Na segunda-feira 7, tucanos de alta plumagem reuniram-se no Rio de Janeiro para discutir as perspectivas da economia. O encontro contou com três ex-presidentes do Banco Central (BC): Pérsio Arida, Gustavo Franco e Armínio Fraga. Na agenda, uma discussão sobre a eternidade dos juros elevados. Mesmo com a queda da taxa Selic para 11,5% ao ano, que reduziu os juros reais a seu menor nível em 17 anos, as taxas permanecem em patamares que fariam corar um agiota levantino. Essa situação dificulta a alavancagem do setor produtivo, corrói boa parte dos recursos públicos, que têm de ser destinados ao serviço da dívida e, o pior de tudo, reduz o fôlego do crescimento, condenando a economia aos famosos “voos de galinha”. Por que, afinal, os ju­­ros brasileiros não caem ainda mais? No início do Plano Real, era fácil responder a essa pergunta. Havia causas estatais para essa distorção. O orçamento público era cronicamente insustentável. 

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A capacidade de arrecadação era fraca. Com o fim da inflação, o governo perdeu uma fonte importante de recursos, e precisava atrair capital internacional para manter sua conta de capital em equilíbrio, e, para isso, tinha de acenar com juros atraentes. Também havia razões privadas. Os bancos eram ineficazes e precisavam dos ganhos de tesouraria para fechar suas contas. Hoje, quase duas décadas após a estabilização da economia, todos esses problemas foram resolvidos ou estão equacionados. Exceto, é claro, a má qualidade das contas públicas. No encontro da segunda-feira, os economistas tucanos presentes defenderam quedas adicionais nos juros – algo que, vale lembrar, nenhum deles conseguiu fazer quando estava no governo. Uma das melhores contribuições ao debate veio de Gustavo Franco, que presidiu o BC entre 1996 e 1999. Ele resumiu com precisão cirúrgica por que é tão difícil reduzir os juros: olhando bem, o Brasil é igual à Grécia. Como? “Como os gregos, nós temos uma situação fiscal ruim, um orçamento elaborado de maneira corrupta e desequilíbrios sérios nas contas públicas”, disse Franco. Por isso, os investidores e os bancos europeus fogem dos títulos da dívida pública grega. 

 

Na ponta do lápis, o proprietário de um título grego que vale mil euros só consegue vendê-lo por 400 euros. “O governo grego paga juros baixos e tem problemas para rolar sua dívida pública”, diz Franco. “Já o governo brasileiro rola sua dívida com facilidade, pois paga juros exorbitantes.” Pode parecer mais um dos petardos verbais tão caros ao ex-presidente do BC, mas, desta vez, Franco não traz um grama de ironia. Analisando-se as contas públicas dos últimos três anos, percebe-se que os números do governo lembram as fábulas de Esopo. As metas para o superávit primário só foram cumpridas pelo uso de malabarismos pela Fazenda. A Previdência Social continua drenando os recursos do Tesouro, a carga tributária passou dos limites e a gestão pública não tem qualidade. Assim, se praticasse taxas compatíveis com as de um país civilizado, Brasília teria tantos problemas quanto Atenas para vender seus títulos no mercado financeiro. Moral da história: como o governo não pode deixar de rolar seus papagaios, os juros não caem como deveriam.