Archibald Cox, presidente do conselho do Barclays Capital, caminha a passos largos pela sala de negociação da subsidiária do banco no Brasil, medindo o ambiente. “Comecei a trabalhar no mercado em 1964, e naquela época o banco em que eu trabalhava cabia inteiro em uma sala de operações como essa”, diz Cox. Hoje a situação é bem diferente. As instalações brasileiras do banco britânico ocupam dois andares de um prédio sofisticado na zona sul de São Paulo. O espaço representa pouco no universo do Barclays, mas isso deve mudar. O Barclays emprega 147 mil pessoas, está em 50 países, tem 48 milhões de clientes e quer disputar fatias crescentes do mercado. 

 

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Archibald Cox: ”A mudança de governo não é uma preocupação para os investidores internacionais”

 

O banco tem pressa. Em 2008, ele tentou adquirir o banco de investimentos americano Lehman Brothers, mas a transação foi barrada pelas autoridades inglesas. Depois que o Lehman faliu, em agosto daquele ano, o Barclays comprou parte de suas atividades por US$ 1,75 bilhão. 

 

Concluída a integração das operações, os números mostravam que seus resultados dependiam pesadamente do volátil mercado de capitais. Em 2010 e nos próximos anos, 80% dos lucros virão daí. 

 

O ritmo lento do crédito do Reino Unido, onde se concentra a maior parte das atividades de varejo do Barclays, força o banco a diversificar suas atividades. Além do Brasil e da China, que contam com unidades mais estruturadas do banco, o foco está na Rússia (onde o Barclays comprou um banco em julho) e na Índia (onde foram inauguradas duas unidades este ano). “Elas serão as economias mais dinâmicas nos próximos anos”, diz Cox. 

 

Cox não detalha a estratégia global, mas confirma a ênfase na expansão fora do Reino Unido. Para isso, a partir do início de 2011 haverá uma troca de comando na matriz. Sai John Varley, que conduziu o banco durante a crise, entra Robert Diamond, que vinha respondendo pelo banco de investimentos, formado no mercado americano e com um perfil mais agressivo. 

 

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Absorção de áreas do pivô da crise financeira de 2008 deixou os resultados do Barclays

muito dependentes das atividades de banco de investimentos

 

A meta é manter o crescimento internacional na casa dos dois dígitos. Nada mal para quem, dois anos atrás, teve de recorrer a investidores do Oriente Médio em busca de recursos e foi obrigado a vender parte de suas atividades de gestão de recursos e administração de fortunas para não ter de pedir  socorro ao governo britânico. Hoje o Barclays aposta fora da Inglaterra. 

 

Na Europa, com exceção da Alemanha, as perspectivas devem ser fracas nos próximos dois ou três anos. Segundo o analista britânico Robin Savage, da corretora Collins Stewart, os bancos europeus com musculatura global devem tentar crescer fora da Europa. “O melhor para eles é vender as atividades que rendem pouco em mercados maduros e destinar os recursos a locais mais dinâmicos”, escreveu ele em seu relatório mais recente.

 

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Robert Diamond: novo executivo-chefe tem formação americana e promete uma atuação mais agressiva

 

No Brasil, onde a subsidiária é comandada por Alceu de Amoroso Lima Neto, a atuação concentra-se no mercado corporativo e de capitais, estruturando operações de fusões e aquisições, lançamento de títulos de dívida e obtenção de empréstimos para empresas grandes. 

 

Alguns dos negócios estruturados pelo banco este ano foram a compra da americana Burger King pela 3G, de Jorge Paulo Lemann, a controversa venda da empresa de telefonia GVT para a francesa Vivendi e o investimento da CME Group, controladora da Bolsa de Chicago, na BM&FBovespa. 

 

Para Cox, a maior parte das oportunidades vai surgir dos investimentos em infraestrutura no mercado interno. “A economia brasileira vem mostrando sinais de crescimento sustentável nos últimos anos”, diz ele. O novo governo, avalia, não representa uma preocupação. 

 

Cox afirma que os investidores internacionais veem o Brasil como um país em que as regras são estáveis e os fundamentos da economia são sólidos. A transição do carismático Luiz Inácio Lula da Silva para Dilma Rousseff não preocupa, diz ele. Nem mesmo uma eventual redução da independência do Banco Central? 

 

“O que os investidores querem ver é uma política fiscal responsável, em que o governo esteja comprometido a gastar menos do que arrecada e não amplie excessivamente seu endividamento, e até agora esses são os sinais do novo governo”, diz ele. 

 

Por isso, Cox deverá visitar mais frequentemente o Brasil nos próximos meses. “Vamos fazer muitos negócios por aqui”, diz ele. O que poderá representar a necessidade de mudar para uma sede maior.