casamento com Jacqueline Kennedy, viúva de John Kennedy. Nessas ocasiões, a piscina adornada com um mosaico idêntico ao visto no palácio de Minos, em Creta, se tornava uma pista de dança. Com um simples apertar de botão, ela submergia como num passe de mágica.
Outros artifícios foram usados para impressionar seus visitantes e demonstrar o seu poder. A escadaria, que interligava todos os quartos, tinha um corrimão confeccionado em onix e prata. Era possível pousar qualquer helicóptero no iate e a sala de jantar era imensa: cabia 40 pessoas. Hoje tudo ainda está lá, peça por peça. Somente algumas modificações foram feitas. Uma sala de estar recebeu o nome de Callas
Lounge, em homenagem à diva. Mais de 36 funcionários foram contratados para atender cada um dos 36 hóspedes. Um spa
com academia, salão de beleza e centro de massagem foi
instalado. Para entreter os hóspedes foram reformuladas a
biblioteca com títulos em vários idiomas, uma sala de música e um quarto de brinquedos para crianças.
O Christina foi o símbolo do poder do homem mais rico do planeta. E para transformá-lo em tal, Onassis não economizou um centavo sequer. Comprou-o em 1954 da Marinha canadense e desembolsou US$ 4 milhões (uma fortuna para a época) para tornar aquela corveta de guerra no primeiro megaiate dos tempos modernos. Batizado com o nome de sua filha, foi ao mesmo tempo sua casa e seu ambiente de trabalho. Onde passou suas alegrias e amarguras e onde a história está presente da popa à proa até hoje.