O nascimento, na semana passada, do Acordo de Parceria Transpacífica, que cria um bloco monumental capaz de controlar 40% do PIB do mundo e reunir 12 países, entre eles os EUA e o Japão, pode ser visto como um grande desastre comercial para o Brasil. Isso porque, de uma maneira ou de outra, esse pacto deve afetar profundamente os negócios das empresas nacionais em diversas áreas. E encolher as chances de competitividade em praças nas quais nossas mercadorias tradicionalmente faturavam alto.

O Brasil ficou de fora da aliança – que inclui ainda os vizinhos Chile e Peru, entre outros – por obra e graça de decisões equivocadas do governo nos últimos 12 anos. Foi Lula quem, numa tentativa bolivariana de montar um bloco político e econômico hegemônico na região, repudiou entendimentos anteriores no ambiente da Alca e incentivou a aproximação com países ideologicamente próximos do PT, mesmo que neles não se encontrassem grandes oportunidades para crescimento da balança nacional.

A decisão política se mostrou um erro com consequências negativas enormes. A miopia tática de se manter atado ao Mercosul, sem abrir margem a acordos bilaterais, deixa o Brasil agora na anacrônica condição de pária, ausente dos principais fluxos de comercio global, mesmo tendo uma produção mais pujante que a da maioria dos integrantes desse bloco. É de se lamentar especialmente que o Brasil tenha, nos últimos tempos, concentrado ainda mais esforços no ambiente medíocre do Mercosul, aonde sobram ineficiência e protecionismo.

O abraço de afogados latino vai cobrar seu preço. Atualmente, cerca de 25% de tudo que o Brasil exporta foi destinado aos mercados hoje integrantes da TPP (como é definida em inglês a sigla do acordo recém-criado). Só no comércio agrícola a conta das vendas nacionais para essa região soma mais de US$ 300 bilhões. E, naturalmente, com a evolução dos entendimentos na TPP, essa participação deve encolher, cedendo lugar aos participantes do bloco que terão incentivos fiscais e de logística.

Perdido em tratados simplórios e de costas para os grandes compradores mundiais, o Brasil foi, pouco a pouco, se isolando, perdendo relevância e resultados. Segundo o FMI, já corre o risco de cair para a condição de nona economia do mundo e, nessa toada, pode perder ainda mais posições se não reverter rapidamente o processo e se desvincular das amarras que lhe prendem ao retrocesso continental, por questões meramente ideológicas.

(Nota publicada na Edição 937 da Revista Dinheiro)