Quando eu ficar mais velho, perder meus cabelos/ Daqui a muitos anos/Você ainda mandará um bilhete de namoro?/ Cartão de aniversário, garrafa de vinho?/Se eu ficasse fora até às quinze para as três/Você trancaria a porta?/Ainda precisará de mim, ainda me alimentará?/Quando eu tiver sessenta e quatro??

Paul chegou lá. Tem 63 anos, logo fará 64. Ele compôs a melodia da canção ?When I?m Sixty Four? ao final da adolescência. Os Beatles gravaram-na em 1968, no clássico Sargent Pepper?s Lonely Hearts Club Band. Era a segunda faixa do lado B. O sessentão ainda com cara de bebê é hoje um dos artistas mais ricos do mundo, com patrimônio estimado em US$ 1,3 bilhão, fortuna maior que a de Elton John, Mick Jagger e Madonna somadas. Tornou-se um dos maiores pagadores de impostos do Reino Unido. McCartney acaba de lançar um novo CD, ?Chaos and Creation in the Backyard?, aclamado pela imprensa especializada como seu melhor trabalho solo. Lenda viva, chegou à maturidade como exemplo de sucesso. Na semana passada, divulgou-se sua contratação por um poderoso fundo de investimento dos Estados Unidos, o Fidelity. Macca fará propaganda de um plano de aposentadoria privada destinado a alcançar 76 milhões de baby boomers que vestirão pijama na próxima década. É um mercado estimado em espetaculares US$ 20 trilhões. A geração do baby boom nasceu entre 1946 e 1967, no período do pós-guerra. Paul não apenas é um deles, embora tenha nascido um pouco antes, como compôs a trilha sonora da vida dessa gente.

A contratação pela Fidelity de um monstro sagrado diz muita coisa a respeito da preocupação com o futuro da previdência em todo o mundo. ?O envelhecimento da geração baby boom, a diminuição das taxas de fertilidade e o aumento da expectativa de vida criaram novas pressões demográficas?, diz John Bond, presidente mundial do HSBC, autor de um estudo sobre os caminhos da aposentadoria. Vive-se uma revolução econômica. Cálculos feitos pela consultoria internacional Watson Wyatt mostram que a conta média das aposentadorias públicas nos países desenvolvidos pode chegar, em média, a 16% do PIB nas próximas três décadas. Na Itália, alcançará 33%. No Brasil, hoje, já é de 14,4% (acompanhe no lado). A questão: como pagar essa conta? ?No Brasil, há bombas deflagradas?, diz Newton Conde, professor da USP e técnico da Watson Wyatt. ?Hoje, o grande nó é a informalidade, que produz baixo recolhimento de impostos e desequilibra o sistema. Há muito a pagar e pouco dinheiro no caixa?. Estima-se em R$ 40 bilhões o rombo da previdência brasileira (leia à pág. 44). ?Lá na frente, o problema será, de fato, o envelhecimento da população?, diz Conde. A Reforma da Previdência deu um bom passo, com a extensão da idade de aposentadoria para 60 anos, entre os homens, e 55, entre as mulheres, empurrando o limite para mais sete anos, em comparação ao modelo vigente. A idéia é engrossar o bolo para comê-lo o mais tarde possível. Ainda falta muito, porém, no Brasil e no exterior, para que a turma dos sessenta receba bilhetes de namoro, garrafas de vinho e cartões de aniversário, como imaginou Paul, sem afundar a estrutura fiscal do planeta. O desafio é maior que a imensa obra dos Beatles.