Com mais de 150 anos de história, o grupo inglês Pearson construiu um império na área editorial, que faturou     5,6 bilhões (aproximadamente R$ 16 bilhões). Hoje, ele é dono das mais influentes editoras, jornais e revistas do mundo, como a Penguin Books, o Financial Times e a The Economist, respectivamente. Apesar de estar desde 1971 no mercado brasileiro, o grupo teve uma atuação tímida por 38 anos. Mas desde 2010 isso mudou. Naquele ano, a Pearson pagou R$ 888 milhões pelo Sistema Educacional Brasil (SEB), do empresário Chaim Zaher, de Ribeirão Preto (SP). Foi o seu maior negócio na área educacional fora dos Estados Unidos. Com a aquisição, passou a deter os sistemas de ensino de quatro marcas – COC, Pueri Domus, Dom Bosco e Name – e a atender 500 mil estudantes, atrás apenas do grupo paranaense Positivo, que conta com um milhão de alunos. Na segunda-feira 5, a Pearson demonstrou que quer transformar o Brasil em um de seus best sellers. 

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Império editorial: Gerlach (acima), presidente da Pearson no País, diz que a empresa já atinge
quatro milhões de alunos brasileiros com seus livros

A Penguin Books adquiriu 45% da editora paulista Companhia das Letras, fundada pelo empresário Luiz Schwarcz, por um valor estimado em R$ 50 milhões pelo mercado. “A Pearson realmente descobriu o Brasil”, afirma o inglês Guy Gerlach, presidente da operação local da Pearson. “Demoramos para achar a forma mais contundente de crescer aqui, mas, com o investimento da Penguin, o País entrou totalmente no mapa da empresa.” Com o negócio, a Pearson, ainda bastante focada em material didático, passa a ter acesso ao mercado brasileiro de livros de uma forma privilegiada. A Companhia das Letras, fundada há 25 anos, é uma das mais respeitadas editoras nacionais, com um faturamento estimado em R$ 70 milhões em 2010.  

A empresa de Schwarcz – que tem como sócia a família Moreira Salles – acrescentará à britânica um catálogo de três mil títulos ativos e 1,3 mil autores, que incluem clássicos brasileiros e estrangeiros, além de grandes escritores contemporâneos, como o português José Saramago, o turco Orhan Pamuk e o sul-africano J.M. Coetzee. De acordo com especialistas, seria difícil para a Penguin, pioneira na edição de livros de bolso de autores consagrados, avançar no mercado brasileiro por conta própria. “A Companhia das Letras pode ensinar à Pearson alguns aspectos de como se opera aqui”, afirma Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro. “O mercado britânico é muito diferente do brasileiro, com índices de leitura muito superiores e vendas fortes em supermercados.” De fato, há mais diferenças do que semelhanças entre os dois mercados. 

 

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Prateleiras cheias: com a Companhia das Letras, Penguin ganha três mil novos títulos no Brasil

 

Em primeiro lugar, as vendas de livros no Brasil são concentradas em livrarias. Em segundo, os livros didáticos representaram 43% das vendas do mercado editorial brasileiro, que faturou R$ 4,2 bilhões em 2011. A categoria de interesses gerais, composta essencialmente por livros de ficção, reportagem e biografias, em que atua a Companhias das Letras, detém uma fatia de 30%. Ao observar esses números, não é difícil entender os próximos passos da empresa com a participação da Pearson. “Devemos ter alguma iniciativa conjunta na área educacional”, diz Schwarcz. Na Companhia das Letras, a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz, mulher de Schwarcz, deverá ser a responsável por buscar oportunidades de exploração do catálogo atual da editora no setor de educação. 

 

O grupo Pearson não se resume à Penguin ou ao sistema de ensino SEB. Ele fornece também livros para 500 mil estudantes brasileiros da língua inglesa e espanhola por meio da editora Longman e da Edinumen. Há ainda a Biblioteca Virtual Universitária, que comercializa livros técnicos no formato digital, em parcerias com diversas editoras. No total, esse portal conta com mais de dois milhões de cadastrados. “Contando todos os nossos negócios, devemos atingir quatro milhões de alunos brasileiros”, afirma Gerlach, da Pearson, que está no Brasil desde 1980 e chegou por aqui com uma mochila e US$ 200 no bolso. Para sobreviver, foi dar aulas de inglês e, seis anos depois, transformou-se em representante da Longman. “Somos a maior editora do mundo e certamente não somos a maior do Brasil”, diz Gerlach. “Mas vamos trabalhar para isso.”

 

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