Na campanha à Presidência, a candidata Dilma Rousseff disse que a educação seria a prioridade das prioridades do seu governo e o passo seguinte para o fim da miséria no Brasil. 

 

No cargo, inovou ao fazer seu primeiro pronunciamento em cadeia de rádio e tevê justamente sobre o assunto, no início do ano letivo: “Estou aqui para reafirmar o meucompromisso com a melhoria da educação e convocar todos os brasileiros e brasileiras para lutarmos juntos por uma educação de qualidade”, afirmou. Começou bem. Pelo menos no discurso.

 

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O ensino melhorou na última década, como atestam o Banco Mundial e o Programa Internacional de Avaliação de Alunos. Mas não há motivo para condescendência, já que o País ainda está abaixo da média da OCDE (grupo dos países mais avançados) e dos orientais. 

 

Mesmo com os avanços, que em matemática colocam o Brasil como tendo melhorado o equivalente a um ano letivo em uma década, o País ainda está na base dos rankings internacionais. O que surpreende é que não se gasta pouco em educação por aqui. 

 

O País investe no setor 5,2% do PIB, mais ou menos a mesma proporção da maioria dos países europeus e mais do que países com resultados muito melhores, como a Coreia do Sul, que investe em educação 4,2% do PIB. 

 

Um dos problemas é a alocação de recursos públicos, que privilegia o ensino superior. Enquanto a média dos países da OCDE gasta com educação superior o dobro do que investe no ensino básico, no Brasil a proporção é de seis vezes mais para o ensino superior.

 

A falta de eficiência dessa política fica evidente nos resultados. Com o crescimento da economia em 7,5% no ano passado e o desemprego na faixa dos 6%, o país tem carência de profissionais qualificados. 

 

Se os recursos públicos estivessem contribuindo para a formação de uma massa de brasileiros bem formados, isso não estaria acontecendo. Faltam  engenheiros, tanto na indústria quanto na construção civil. Mas o problema já se espalhou por outros setores da economia. 

 

Ao mesmo tempo que faltam profissionais para preencher as vagas nas empresas, há um contingente enorme de desempregados que está fadado a permanecer nessa condição. São os “inimpregáveis”, que não conseguem trabalho por falta de qualificação. 

 

Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada mostra que, nos últimos cinco anos, o desemprego entre os 10% da população com maior renda familiar caiu de 2,1% para 0,9%. No mesmo período, o desemprego dos 10% com menor renda aumentou de 23,1% em 2005 para 33,3% em 2010. 

 

Ou seja, entre os mais pobres, o índice é 36 vezes maior. Considerando a evidente relação entre a renda e a escolaridade, fica fácil ver quem não está conseguindo aproveitar o bom momento da economia.

 

Ainda há esperança de que as coisas mudem de verdade daqui para a frente, como prometeu a presidente. Mas os primeiros indícios não são muito animadores. 

 

No corte do Orçamento divulgado na semana passada, a tesoura não poupou o Ministério da Educação, que contribuiu com R$ 3 bilhões, pouco mais de 10% dos gastos não obrigatórios. 

 

O ministro Fernando Haddad lembra que o orçamento total ainda é superior ao do ano passado e garante que todos os programas estão mantidos. E que o volume de recursos aumentou quatro vezes em relação a 2002. Que venham os resultados.