A fabricante de tubos e conexões Tigre, controlada pela família catarinense Hansen, sempre teve uma posição confortável no mercado brasileiro. Líder do setor com cerca de 45% de participação e R$ 2,7 bilhões de faturamento, a companhia por muito tempo não encontrou um adversário de seu porte por aqui. Há cinco anos, no entanto, isso começou a mudar. Foi quando o grupo mexicano Mexichem comprou a Amanco, controlada pela Nueva, do empresário suíço Stephan Schmideheiny, por US$ 500 milhões, fortalecendo sua liderança na América Latina. Nos dois anos seguintes, os mexicanos mostraram a que vieram e investiram em mais três aquisições no Brasil, passando a deter uma fatia de 30%. 

 

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Dreher, CEO: “Estamos comprando.Crescer no Exterior é mais barato do que no Brasil”

 

Pela primeira vez, alguém ameaçava a jogar pelo ralo a hegemonia da Tigre. A saída encontrada pela brasileira para não levar um bote de seu rival foi contra-atacar. E a estratégia escolhida pelos executivos da Tigre foi semelhante à dos mexicanos: adquirir empresas em mercados no Exterior, para rapidamente ficar entre os três principais fabricantes de tubos e conexões do país em que ela passava a atuar. Hoje, a Tigre já possui mais fábricas lá fora do que no Brasil. São 13 unidades industriais no Exterior, em países como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Paraguai, Peru e Uruguai. No Brasil, são apenas nove. Com a movimentação, a Tigre levou a briga pelo mercado brasileiro para a América Latina, região na qual a Amanco ainda mantém a liderança. 

 

Essa disputa deve ganhar novos capítulos em breve. “Estamos comprando”, afirma Evaldo Dreher, presidente da Tigre. “Crescer no Exterior é mais barato do que no Brasil.” O alvo da companhia baseada em Joinville, no norte de Santa Catarina, são empresas familiares. Nos últimos dois anos, os investimentos da Tigre em aquisições e na abertura de fábricas superaram os R$ 200 milhões por ano. Em 2012, a previsão é investir cerca de R$ 150 milhões nessa estratégia, que será fundamental para que a Tigre fature R$ 5 bilhões daqui a dois anos, quase três vezes mais do que em 2010. Atualmente, as operações internacionais já representam 25% da receita. Esse resultado representa uma grande virada para a companhia. 

 

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Bolso cheio: a Mexichem, de Maurício Harger, captou US$ 1,2 bilhão na bolsa de valores mexicana

e vai usar o dinheiro para adquirir novas empresas

 

No começo dos anos 2000, quando uma disputa de herdeiros ameaçava comprometer o futuro da fabricante, ela chegou a ser assediada por grupos estrangeiros. Entre eles a francesa Saint-Gobain, a belga Etex e a própria Amanco, na época ainda sob o controle do grupo suíço Nueva. Em maio deste ano, surgiram rumores de uma possível união com a Duratex, dona da Deca, de metais e louças sanitárias. A companhia é controlada pela Itaúsa. Segundo o CEO Dreher, não há nenhuma negociação em curso. Em sua estratégia de internacionalização, a Tigre, no entanto, não terá vida fácil. A Mexichem, por sua vez, promete intensificar a compra de empresas não só no Brasil, mas também em outros países da América Latina. Recursos para isso não faltarão. 

 

Em outubro, por meio da emissão de novas ações na bolsa de valores mexicana, a empresa captou US$ 1,2 bilhão, dinheiro que será utilizado para aquisições. “Ainda há muito espaço para consolidação no mercado latino-americano”, afirma Maurício Harger, principal executivo da Mexichem no País. Só no Brasil, existem cerca de 50 pequenos fabricantes que são potenciais alvos da companhia. Essas empresas competem por 30% do mercado que não está nas mãos dos dois principais fabricantes. São competidores locais, com forte atuação na classe média emergente. Segundo a Abiplast, associação que representa as empresas da área, o mercado de material plástico para construção movimenta R$ 7 bilhões por ano no País e vem registrando crescimento de 20% nos dois últimos anos. 

 

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