Nas últimas semanas, o noticiário econômico no Brasil foi dominado pelo acordo de salvamento da Grécia e pela crise fiscal do governo Dilma Rousseff. Os dois países travam uma luta obstinada por receitas que possam aliviar o quadro de penúria em que se encontram os cofres públicos. Além disso, os dois governos sofrem pressão popular contra a retirada de direitos trabalhistas e benefícios sociais, num contexto de paralisia econômica e crise política. Seria natural, e aparentemente lógico, alguém dizer que o Brasil se parece com a Grécia.

No entanto, a despeito de algumas semelhanças, a análise é precipitada e equivocada. Em primeiro lugar, recomenda-se cautela na comparação entre duas economias de tamanhos tão diferentes. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (US$ 2,4 trilhões) é dez vezes maior que o grego. Por outro lado, a renda per capita da Grécia (US$ 22 mil) é o dobro da brasileira. Portanto, temos uma economia muito maior, mas somos uma nação de indivíduos mais pobres. No quesito inflação, a disparidade também é enorme. Os preços por aqui sobem num ritmo de 9% ao ano, enquanto, na Grécia, a preocupação é com a deflação de quase 1,5% ao ano. Não é à toa que os juros brasileiros estão na Lua (13,75% ao ano) e as taxas gregas, no chão (0,05% ao ano).

O índice de desemprego brasileiro é um terço do registrado na Grécia, que chega a assustadores 25% e dobra de tamanho entre os jovens de até 30 anos de idade. Quando se foca o holofote para a questão fiscal, as comparações ficam ainda mais descabidas. Em que pese o rombo crescente nas contas públicas nos dois países, o buraco grego é muito mais profundo. Sua dívida bruta representa 177,2% do PIB, o que significa que o país precisaria trabalhar quase dois anos para quitar seus débitos, sem considerar os juros. No caso brasileiro, essa proporção é de 65,2%. Para as agências de classificação de risco, no entanto, o patamar saudável para um país receber o selo de grau de investimento é o de 50% do PIB, o que justificaria um eventual rebaixamento do Brasil.

Já a Grécia, sem o socorro europeu, poderia entrar no indefectível grupo de caloteiros – no fim de junho, o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras simplesmente deixou de pagar uma fatura de E$ 1,6 bilhão ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Diante de um cenário econômico caótico e com os bancos fechados há duas semanas, não restou a Tsipras outra alternativa, senão capitular na negociação com os credores, aceitando exigências amplamente rechaçadas no referendum do primeiro domingo de julho, como o aumento de impostos e corte nos benefícios sociais. “Fui chantageado, não havia nenhuma opção boa e eu escolhi a menos pior”, afirmou Tsipras, na quarta-feira 15, jogando para sua plateia esquerdista.

No dia seguinte, o Eurogrupo aprovou uma ajuda emergencial de E$ 7 bilhões à Grécia. Enquanto isso, no Brasil, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, seguia o seu périplo pelo Congresso Nacional, em busca de votos para os projetos que compõem o pacote fiscal. Para o ministro, é preciso “agir rápido” para não prejudicar o crescimento em 2016. Em comum, Levy e Tsipras estão com o pires na mão. A grande diferença é que o Brasil tem um volume de reservas internacionais (US$ 370 bilhões) muito maior que o da Grécia (US$ 6,3 bilhões). Na hora de falar grosso com a turma do FMI e das agências de classificação de risco, esse colchão de liquidez faz toda a diferença.