NÃO É TODO DIA QUE UM banco brasileiro faz 70 anos. O Bicbanco, fundado em 1938 em Juazeiro, no Ceará, comemorou o recém- completado aniversário na elegante Casa Fasano, em São Paulo. A sisudez do ambiente e a solenidade típica de momentos como esse ficaram do lado de fora. O banqueiro José Bezerra de Menezes fez um pedido inusitado aos convidados: sorrisos, muitos sorrisos. ?Gente, faz tempo que não vejo os dentes de vocês?, disse ele, empenhado em espantar os maus fluidos da crise econômica global e seus impactos na economia brasileira. Prevenido, garantiu seu intento ao chamar o astro convidado para animar a festa, o humorista Tom Cavalcanti.

O bom humor é uma característica forte em Binho, como é chamado o presidente do Bicbanco. Nem mesmo a recessão nos países ricos e a criação de megabancos no País, com a fusão de Itaú e Unibanco e a compra do Real pelo Santander, que acirram a concorrência local, são capazes de tirar o seu sono. Ao contrário, são fatos que funcionam como um poderoso estimulante. Na crise, ele enxerga o que os chineses vêem há milhares de anos: a oportunidade. ?A economia brasileira andava feito um carro a 200 km por hora?, compara, ?e teve de dar uma brecada?. Mas não parou nem vai parar de vez. ?Perdemos velocidade, mas daqui a pouco haverá uma aceleração. Os empresários que perceberem isso antes voltarão a fazer negócios e iremos tirar proveito dessas oportunidades?, diz ele.

Para Binho, os bancos médios têm um papel muito importante na crise, pois chegam aonde os grandes se retraem. E é aí que a fusão dos quatro maiores concorrentes privados abre espaço para instituições como o Bicbanco, sediado em São Paulo e com atuação em quase todos os Estados.

Toda fusão, para ter sentido econômico, implica redução de despesas e da superposição de agências e de clientes. ?Um mais um não é igual a dois?, raciocina. A redução natural da oferta de crédito por parte dessas instituições para determinadas empresas abre mercado para bancos menores e mais ágeis. O Bicbanco, especializado no segmento de médias empresas, com faturamento anual de R$ 30 milhões a R$ 300 milhões, está atento. Enquanto busca seu novo equilíbrio ? a demanda por empréstimos reduziu-se para todos ?, prepara-se para crescer com maior vigor quando a economia retomar o ritmo. ?A crise funciona como uma ida ao spa. A gente perde alguns quilos e volta com mais disposição e energia?, compara.

Sem fazer muito alarde e sem operar no varejo, o Bicbanco cresceu a ponto de se tornar o sexto maior banco nacional de capital privado. Nos últimos quatro anos, seus ativos cresceram 142%, chegando a R$ 13,2 bilhões. Destes, 74% são operações de crédito. O patrimônio líquido triplicou em dois anos, para R$ 1,7 bilhão, e o lucro líquido quadruplicou, para R$ 300 milhões até setembro último. Com sete décadas de história para contar aos investidores, o Bicbanco abriu o capital na bolsa em 2007, com a emissão de R$ 907 milhões em ações. Como muitos outros, aproveitou a baixa das cotações nos últimos meses para recomprar ações. Ao contrário de muitos concorrentes, não se envolveu na oferta de arriscadas operações de derivativos cambiais aos clientes. ?Nunca fomos afeitos a modismos, a ondas?, lembra Binho.

Segundo a agência de classificação de riscos Standard & Poor?s, a estratégia do Bicbanco é ?clara, focada e consistente?. Empresa familiar, sob o comando da terceira geração da família Bezerra de Menezes, o modelo de gestão combina a presença constante do dono com a de executivos profissionais. Na maioria das vezes, os proprietários das médias empresas são os interlocutores do banqueiro, o que traz vantagens no relacionamento em comparação ao atendimento oferecido pelos grandes bancos. Muitas decisões são tomadas por um comitê de crédito em reuniões virtuais, com o uso do telefone celular de última geração. ?Fazemos feijão-com-arroz, mas com muita tecnologia?, diz Binho.