Se uma imagem vale mais do que mil palavras, a foto da comitiva oficial que representou o Brasil no funeral de Nelson Mandela, no mês passado, vale milhões. Não só de palavras, mas também de números. Com a exceção do falecido presidente Itamar Franco, foram à África do Sul os maiores responsáveis pela moeda brasileira nos últimos 28 anos: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. É muita história em um só clique e reflete bem o Brasil de hoje: um país que não ousa esquecer o passado, mas que ainda está em busca de um futuro melhor. 

 

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Sarney e Collor fracassaram na adoção de políticas econômicas que levassem ao desenvolvimento sustentado e, ao mesmo tempo, preservassem o valor da moeda contra a grande vilã do País desde a redemocratização: a inflação. Fizeram estripulias heterodoxas para consertar a herança monetária maldita do regime militar e empurraram o Brasil ao precipício da hiperinflação, matando de vez as moedas que encontraram pelo caminho e, depois, as que eles mesmos inventaram. Uma após a outra, cruzeiro, cruzado e cruzado novo derreteram e levaram o poder de compra dos brasileiros ao fundo do poço, até que um governo tampão de improvável sucesso conseguiu um novo milagre econômico: o real. 

 

Essa moeda teve um embrião fecundado no governo Itamar (o cruzeiro real), com o Plano Real, em 1993, e veio ao mundo um ano depois, em 1º de julho de 1994. Daqui a seis meses, portanto, o Brasil completará 20 anos de estabilidade monetária. São duas décadas de profundas transformações na economia brasileira. De FHC a Dilma, passando por Lula, o real sobreviveu a crises internas e externas, fortaleceu-se e mudou o padrão dos negócios e, principalmente, da vida da população. Ao conquistar credibilidade – algo que não se compra, se constrói –, o dinheiro brasileiro ampliou a classe média e fez sua parte no resgate social merecido desde os tempos do Império.

 

Mas a inflação ainda persiste na incômoda casa dos 6% ao ano e o PIB acomodou-se num nível abaixo do desejado por um país emergente, apesar dos incentivos oficiais ao consumo e aos investimentos. O Brasil precisa reinventar-se, mas sem esquecer os erros do passado e os do presente. Se já temos moeda estável, o que nos falta? Vale a pena conferir as reflexões desta edição, na qual as principais cabeças pensantes e atuantes na saga do real, de FHC a Guido Mantega, analisam o passado e sugerem medidas para o futuro. Uma coisa é certa: 20 anos depois da estabilização, o Brasil avançou, mas os brasileiros merecem coisa melhor.