A segunda-feira 26 trouxe um presente de Natal atrasado para os brasileiros: o País ultrapassou o Reino Unido no ranking das maiores economias do mundo e passou a ocupar a sexta posição. Motivo para comemoração, claro, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu o necessário tom de realidade. Disse que o crescimento obtido pela economia num cenário internacional tão adverso era positivo, mas lembrou que os brasileiros só terão um padrão de vida semelhante ao europeu dentro de dez ou 20 anos. Isso se o Brasil trabalhar duro para continuar crescendo no ritmo atual ou até mais acelerado. Crédito para o ministro por não se contaminar pela euforia. 

 

Muito já foi feito e o Brasil tem o que celebrar com a melhoria de vida dos mais pobres. Mas o caminho ainda é longo. A renda per capita brasileira, de US$ 12,9 mil por ano, é maior do que a de alguns emergentes. Ganha da Índia (US$ 1,5 mil) e da China (US$ 5,1 mil),  mas perde para a Rússia – US$ 13,2 mil. A Europa ambicionada pelo ministro está bem longe. O Reino Unido, desbancado pelo Brasil, tem renda per capita três vezes maior – e uma população de 62 milhões de pessoas, menos de um terço da população brasileira. A taxa de analfabetismo dos britânicos também é a metade da nossa. E, em termos de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Reino Unido ocupa um privilegiado 28º lugar no ranking global, enquanto o Brasil está em 87º. 

 

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Temos muita sola de sapato para queimar… Para ocupar um lugar entre os primeiros no ranking que realmente interessa, o de qualidade de vida, é preciso investir no futuro. Já temos um razoável mercado consumidor, mas o País ainda carece de infraestrutura. Não só de estradas, pontes e portos, mas de uma boa infraestrutura social, de recursos humanos. O Brasil vai continuar recebendo uma enxurrada de investimentos para novas fábricas e serviços mais sofisticados. E o setor produtivo vai precisar de profissionais cada vez mais qualificados. Toda empresa sabe que tem que treinar seus funcionários para desempenhar tarefas específicas na área em que atua. Mas as deficiências brasileiras vão além. 

 

A Confederação Nacional da Indústria calcula que o País forma a cada ano metade dos 60 mil engenheiros de que precisa. Enquanto isso, as faculdades particulares de direito se proliferam, com alunos bolsistas dos programas do governo federal, e mensalidades que custam pouco mais do que um curso de inglês. É uma verdadeira distorção. Hoje já são 1,1 mil cursos em todo o Brasil, muitos carecendo de qualidade. A prova é a baixa aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Até o ano passado, o índice de aprovação era de apenas um aluno a cada dez inscritos. E o Brasil continua precisando de mais engenheiros do que de advogados. 

 

Uma mudança para valer nas condições de vida da população e um salto para uma economia mais sofisticada, com melhores empregos e renda, só são conseguidos com investimentos maciços em educação. Não apenas pequenas melhorias, como as que vêm ocorrendo, mas com mudanças estruturais. A queda no índice de desemprego – mesmo com a crise lá fora – é um exemplo de que a economia continua dinâmica. O Brasil precisa responder a esse dinamismo oferecendo à sua população a chance de melhorar de vida de verdade, e não apenas na comparação com quem foi mais duramente atingido pela crise, no caso, os britânicos.