20/04/2022 - 10:49
Mídia alemã destaca volta do Carnaval no Rio, risco de propagação de notícias falsas nas eleições e a compra de comprimidos para disfunção erétil pelas Forças Armadas.Frankfurter Allgemeine Zeitung – O campo de batalha digital do Brasil (14/04)
Os números de usuários mostram o quão relevante são as mídias sociais no Brasil. Em uma comparação global, o país figura em terceiro lugar no ranking de uso diário. […] Mais de 70% dos aproximadamente 210 milhões de habitantes do Brasil utilizam esse tipo de mídia, uma das mais altas taxas do mundo. […]
O potencial de manipulação chamou realmente atenção no Brasil pela primeira vez durante a campanha eleitoral de 2018. Algumas das investigações mais reveladoras sobre o tema foram publicadas pela renomada jornalista Patrícia Campos Mello. Entre outros, ela revelou como empresas financiaram a criação de inúmeros robôs e perfis falsos para a disseminação de conteúdo em redes sociais. Por trás dessa ação, estavam também empresários que apoiam Bolsonaro. Um ano depois, o serviço de mensagens WhatsApp admitiu que mensagens automatizadas foram enviadas em massa durante a campanha eleitoral de 2018. […]
O Brasil está, de qualquer forma, na iminência de uma campanha eleitoral bastante hostil. Atualmente, tudo indica que haverá um segundo turno entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. […] O cenário é um terreno fértil para fake news, difamações e teorias conspiratórias. “Naturalmente, estou preocupado”, diz o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso [ele presidiu o Tribunal Superior Eleitoral até fevereiro deste ano]. Segundo ele, o Brasil está melhor preparado do que em 2018, mas os fanáticos sempre encontram novas maneiras de disseminar desinformação. Uma estratégia que não é nova, acrescenta Barroso: “Vimos isso com o Trump”.
Bolsonaro também se espelha em Trump – e o almeja. Durante uma live no YouTube, no ano passado, Bolsonaro disse que o sistema de votação eletrônico do Brasil era inseguro e propenso a fraudes eleitorais. Anteriormente, ele alegara que os resultados das duas últimas eleições, inclusive quando venceu, em 2018, haviam sido manipulados. Até hoje, Bolsonaro não forneceu as provas prometidas. Ainda que apenas uma pequena parcela da população brasileira compartilhe da desconfiança de Bolsonaro em relação ao sistema eleitoral, considerado extremamente seguro e eficiente, o presidente “lançou as sementes da dúvida”, como diz a jornalista Campos Mello.
“Ele faz como o Trump”, diz ela. “Todos nós vimos, por meio da invasão do Capitólio, o que pode acontecer”. O próprio Bolsonaro, há alguns meses, promoveu o desfile de tanques em frente ao palácio presidencial, exatamente quando o Congresso votava um ajuste no sistema eleitoral – uma provocação no mundo analógico.
Neue Zürcher Zeitung – O Rio de Janeiro vai dançar de novo (20/04)
Enfim haverá Carnaval em 2022! Na quarta-feira, começa o “Carnabril” no Rio de Janeiro. É o “Carnaval em abril”, como o mês é chamado em português. Pela primeira vez, a festa não acontecerá na data tradicional, mas sim dois meses depois. A pandemia forçou os organizadores a tomarem esse rumo incomum. No final de fevereiro, o Brasil enfrenta a terceira onda de covid-19, com cerca de 100 mil infecções e quase mil mortes por dia.
Agora, a pandemia acabou, é o que se ouve por toda a parte no país sul-americano. No domingo, o Ministério da Saúde anunciou o fim do estado de emergência. No próprio Rio, máscaras não são mais obrigatórias em lugares fechados.
Desta forma, na quarta e na quinta-feira, as escolas de samba da segunda divisão irão desfilar. Na sexta-feira e no sábado, as 12 escolas de samba do Grupo Especial competirão pelo título deste ano. Cantando e dançando, os integrantes das escolas desfilam pela avenida de 700 metros do Sambódromo, cujas arquibancadas podem acomodar 70 mil pessoas […]
O Carnaval no Sambódromo é um impressionante espetáculo de criatividade e talento organizacional em uma cidade habitualmente caótica.
Transmitido para todo o mundo, o espetáculo é extremamente lucrativo. […] Os hotéis do Rio ficam quase que totalmente lotados. Dezenas de milhares de empregos dependem dos desfiles, desde os artistas, dançarinos e músicos até os artesãos e trabalhadores que constroem os carros alegóricos. […]
Já o Carnaval de rua, por outro lado, não acontecerá – ao menos não de maneira oficial, com organização pública. Simplesmente porque não houve tempo para organizá-lo, segundo explicou o prefeito, Eduardo Paes, ainda em janeiro. Isso irritou não somente os 506 grupos carnavalescos, chamados de “blocos”, que existem no Rio, mas também os cidadãos comuns que não têm condições ou não querem pagar pelos caros ingressos para os desfiles no Sambódromo. […]
O fato de o Carnaval pode ocorrer apenas no Sambódromo e não nas ruas enfureceu muitos. Especialmente porque a cidade havia anunciado inclusive multas a quem infringisse a norma.
Na semana passada, 140 grupos publicaram uma nota de protesto. […]
O movimento acusa a cidade de querer comercializar ainda mais o Carnaval. O desfile no Sambódromo é apoiado por diversos patrocinadores. […] A nota de protesto teve efeito. A administração municipal anunciou que os cidadãos não serão mais impedidos de festejar nas ruas. Também não se fala mais em multas. Desta forma, muitos blocos podem desfilar pelas ruas, mas sem a devida organização. O Rio enfrentará literalmente “dias loucos”.
Süddeutsche Zeitung – Militares em crise de meia-idade? (16/04)
Uma das regras não escritas da internet é que, quanto melhor for para fazer piadas de um escândalo e os seus envolvidos, maiores círculos eles atraem. O Exército brasileiro está vivenciando isso na pele: a instituição teria adquirido aos montes comprimidos para disfunção erétil, às custas dos contribuintes. Agora há muitas críticas, mas acima de tudo deboche e malícia. Mesmo a habitua exigência decconsequências “duras” para tais deslizes, não se sabe realmente o que significa: foi sério ou apenas uma brincadeira? […]
Mal saíram as notícias, começaram as piadas: caricaturas de tanques de guerra com canhões “impotentes”, também trocadilhos sobre o “firme” exército. Nem todas são manifestações sérias devido à “impotência” diante do escândalo. […]
Essas piadas, porém, escondem um problema sério. Enquanto os militares brasileiros estocam viagra, o sistema de saúde pública do país tem sofrido com a escassez de todos os tipos de medicamentos nos últimos anos. As consequências da pandemia também continuam na memória de muitos brasileiros: ela foi tão devastadora aqui porque o governo deixou propositalmente de comprar vacinas com antecedência. Na época, o ministro da Saúde era Eduardo Pazuello, um general sem formação médica que desempenhou um trabalho tão ruim que acabou apelidado de “pesadelo”. Muitos brasileiros agora se perguntam como os militares podem ter lidado com questões de ereção enquanto o país estava atolado no caos da covid.
Isso também tem consequências políticas: o Exército é um importante pilar para Jair Bolsonaro. O chefe de estado brasileiro já foi capitão das Forças Armadas. Ele colocou uma série de militares em cargos importantes. O vice-presidente é membro do alto escalão militar e, nas eleições de outubro, Bolsonaro deverá concorrer com um general ao seu lado. A campanha já começou há muito tempo, mas, enquanto Bolsonaro gostava de enfatizar sua virilidade e afirmava ser “imbroxável”, ele deve conter tais comentários nos próximos meses, afinal, houve piadas ruins suficientes nos últimos tempos.
gb/cn (ots)