06/01/2014 - 0:22
Engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba (SP), Rodrigo Santos, 39 anos, é o mais jovem executivo a assumir a presidência da Monsanto Brasil. Em janeiro passado, ele recebeu a missão de conduzir a transição da empresa de uma fornecedora de sementes para uma prestadora de serviços agrícolas. Para tanto, vai investir mais de US$ 300 milhões no País até 2015.
Uma das potências do agronegócio global, a Monsanto faturou US$ 14,8 bilhões no mundo em 2012 ? mais de 10% dessa receita foi gerada no Brasil, seu segundo maior mercado. Com o conhecimento de quem dedica até 30% de seu tempo para visitas de campo e contatos com agricultores, Santos não teme eventuais freadas econômicas, mas engrossa o coro dos que pedem ao governo mais investimentos em infraestrutura. ?A agricultura brasileira pode contribuir ainda mais para a economia?, diz Santos.
Rodrigo Santos, da Monsanto: mais jovem executivo a assumir a presidência da operação no Brasil
DINHEIRO ? A Monsanto está investindo em softwares de controle de campo e clima. A empresa vai deixar de ser uma fornecedora de sementes para se tornar uma prestadora de serviços agrícolas?
RODRIGO SANTOS – Acreditamos que o agricultor, no futuro, vai administrar sua lavoura com isso aqui [mostra o seu tablet, onde um software mostra o desempenho de uma plantadeira no Paraná depositando sementes no solo, indicando em que cova a máquina deixou de por a semente, e em quais ela colocou duas]. A evolução da agricultura passa pela gestão da informação, o famoso Big Data. Será necessário processar todos esses dados para que o agricultor realize um trabalho muito preciso, com um plantio adequado para cada pedaço de sua propriedade, porque isso vai resultar em maior produtividade por área. Isso é o que chamamos de Sistemas Agrícolas Integrados, que estamos desenvolvendo. No futuro, a agricultura será de altíssima precisão.
DINHEIRO ? E como será essa agricultura do futuro?
SANTOS ? A cada plantio, o agricultor precisa tomar até 50 decisões, como o tipo de fertilizante e o momento da colheita. Nosso trabalho vai ser gerar informação. Trabalhar esse Big Data para ajudá-lo a tomar essas decisões, com o objetivo de maximizar seu resultado. O agricultor vai pegar esses dados, colocá-los no tablet e conectar na plantadeira, que executará esse planejamento.
DINHEIRO ? Cada vez mais, as empresas agrícolas cobram royalties pelas tecnologias que desenvolvem. Como o sr. vê a resistência a esse modelo?
SANTOS ? A grande maioria dos agricultores entende essa nova dinâmica. Isto é, para ter novas tecnologias, é preciso remunerar quem investe para desenvolvê-las. O Brasil precisa de inovação e quem faz isso precisa ter retorno. Nosso trabalho é oferecer uma opção para quem trabalha no campo. Aquele que achar que ela lhe traz uma boa relação custo/benefício vai adotar.
DINHEIRO ? A Monsanto faturou R$ 3,4 bilhões no Brasil, em 2012. Qual é a expectativa neste ano?
SANTOS – Não posso podemos dizer, porque Wall Street pega a gente. O Brasil é o segundo maior mercado em importância para a Monsanto, atrás apenas dos Estados Unidos. Atuamos em 66 países. Estamos investindo muito. A expectativa, nos próximos dois ou três anos, é investir mais de US$ 300 milhões no País.
DINHEIRO ? Mas o que o seu chefe lhe disse, quando ligou no terceiro trimestre com os números?
SANTOS – (Risos) Disse: está tudo bem, continue ?on track? [continue na trilha]. O que eu posso dizer é que, evidentemente, temos de gerar os resultados a cada trimestre, mas como a Monsanto trabalha com o desenvolvimento de tecnologias, nossa visão é de longo prazo. Já estamos estudando projetos para os próximos cinco a dez anos, por causa da natureza do nosso negócio. Uma tecnologia que decidirmos desenvolver no Brasil vai demorar dez anos para ser lançada.
DINHEIRO – Como o sr. avalia o cenário brasileiro? Ele se deteriorou?
SANTOS – O que posso dizer é que a agricultura brasileira está crescendo a uma taxa muito maior que a do PIB. O agronegócio é responsável por mais de 45% das exportações e por um superávit de US$ 66 bilhões. A agricultura tem crescido e se desenvolvido muito rapidamente. Realmente, tem sido o motor da economia. Mas quando o Brasil conseguir realizar o ciclo de investimentos em infraestutura, a agricultura pode ser ainda mais importante para o País. Acho que estamos no caminho certo, mas se fosse possível acelerar os investimentos em logística, portos, rodovias… isso ajudaria muito. Eu ouço muito os agricultores e esse é o investimento mais relevante para o mercado, mais do que outros fatores.
DINHEIRO – Nesse sentido, o sr. acredita que o Brasil patinou nos últimos anos?
SANTOS – Acho que o Brasil precisa investir muito mais em infraestutura. Acho que é um desafio reconhecido por todos. Esse é o grande desafio. Se isso acontecer, será a grande oportunidade de a agricultura brasileira crescer num ritmo ainda maior que o atual.
DINHEIRO ? A Monsanto Brasil captou recentemente US$ 300 milhões em FIDCs. Foi a segunda operação desse tipo da empresa no País. Como o sr. sentiu o apetite dos investidores?
SANTOS – Foi uma operação bastante atrativa. A demanda foi maior que a oferta. Os últimos cinco anos da agricultura brasileira foram bastante produtivos e muito rentáveis. É um investimento interessante para muitas empresas, porque ajuda o seu financiamento. Eu tenho a oportunidade de viajar e conhecer várias partes do mundo. Quando você olha para o Brasil, vê o seu potencial.
DINHEIRO ? Notou alguma desconfiança dos investidores internacionais em relação ao Brasil?
SANTOS – No segmento agrícola, existem duas coisas. Primeiro, deve-se reconhecer que, no médio e longo prazo, o Brasil continuará uma potência agrícola, mesmo com algumas lombadas de curto prazo. O segundo é o entendimento, cada vez mais claro, de que o Brasil representa grandes oportunidades. Sim, o País tem seus desafios, mas essa compreensão é cada vez mais clara.
DINHEIRO ? O câmbio preocupa o sr., atualmente?
SANTOS – Sempre preocupa (risos). Somos uma empresa listada em bolsa. Evidente que o câmbio tem impacto nos negócios. E para o agricultor também, principalmente o de soja. Do ponto de vista da empresa, o que a gente procura fazer é hedge, para nos proteger das variações.
DINHEIRO ? Mas como o sr. avalia o cenário do câmbio hoje?
SANTOS – O que a gente procura fazer é ?hedgear? nossas operações, para nos protegermos. Temos hedge até o segundo trimestre do próximo ano. Para nós, mais importante que o câmbio estar nesta ou naquela cotação, é a previsibilidade. Isso nos ajuda, porque podemos administrar de acordo com essa projeção.
DINHEIRO ? Como o sr. vê a China neste momento?
SANTOS – A China é o grande consumidor de tudo. A importação que fará de soja e milho do Brasil é muito grande. A maior parte da demanda por proteínas, hoje, provém da China e Índia, que estão se desenvolvendo. O atual consumo de proteína desses países é muito menor do que o brasileiro, mas tem crescido. À medida que avançar essa demanda, o Brasil e a América do Sul terão um papel importante em supri-la. A China é um parceiro estratégico do Brasil.
DINHEIRO ? Mas o sr. está preocupado com uma possível freada da China?
SANTOS – A minha visão é a seguinte: no médio e longo prazo, não tem como desacelerar a agricultura. Pode desacelerar qualquer outra coisa, mas a produção de alimentos cresce, à medida que a economia se desenvolve. Pode ser uma taxa de 3% ou 9%, mas não tem como não crescer. Nos próximos 30 anos, a população global passará de 7 bilhões para 9 bilhões de habitantes, mas a demanda por alimento vai dobrar. A agricultura vai precisar produzir muito mais, sem aumentar demais sua área. Isso não impede que, nesse período, haja variações de ano para ano. Não necessariamente vai ser um crescimento linear, mas não há como mudar a tendência. Ela pode crescer menos que o previsto em um momento, mas depois se recupera.
DINHEIRO ? O sr. foi o executivo mais novo a assumir a presidência da Monsanto Brasil. Como é essa experiência, pessoalmente?
SANTOS – Sou do interior de São Paulo. Ia, desde pequeno, ao sítio do meu avô. Aprendi a gostar de agricultura assim. Então, saber que a Monsanto pode ajudar a agricultura do País me dá muito gás. Me sinto muito motivado e desafiado. Tenho dois filhos e sei que essa contribuição pode ficar para as próximas gerações, de modo não predatório.