08/08/2014 - 20:00
A questão levantada acima beira a uma agressão à inteligência dos leitores. É claro que o Brasil não é pior do que seus vizinhos latino-americanos. Aliás, é até uma covardia comparar um gigante de US$ 2,2 trilhões, dono do sétimo maior PIB do mundo, com economias bem menores – o México, o maior deles, tem PIB de US$ 1,3 trilhão. Qual desses países tem um mercado interno tão grande e promissor? Mas os investidores não só comparam como julgam – com critérios justos ou injustos – esses países e precificam os seus riscos.
E eis que, para desgosto nosso, o Brasil recebeu a pior nota dentre essas cinco economias, medida pelos spreads dos contratos de seguro contra calotes, denominado Credit Default Swap (CDS). Não adianta brigar com o mercado, tampouco reclamar do pessimismo exagerado que contamina as mentes e os corações de empresários e investidores. Se o CDS do Brasil (166 pontos-base) supera os de Chile (77), Colômbia (93), Peru (94) e México (86), é porque a gestão macroeconômica brasileira saiu dos trilhos. Crescemos pouco, abaixo de 1%, a inflação é elevada, na casa de 6,5%, e as contas públicas carecem de credibilidade.
Enquanto isso, o Chile, cuja população cabe na região metropolitana de São Paulo, é cantado em verso e prosa por sua maestria na condução da economia, com crescimento de 3,6% e inflação de 3,5%. Já o México, que no início da década roubou do Brasil o posto de queridinho do mercado, sempre é visto com bons olhos por sua integração com os Estados Unidos. Diante da perspectiva de uma rápida recuperação da economia americana, os investidores já precificam o eventual sucesso mexicano, a despeito das dificuldades enfrentadas no período recente pelo governo do presidente Enrique Peña Nieto.
Jogando para o futuro, os donos do capital avalizam e batem bumbo para as reformas nas áreas de petróleo e gás, telefonia e energia encetadas por Peña Nieto. Os vizinhos Peru e Colômbia merecem uma atenção especial. Em janeiro deste ano, durante um seminário econômico promovido pela seguradora Coface, em Paris, os analistas já festejavam essas duas economias andinas como vitrines do sucesso. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Peru deve crescer 5,5% neste ano, e a Colômbia, 4,5%. Apesar de terem um PIB per capita baixo, esses países oferecem oportunidades de negócios atraentes, com instituições fortes e democráticas.
E o mais importante: previsibilidade nas regras do jogo. Não há nada que irrite mais um investidor do que se deparar com surpresas desagradáveis no chamado marco regulatório. Definitivamente, não será apenas pelo seu porte que o Brasil vai ganhar o jogo econômico. Ao gigante, cabe implementar uma série de ajustes fiscais e monetários, além de criar um ambiente seguro para quem quer investir. São ações que precisam ser conduzidas pelo próximo presidente. A boa notícia é que os principais candidatos demonstram conhecer os problemas.
Embora a solução ainda não tenha sido detalhada por nenhum deles, no mercado especula-se – ou se sonha – que um pacote será anunciado pelo vencedor logo após a apuração dos votos. Se bem conduzido, esse ajuste, ainda que num primeiro momento provavelmente tenha um viés recessivo, servirá para resgatar, rapidamente, a confiança geral. Nesse cenário, segundo os mais otimistas, o País voltaria a crescer já no segundo semestre do ano que vem. E por tabela, é claro, seu risco soberano se igualaria ao dos vizinhos, tornando absolutamente desnecessária a pergunta formulado no título deste artigo.