Só ficou o bigodão. A onipresente camisa vermelha dos tempos da campanha eleitoral foi aposentada em favor de ternos escuros clássicos. O discurso ideológico que eriçava os cabelos dos empresários deu lugar a um pragmatismo coroado pelos números aferidos pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o Rio Grande do Sul do governador Olívio Dutra, do PT, exibe hoje o índice de crescimento industrial mais robusto entre todos os Estados da federação. No período de maio do ano passado a maio deste ano, a indústria gaúcha descreveu uma curva positiva de 12,6%. O Paraná, por exemplo, mostrou variação negativa de 1,2%. Minas ficou praticamente no mesmo lugar, com 0,7% mais. São Paulo fechou com um aumento de produção de 5,1%. Apenas nos cinco primeiros meses de 2000, o incremento na produção industrial gaúcha já é de 11%, com uma elevação de 1,23% no PIB local contra 0,77% na média nacional.

Na quinta-feira, 20, durante a inauguração da mais nova fábrica da General Motors no País, instalada em Gravataí, na Grande Porto Alegre, Dutra tinha um motivo especial para esgarçar a cortina de pêlos que lhe cobre a boca. Considerado culpado pela perda para a Bahia da nova fábrica da Ford, no início de sua gestão, ele insistiu em contrariar a maré de incentivos então vigente com a guerra fiscal, reduziu em R$ 103 milhões um pacote de isenções que chegaria a R$ 440 milhões e, mesmo assim, manteve a GM e sua planta industrial de R$ 1 bilhão dentro das divisas do Estado. ?Eu estava certo?, resumiu. ?Era preciso reduzir a renúncia fiscal em benefício das grandes empresas e conceder incentivos para as pequenas?, acrescentou.

Os grandes empresários, naturalmente, estão entre os mais céticos sobre o prosseguimento do ciclo de crescimento. Neste grupo desponta Jorge Gerdau, irredutível até o momento em manter suspensos seus planos de instalar no Estado uma nova laminadora de aços do Grupo Gerdau. ?Os benefícios fiscais concedidos pelo governo estadual devem ser estendidos a todo o universo industrial, inclusive às grandes empresas?, defende Renan Proença, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). ?Olívio não pode castigar o grande empresário só porque é grande.? Mesmo entre os pequenos e médios, porém, a ausência de uma política agressiva de incentivos fiscais tem sido a senha para a mudança para outras plagas. Este fenômeno tem-se verificado em maior grau sobre a tradicional indústria calçadista, cuja migração para as regiões Centro-Oeste e Nordeste é reconhecida pelo próprio governador. ?Os incentivos são um forte instrumento para a atração de empresas?, admite Dutra.