06/03/2010 - 13:43
DINHEIRO ? A sra. é candidata à reeleição?
MARTA SUPLICY ? Em lugar de reeleição prefiro falar em reconstrução. Peguei a cidade devastada e logo comecei
a cumprir minhas promessas de campanha, implantando
nove projetos sociais que hoje atendem mais de 1 milhão
de pessoas. O que posso dizer é que sou a candidata do
presidente Lula. Fiquei contente com isso.
DINHEIRO ? O presidente da Fiesp também está pensando
em se candidatar.
MARTA ? Até perguntei a ele: ‘Vamos disputar, Horácio??. Ele disse: ?Deus me livre, não tenho intenção de entrar nisso?. Não sei se foi sincero ou político. O Horácio engrandeceria o processo. Quanto a mim, estou na vida pública para o que der e vier.
DINHEIRO ? Quando a sra. foi candidata, ser mulher ajudou. E agora, a condição feminina ajuda ou atrapalha a ser prefeita?
MARTA ? Como candidata, ser mulher é sempre positivo. Há um desejo da mulher em ocupar postos importantes. No Executivo, depende de como você se coloca.
DINHEIRO ? Há preconceito?
MARTA ? Não tenho dúvidas de que a mídia trata a mulher
no Executivo de modo preconceituoso. O tratamento que dão
para mim nas questões de roupa, sobre como passo o tempo livre, como trato o companheiro, como trato a separação, o que faço ou deixo de fazer… Em relação a tudo isso o tratamento é absolutamente preconceituoso.
DINHEIRO ? A sra. deixou de fazer algo que antes fazia?
MARTA ? Taí um lindo exemplo de preconceito. Vocês não
fariam isso com um homem.
DINHEIRO ? Não há preconceito. A pergunta é simples: a sra. deixou de fazer algo por causa da exposição negativa?
MARTA ? Vocês não fariam essa pergunta a um homem.
DINHEIRO ? Seu temperamento atrapalha, prefeita?
MARTA ? Mulher, quando fala o que pensa, não é uma mulher assertiva. É temperamental. Eu não sou temperamental. Eu defendo tudo em que acredito e compro as brigas que vierem. Já debati a questão da mulher na política sem ter consenso e fiz a mesma coisa em relação aos homosssexuais na sociedade. Agora, estou propondo a questão da taxa de lixo, que tem a ver com aterros sanitários e coleta seletiva. Daqui a dez anos vão falar: ?puxa, somos a única cidade grande da América do Sul que tem coleta seletiva de lixo.
DINHEIRO ? A sra. se considera a frente do seu tempo?
MARTA ? Eu sempre captei muito o que a sociedade irá pensar mais à frente. A resposta é sim.
DINHEIRO ? A sra. vai dizer que a pergunta é machista, mas a sua vida privada não se misturou demais com a sua vida pública?
MARTA ? É machismo mesmo. O Aécio (Neves, governador de Minas) misturou demais a vida dele? O Jarbas (Vasconcellos, governador de Pernambuco) misturou? Eu assumi uma relação. Fui morar junto. Isso foi absolutamente inédito. Ou você conhece um político que assim que assumiu seu mandato se separou e assumiu uma relação? Fui coerente e descobrimos em pesquisas que não havia todo esse impacto. Ele ocorreu por causa da imprensa, que colocava Luiz Favre como franco-argentino, não brasileiro, e o senador (Eduardo) Suplicy como coitado. Criou-se um caldo muito difícil.
DINHEIRO ? Mas a sra. fez isso depois da campanha. Na
campanha as pessoas achavam que a sra. tinha um casamento perfeito, havia beijos na televisão, e no dia seguinte à eleição descobriu-se outra situação…
MARTA ? Eu tinha um casamento muito bom com o Suplicy e tenho uma relação muito boa com ele, mas isso não implica que a pessoa não possa ter um encantamento por alguém. Nada me obrigaria a assumir, como fiz. Muitos políticos tem vida dupla, não é?
DINHEIRO ? Quais são seu planos administrativos imediatos?
MARTA ? Em agosto vamos inaugurar 19 centros educacionais e de lazer nos bairros mais pobres de São Paulo. Cada um deles terá três piscinas, creche, teatro, biblioteca, aulas de dança e de música, com duas orquestras, de sopro e corda, e fanfarra. Os instrumentos estarão todos comprados, mas talvez eu não entregue tudo porque só de violinos são 400. Não há produção suficiente no Brasil. Disseram que só o processo de desapropriação levaria dois ou três anos, mas fizémos tudo em seis meses. Pagamos os terrenos à vista. O (João) Sayad (secretário das Finanças) está fazendo um trabalho brilhante de saneamento das finanças municipais.
DINHEIRO ? A sra. tentou fazer Sayad ministro da Fazenda?
MARTA ? Eu não tentei fazer nada no governo Lula. Me considero uma grande cabo eleitoral dele e tenho acesso direito à Presidência. Quando veio a lista para os prefeitos preencherem cargos federais, disse que não precisava disso.
DINHEIRO ? O prefeito do Rio, Cesar Maia, disse que a sra.
atraiu para São Paulo o congresso da Unctad por ser amiga do presidente Lula.
MARTA ? É indelicado colocar, mas quem quer fazer qualquer coisa no Rio de Janeiro hoje? Adoro o Rio, mas dizer o que ele disse é uma forma de negar a competência de São Paulo. Na disputa pelas Olímpiadas, realizamos investimentos, contratamos uma consultoria internacional e fizémos um dossiê completo. O Rio, não. Infelizmente.
DINHEIRO ? Na sua relação com o partido, quem é mais forte?
MARTA ? Minha relação com o PT é ótima. Como sou mais efusiva, pode parecer que fico à frente do partido, mas não é assim. Eu decido, mas pergunto, divido. Não dá para ser vice-presidente do PT se não for assim.
DINHEIRO ? A senhora gosta da política econômica do governo Lula?
MARTA ? O ministro (Antônio) Palocci
tem o meu apoio integral e absoluto.
Ele é perspicaz e tem uma visão
petista do que fazer.
DINHEIRO ? E as críticas da professora Maria da Conceição Tavares à equipe dele?
MARTA ? Conceição para mim é um pessoa sempre muito querida, mas não concordo com suas críticas. E também acho que essas críticas não deveriam ser feitas com adjetivos, mas com conteúdo.
DINHEIRO ? A sra. concorda com o ex-ministro Pedro Malan quando ele diz que governos sérios sempre tomam as mesmas medidas econômicas?
MARTA ? Não. Malan sabe tão bem quanto nós a situação em que estava o Brasil quando Lula assumiu. Dizíamos que teria de haver um período de transição e é o que está acontecendo. A transição está evoluindo bem. O Brasil nunca esteve em tão boas mãos.
DINHEIRO ? A sra. está fazendo uma gestão de esquerda?
MARTA ? Meu governo é absolutamente de esquerda. Nossos investimentos estão direcionados para os distritos da pobreza. Com o renda mínima, diminuímos a evasão escolar em certos bairros em 44%. Homicídios caíram 10% e a arrecadação de ISS subiu 9%. Se não fosse de esquerda, jamais daria um milhão de uniformes escolares para as crianças nem todo o material escolar.
DINHEIRO ? A sra. encheu a cidade de obras. Esse não é o jeito
da direita administrar?
MARTA ? Tenho menos obras do que gostaria. E mais problemas do que esperava. Como temos de fazer licitação para tudo, muitas vezes passamos obras a empresas de quinta categoria, com preços menores. Elas trabalham três, quatro meses e fecham as portas. A maioria das obras pára por isso.
DINHEIRO ? A sra. está perdendo a guerra com os empresários de ônibus, haja visto as greves e protestos?
MARTA ? Imagina! Já ganhei essa briga. Eles achavam que eu
não iria enfrentá-los, mas as concessões já estarão prontas no segundo semestre. Lembro que estava viajando e meu ex-secretário de Transportes (Ricardo) Zaratini fazia uma reunião com eles. Eu telefonava e dizia ?não ceda, não ceda?. Ele respondia que iria ter greve. E eu insistia: ?se este é o preço a pagar para melhorar o sistema, vamos pagar?.
DINHEIRO ? Qual é o seu plano para o setor?
MARTA ? Trata-se do melhor projeto de transporte coletivo já
feito aqui, com catracas eletrônicas e novos terminais na periferia. Haverá microônibus com ar condicionado e todos viajarão sentados. Os passageiros terão cartões eletrônicos que, com uma só tarifa, terão validade de duas horas.
DINHEIRO ? A sra. tem dinheiro para isso?
MARTA ? Não tinha, mas fui ao BNDES, adequei um empréstimo
que fora pedido pelo (Celso) Pitta e obtive R$ 700 milhões para a construção de terminais e das linhas do antigo fura-fila, que agora
vai chamar Paulistão e terá um percurso muito maior, para muito
mais gente. Não consegui tirar esse dinheiro antes porque era o governo Fernando Henrique.
DINHEIRO ? E os perueiros?
MARTA ? Eram 30 mil no começo do meu governo e agora são apenas 6 mil, todos credenciados. Eles completam o sistema. O melhor para São Paulo é o metrô, mas os governos estaduais pouco fizeram. São Paulo e a Cidade do México começaram seus metrôs nos anos 60. Hoje, temos 57 quilômetros de linhas. Eles, 200 quilômetros.
DINHEIRO ? Como a sra. compara a sua administração com a do governador tucano Geraldo Alckmin?
MARTA ? Ele é muito gentil comigo, mas o que eu sinto é:
?Escola de Marta não tem merenda?. Temos 887 escolas e se
há um problema em dez, é esse o destaque na mídia. Mas se
ocorre qualquer coisa na Febem ou no Rodoanel, isso nunca é atribuído ao governador. Impressionante! Por que a creche é
minha e a Febem não é de Alckmin?
DINHEIRO ? Visto de dentro, o governo não parece mais cor-de-rosa do que o enxergado pelos cidadãos do lado de fora?
MARTA ? Acho que sim. Aqui temos feito uma revolução, mas muitas informações não chegam ao público. Quando entramos, a cidade tinha disponibilidade de caixa para três dias, hoje é para 45 dias. Sayad tem conseguido 100 milhões de reais por ano com aplicações. Pegamos a cidade com 60 piscinas e só 20 funcionando, mas até 2004 todas estarão recuperadas. As pessoas não sabem disso.