Após mais de 30 anos na aviação comercial (foi piloto da finada Vasp, presidente da TAM e vice-presidente da Gol), o executivo David Barioni teve uma reviravolta em sua vida profissional, neste ano. Trocou sua moto e a agitação do trânsito de São Paulo pelas ruas planas de Brasília, deixando o comando do Facility Group, de Recursos Humanos, pela presidência da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), responsável pela promoção comercial do Brasil no Exterior. O convite feito pela presidente Dilma Roussef, para assumir a direção da agência, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foi aceito sem pestanejar. Segundo Barioni, seu principal desafio é fazer as exportações brasileiras alçarem voos mais altos e tornar a Apex tão conhecida quanto o Sebrae, entre os empresários nacionais.

DINHEIRO – O que o sr. pretende levar de sua trajetória no setor privado para a Apex?
DAVID BARIONI –
 Modestamente, toda geração tem vontade de dar um pouco de si para melhorar as coisas no País. Hoje, a Apex já é razoavelmente reconhecida. Mais de 30% das exportações brasileiras passam por nós. Agora, a meta é fazer com que sejamos ainda mais conhecidos nacionalmente. De seis milhões de empresas existentes, apenas 20 mil exportam, e são praticamente as mesmas de 15 anos atrás. Foi esse desafio que me encantou: pegar uma empresa e fazê-la ganhar mercado. Nesse caso, não vamos ganhar mercado dos concorrentes, mas a partir de empresas que precisam do apoio da agência para exportar.

DINHEIRO – Como pretende fazer isso? 
BARIONI – 
A Apex é um serviço autônomo e o capital vem do Sebrae – que destina algo como 12% de suas receitas para o nosso trabalho, o que nos dá tranquilidade. Como disse, minha especialidade é trazer novas práticas, governança e transparência às empresas. Qual a receita? Sanear internamente. Desse modo, a primeira medida que tomei quando assumi foi cortar custo. Fizemos uma reestruturação de cargos e salários e cortamos algo como R$ 10 milhões por ano no custo da agência. Nosso orçamento é definido por lei, temos R$ 534 milhões para 2015. Então, quanto menos eu gastar nas chamadas atividades-meio, mais eu colocarei na atividade-fim, que é atender a um número maior de empresas. 

DINHEIRO – Por que o sr. também alterou os contratos de projetos da Apex com as empresas? 
BARIONI –
 Depois de cortar gastos, passamos ao segundo passo, que foi analisar os contratos com 75 entidades privadas, envolvidas no esforço de promoção das exportações das empresas. Nessa fase, verificamos o perfil delas e vimos que podíamos mudar a estrutura para otimizar investimentos e aumentar o número de projetos. Antes, a Apex financiava 85% dos recursos dos projetos, e a empresa ou entidade entrava com 15%. Hoje, dobramos a participação do setor privado, que passou a responder por 30% do capital necessário. Em seguida, definimos que todos os contratos serão auditados a cada três meses, não só em termos financeiros, como também quanto aos níveis de desempenho. Dessa forma, aqueles que não alcançarem os resultados esperados poderão até perder o benefício, embora não se descarte uma nova chance. 

DINHEIRO – O governo está a favor das exportações, mas as projeções da OMC não são muito otimistas em relação ao Brasil. Como mudar esse prognóstico? 
BARIONI –
 Temos o curto e o médio prazo. No curto, o grande estímulo é exatamente o dólar. Com a moeda americana em alta, evidentemente há uma facilidade maior de exportar e estamos surfando nessa onda. Nosso objetivo é incentivar as empresas que já exportam, a exportar mais. As que pararam, a voltar a fazê-lo. E, as que não exportam, que comecem. No médio prazo, há todo um portfólio de ações que o Brasil está tomando, mas que precisa de tempo para maturar. Nesse pacote entra o Reintegra (devolução tributária dos bens e mercadorias exportadas), acordos multilaterais, bilaterais e o plano nacional de exportação. O meu pragmatismo, cultivado no setor privado, diz: não teremos o mundo ideal. Conhecemos as condições que nos fizeram exportar US$ 250 bilhões, em 2014. Continuamos com uma posição favorável para este ano em setores como energia renovável, óleo e gás, medicina e armamentos, que estão explodindo em exportação. Estamos focados nisso.

DINHEIRO – Muitos empresários reclamam da falta de uma política cambial clara, o que acaba prejudicando seus planos de negócios. 
BARIONI – 
A regra brasileira é de câmbio flutuante. Esse é um pacote dado e todos sabem que é assim. O empresário não precisa do melhor dos mundos, ele só precisa de um mundo claro para se adaptar. Então, já que o câmbio flutuante é uma realidade no Brasil, temos como nos adaptar a isso a partir de remédios financeiros. O que precisamos é ter a vontade de exportar, nos aproximarmos e fazer com que as empresas aprendam como agir.

DINHEIRO – O Plano Nacional de Exportação será visto como uma espécie de salvação para as exportações?
BARIONI –
 Não acredito que o Plano seja uma salvação. Ele fará parte de um pacote complexo, cujo objetivo é aumentar as exportações. O simples fato de o ministro Armando Monteiro ter focado seus planos no Exterior já é um passo a mais, porque dá uma direção. Os empresários e executivos passam o tempo todo tentando achar uma receita contracíclica. Talvez, a exportação seja o negócio mais claro e contracíclico que eu já vi. Porque, quando o mercado interno não está bom, a companhia deve olhar para o Exterior. Desse modo, a empresa estará com um pé em dois mercados, o interno e o externo.

DINHEIRO – Os Estados Unidos são o maior mercado potencial para o Brasil, em 2015? 
BARIONI – 
Somos ligados ao Mdic e eles é que são responsáveis por desenvolver o plano estratégico para exportação. Nós apenas implementamos esse planejamento. Os Estados Unidos são um dos principais focos do Mdic atualmente. Eles sempre foram um parceiro estratégico e estão atualmente em segundo lugar na balança comercial, em disputa equilibrada com a China. Não há dúvidas quanto ao potencial americano para ocupar o primeiro lugar, porque é o país que saiu da crise mais rapidamente. Mas, também, não podemos esquecer da China e da Ásia como um todo, ou da África, que sempre foi um mercado plural para nós.

DINHEIRO – Há algum plano específico para a Índia? Estudos o colocam como um dos destinos mais promissores aos produtores nacionais. 
BARIONI – 
A Índia tem 1,2 bilhão de habitantes. Um mercado desse tamanho, com certeza, é importante para nós. Sem contar que está nos BRICS e, portanto, é nosso parceiro. Criamos um banco em conjunto, que pode endossar e garantir acordos bilaterais. Vemos na Índia um forte parceiro comercial, principalmente na parte industrial, de autopeças e commodities. Posso afirmar que esse país estará contemplado no plano de exportação e ganhará um destaque em nossos eventos.

DINHEIRO – A crise interna não deveria ser um estímulo para as empresas buscarem por novos destinos para seus produtos?
BARIONI –
 Sim. Nossa situação interna estimula os empresários a serem mais ativos no cenário internacional. Há também o fator dólar. Eles se aproveitam do câmbio favorável e traçam planos para exportação. Já estamos dando passos largos para inverter os resultados ruins da balança comercial, no primeiro trimestre. 

DINHEIRO – Qual é o principal entrave no comércio exterior? 
BARIONI –
 Atualmente, o principal entrave é a falta do conhecimento dos empresários sobre exportação. E aí faço até uma autocrítica em nome da Apex. Devemos ficar mais próximos dos empresários e mostrar que exportar não é um bicho de sete cabeças e que não envolve apenas questões burocráticas.

DINHEIRO – O escândalo da Petrobras tomou dimensão mundial. Isso afetou nossa credibilidade no exterior?
BARIONI –
 Não quero parecer otimista demais, mas tenho uma visão exatamente oposta. O ideal seria que não tivesse acontecido, mas isso mostra que o Brasil é um País sério e transparente. Porque nenhum país conduz um assunto delicado desses, com tanta profundidade, se não tiver uma democracia forte com instituições estáveis. Se eu fosse investidor e estivesse fora do Brasil, certamente diria: “lá é um lugar onde eu posso colocar meu capital.”

DINHEIRO – O Brasil é muito conhecido por estereótipos, como terra do futebol e do samba. A Apex explora essa imagem quando vai vender o país no exterior? 
BARIONI –
 Exploramos, embora estejamos buscando o lado mais tecnológico. Esse lado do futebol, samba e alegria já é conhecido. Então colocamos energia em capital no lado tecnológico no País. Temos muitas Embraers, que ainda não são conhecidas mundialmente. Queremos mostrar que somos bons nos setores de óleo e gás, semicondutores, energia renovável, robótica e medicina. 

DINHEIRO – O senhor diz que a Apex não é tão conhecida nacionalmente como deveria. Como planeja mudar isso? 
BARIONI –
 Queremos que, na veiculação de imagem das empresas que exportam com nosso apoio, conste o nome da Apex. Meu sonho é que, em pouco espaço de tempo, a agência seja tão conhecida quanto o Sebrae. Hoje, os principais desafios da agência são ser altamente conhecida e estimular as médias empresas a exportarem.

DINHEIRO – Há intenção de abrir novos escritórios no Exterior? 
BARIONI – 
Ainda não temos as definições, mas estamos reavaliando os que temos e o que iremos abrir. A única certeza é que montaremos mais um na China. Atualmente, contamos com nove escritórios pelo mundo, sendo um em Pequim, na China. A ideia é inaugurar um segundo, em Xangai, antes do final do primeiro semestre. Também estudamos a abertura de mais três escritórios em outras regiões, cuja localização será anunciada até o fim do primeiro semestre. Há muitos países interessantes para aumentarmos a relação, então, analisamos os que têm potencial com o Brasil. Uma vez feita a análise, elencamos os prioritários e checamos se está alinhado com a estratégia do governo.

DINHEIRO – A indústria vem perdendo cada vez mais participação no PIB. Como isso se refletiu no comércio exterior?
BARIONI – 
Quem cuida da política, do lado dos empresários, é a CNI, e do governo, o Mdic. Eles estão trabalhando para reverter esse cenário, e espero que trabalhem cada vez mais com perspicácia, porque nós precisamos. Hoje, a representação da indústria no PIB está na casa dos 12%, sendo que já representou 50%. Por outro lado, essa perda da indústria foi reposta pela exportação de prestação de serviço, que cresceu fortemente nos últimos cinco anos.