O cargo mais sensível da futura equipe econômica de Dilma Rousseff é a presidência do Banco Central (BC). Quem vier a ocupar a ampla sala no 20° andar do prédio do BC em Brasília estará encarregado de duas tarefas cruciais para o bom funcionamento da economia. Uma, mais formal, é a de preservar o valor da moeda e a estabilidade dos preços. A outra, mais relevante, é a de gerir as expectativas do mercado financeiro. Nos oito anos em que esteve à frente da instituição, Henrique Meirelles desempenhou ambas com maestria. A comparação simples de dois indicadores mostra claramente esse fato. Quando Lula foi eleito, no fim de 2002, os investidores exigiam juros de 24% ao ano acima da taxa paga pelos títulos do Tesouro americano para investir no Brasil. Na eleição de Dilma, essa exigência – o Risco Brasil – havia caído para 2%.

 

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Sede do BC em Brasília: O cargo mais sensível de Dilma e que deu a Lula tranquilidade em oito anos

 

Em 2002 um dólar custava R$ 3,89 e discutia-se acaloradamente o impacto da depreciação do real na inflação. Hoje, um dólar custa R$ 1,68 e discute-se o impacto da apreciação do real sobre as exportações. Meirelles só não conseguiu cumprir uma tarefa: trazer os juros brasileiros para padrões internacionais – o que será a grande missão do BC na era Dilma. 

 

O cargo de Meirelles, no entanto, não está vago e ele tem boas chances de permanecer. Sua relação com a presidente eleita é boa – ele teria sido vice-presidente se o PMDB, partido ao qual se filiou, tivesse aprovado seu nome. Mas, depois de oito anos no BC, é possível que Meirelles busque novos desafios. 

 

Nesse caso, o nome mais cotado dentro do governo é o de Luciano Coutinho, atual presidente do BNDES. No caso da vinda de alguém de fora, as apostas apontam para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Como azarão, corre por fora Alexandre Tombini, diretor de normas do BC. 

 

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Há sinais de que Henrique Meirelles, que era o vice dos sonhos de Dilma,

pode continuar no cargo. Mas ele quer?

 

É em horas assim que os economistas traçam cenários. O mais provável é benigno. Uma política econômica muito parecida com a atual, com uma leve contenção dos gastos públicos. Nesse caso, os juros cairiam gradativamente. O pior e mais improvável cenário é o de os gastos públicos permanecerem elevados e o BC ser pressionado para baixar os juros de forma voluntarista. Isso uniria gastos com expansão monetária, uma receita infalível para acelerar a inflação. 

 

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Qualquer que seja o indicado, ele terá uma missão mais simples que a de Meirelles em 2002, mas comparativamente mais arriscada. Ao assumir o BC, Meirelles tinha a ingrata missão de convencer o mercado de que Lula havia esquecido suas críticas ao sistema financeiro. A única tarefa do BC era defender a moeda a qualquer preço. Não havia espaço para um milímetro de desvio do caminho ortodoxo, o que levou o BC brasileiro a ser considerado o mais rígido do mundo durante a crise financeira. Hoje, o BC terá duas tarefas adicionais. 

 

Uma delas é tentar conter a excessiva apreciação do real em relação ao dólar. A segunda é fazer os juros brasileiros convergirem ao patamar internacional, uma das metas da campanha de Dilma, que fala numa taxa de juros real de 2% em 2014. As duas novas tarefas embutem muito mais riscos porque, na opinião do mercado, elas oferecem mais espaço para caminhos heterodoxos – algo de que os investidores não gostam. 

 

Nesse aspecto, a permanência de Meirelles seria uma garantia contra excentricidades – e a segurança de que os investidores internacionais necessitam para continuar trazendo caminhões de dinheiro para o Brasil.