DINHEIRO ? Como está o campo de trabalho para os executivos brasileiros?


SCILEPPI ? Excelente. As perspectivas para os executivos dependem das expectativas das empresas, que são quem os contratam. E percebemos que em nenhum lugar o cenário é tão positivo quanto aqui. Os empresários brasileiros são hoje os mais confiantes do mundo com relação às perspectivas para 2011.

 

 

DINHEIRO ? No que sr. se baseia para dizer isso?


SCILEPPI ? Em pesquisas. No fim do ano passado, nós realizamos uma pesquisa sobre as expectativas dos executivos financeiros em 19 países, o Brasil entre eles. Notamos que a grande maioria acredita em perspectivas melhores para 2011 do que as que, de fato, ocorreram em 2010. Nossas pesquisas mostram que 83% dos executivos entrevistados, mais do que quatro em cada cinco, estão confiantes em que 2011 será um ano de crescimento para a empresa em que trabalham. Desse total, 30% estão muito confiantes. No Brasil, porém, o percentual de otimistas é de 98%, e 84% dizem estar muito confiantes em que 2011 será melhor que 2010. Em nenhum outro país onde nós fizemos essas pesquisas foi possível perceber um entusiasmo tão grande.

 

 

DINHEIRO ? Por que isso beneficia os executivos?


SCILEPPI ? Quando as companhias crescem, elas precisam reter os talentos que possuem e partem em busca de mais pessoas. Nossas pesquisas mostram que os prognósticos para os executivos brasileiros são muito bons, especialmente os voltados para finanças e controladoria. O Brasil é, pela ordem, o terceiro país onde os entrevistados dizem ser mais difícil recrutar bons empregados nas áreas financeira e contábil. Só perde para a Inglaterra e para a Itália nesse setor.

 

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“O executivo brasileiro é valorizado porque vivenciou a inflação e a estabilidade”

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DINHEIRO ? Os salários dos executivos subiram mais no Brasil  do que no Exterior?


SCILEPPI ? Sim. Os salários dos executivos aumentaram de 15% a 35% em 2010 em relação a 2009 no Brasil. Esse aumento se deu por conta da falta de mão de obra especializada. Há muita oferta disponível para poucos profissionais qualificados para preencher as posições em aberto. Além disso, a força da economia faz com que o País gere muito mais dinheiro, o que afeta diretamente os salários. Quando circula mais dinheiro pelas companhias, é natural que parte seja destinada aos funcionários e executivos.

 

 

DINHEIRO ? Esse fenômeno ocorreu apenas no Brasil?


SCILEPPI ? Não. Em alguns países da Ásia, especialmente no caso da China, que é uma economia em forte crescimento, também percebemos esse aumento nos salários. No entanto, esse crescimento não ocorreu com o mesmo vigor. Já na Europa e nos Estados Unidos, as variações de salários nos últimos tempos foram muito menores, entre 3% e 4%. Esses países ainda não conseguiram superar todos os efeitos da crise e por isso seus mercados de trabalho ainda estão deprimidos. 

 

 

DINHEIRO ? Quanto tempo o sr. acha que vai levar para os mercados de trabalho desses países voltarem ao normal?


SCILEPPI ? Acredito que ainda vai levar um ou dois anos. Só agora as empresas estão começando a ter uma atividade normal, especialmente no mercado financeiro e de capitais.

 

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“As empresas devem poder aproveitar eventos como as Olimpíadas”

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DINHEIRO ? No caso do Brasil, só há vagas para executivos financeiros? 


SCILEPPI ? Não vale só para os executivos financeiros, não. De um modo geral, as empresas brasileiras de todas as áreas vão precisar de mais profissionais. As áreas em que a demanda por mão de obra será mais aquecida são as de finanças, de contabilidade e de controladoria, especialmente pensando nas companhias que pretendem abrir seu capital nos próximos anos aqui e nos Estados Unidos, e que vão precisar investir na governança, na transparência e nas relações com investidores. 

 

 

DINHEIRO ? Quais as outras áreas? Onde estarão esses empregos? 


SCILEPPI ? No caso específico das empresas voltadas para as obras de infraestrutura, essa demanda inclui as diversas modalidades da engenharia. Companhias como OGX e Vale, além de todas as empresas que vão participar da exploração do pré-sal, vão demandar engenheiros, e eles são escassos. A necessidade delas também inclui os profissionais do direito especializados nesses campos detrabalho. Os setores de exploração de recursos naturais são os que mais atraem o interesse dos profissionais de fora do Brasil. Neles reside o maior diferencial competitivo da economia brasileira.

 

 

DINHEIRO ? Como está essa demanda?


SCILEPPI ? Muito aquecida. Basta olhar os números. A Robert Half brasileira recebe cerca de 12 mil currículos por mês. Desse total, 300 são de estrangeiros, principalmente de Portugal, Espanha, Estados Unidos e Inglaterra. Em 2008, nós recebíamos de 20 a 50 currículos de estrangeiros por mês, e em 2009 foram 100. Ou seja, o fluxo de candidatos triplicou no ano passado. 

 

 

DINHEIRO ? Isso decorre do desempenho ruim dessas economias, não?


SCILEPPI ? Sim, porque esses países não se recuperaram totalmente da última crise e a taxa de desemprego ainda está alta. Mas esse fenômeno também é provocado pela expectativa com eventos importantes que vão ocorrer no Brasil, como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Esses eventos são grandes, globais, e vão colocar o Brasil em evidência para mercados que tinham pouca relação com o País. Por isso, as empresas que quiserem aproveitar esse fluxo de visitantes, tanto turistas quanto homens de negócios, terão de contar com profissionais capacitados para isso.

 

 

DINHEIRO ? Para o executivo estrangeiro compensa vir trabalhar aqui?


SCILEPPI ? Sim. A experiência internacional é tão ou mais importante do que a formação acadêmica para acelerar a carreira. E o Brasil é visto como um dos lugares mais quentes para acelerar a carreira de um executivo. É uma economia dinâmica, com grandes oportunidades e uma inserção global crescente. Basta ver que muitos dos executivos que lideram subsidiárias brasileiras de suas empresas costumam ser promovidos para postos mais importantes nas matrizes. 

 

 

DINHEIRO ? E as empresas estrangeiras que querem recrutar brasileiros?


SCILEPPI ? Em média, para cada dez executivos estrangeiros que vêm trabalhar no Brasil, dois brasileiros são mandados para o Exterior. O Brasil ainda é um importador líquido de executivos, mas isso está mudando, especialmente porque hoje há novos mercados para os profissionais daqui. 

 

 

DINHEIRO ? Quais países estão atraindo profissionais brasileiros?


SCILEPPI ? Os destinos mais tradicionais não mudaram: Estados Unidos, Europa e Canadá continuam os principais pólos de atração de profissionais.No entanto, a participação de empresas localizadas na China, em outros países da Ásia, na Austrália e também no continente africano que contratam brasileiros está crescendo, assim como a participação desses países na economia mundial também ganha relevância.

 

 

DINHEIRO ? Durante muito tempo, dizia-se que o executivo brasileiro era cobiçado no Exterior devido à sua experiência em trabalhar em um ambiente de inflação. A economia está estabilizada há mais de 16 anos. Isso tornou o executivo brasileiro menos diferenciado?


SCILEPPI ? Não, ao contrário. Durante muito tempo, o executivo brasileiro era recrutado nas corporações internacionais quando era preciso assumir alguma posição crítica ou complicada, de preferência em algum país onde a economia fosse menos estável. No entanto, depois da estabilização, o executivo brasileiro, especialmente o mais experiente, ganhou uma vantagem adicional. Alguém que tenha duas ou mais décadas de trabalho é um profissional que vivenciou um país instável e com uma inflação descontrolada, atravessou os desafios de um período de estabilização e hoje trabalha em uma economia em que as coisas são bastante previsíveis. Quer dizer, quem viveu tudo isso tem a experiência de ter trabalhado em todos os ambientes possíveis, um conhecimento que executivos que desenvolveram suas carreiras apenas em países estáveis não possuem.