O que Barack Obama e Joaquim Barbosa têm em comum? Ambos são, no momento, os dois negros mais bem-sucedidos das Américas. O primeiro acaba de ser reeleito presidente da nação mais poderosa do mundo, 149 anos depois de Abrahan Lincoln emancipar os escravos negros e 57 anos após a costureira Rosa Parks ter sido presa por recusar-se a ceder o assento reservado aos brancos no ônibus em Montgome­ry, detonando o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. Já o brasileiro Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal Federal, tomará posse na quinta-feira 22 na presidência da mais alta corte da Justiça Brasileira, 124 anos depois da promulgação da Lei Áurea. Obama e Barbosa fizeram história em 2012 e continuarão sob os holofotes da mídia por um bom tempo. 

 

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O democrata americano, que realizou o sonho de Martin Luther King e conseguiu a proeza de reeleger-se em plena crise econômica, tem o desafio de entrar para a posteridade como o homem que tirou os EUA da maior depressão desde os anos 1930. E Barbosa, que fortaleceu a democracia brasileira ao relatar no julgamento do século e condenar, junto com os demais ministros do STF, os políticos e empresários envolvidos no escândalo do mensalão, ainda tem muito a contribuir em favor dos bons usos e costumes no trato com o dinheiro público. Num País que ainda precisa de cotas para negros para dar acesso à educação de qualidade nas universidades públicas e resgatar a dívida histórica com os descendentes dos africanos – que já formam 51% da classe média –, é bom ter um Joaquim Barbosa para servir de exemplo aos que se sentem excluídos.

 

Ainda há, porém, um longo caminho a percorrer em prol da igualdade racial, especialmente nas empresas que dão milhões de empregos e fazem do Brasil a sexta maior potência econômica do planeta. Na terça-feira 13, o mesmo dia em que Barbosa foi ao Congresso levar o convite para sua posse no STF aos presidentes José Sarney, do Senado, e Marco Maia, da Câmara, uma pesquisa revelou o tamanho do fosso que ainda separa negros e não negros no mercado de trabalho. Segundo levantamento em conjunto feito pela Fundação Seade e pelo Dieese, os salários dos negros ainda representam, em média, 61% dos rendimentos dos não negros (brancos e amarelos) nos 39 municípios da região metropolitana de São Paulo. O trabalhador de pele mais escura recebeu R$ 6,28 por hora, em média, em 2011, ante os R$ 10,30 recebidos pelos de pele mais clara. 

 

É lamentável que isso ainda ocorra, embora os dados mostrem também que essa situação está mudando bastante. Nos últimos nove anos, a renda dos negros cresceu 14,8%, cinco vezes mais que os 2,9% de aumento nos salários dos brancos e amarelos. É apenas o começo de uma revolução social que já começou e ainda deve render muitos frutos nos próximos anos. Hoje, os trabalhadores negros são maioria em setores como construção civil e serviços domésticos, que têm salários mais baixos, exigem menor qualificação profissional e nos quais as relações trabalhistas são mais precárias. O desafio é aumentar sua fatia em setores como serviços, indústria e comércio, nos quais os não negros predominam. As empresas com políticas de recursos humanos mais adequadas à diversidade demográfica do País farão a diferença nessa transformação.