20/07/2020 - 20:15
É cada vez mais urgente que o País adeque o consumo de recursos à capacidade natural de regeneração dos biomas, criando uma economia verdadeiramente sustentável, avalia Eduardo Marson, sócio da empresa de precificação e monetização de florestas Global Forest Bond. “O Brasil tem que abraçar a biocapacidade e oferecê-la ao mundo”, diz Marson.
O executivo deu sua opinião sobre o tema hoje (20), durante a live da IstoÉ Dinheiro. Em conversa com o editor de negócios da revista, Hugo Cillo, Marson destaca “o mercado de meio-ambiente” e a enorme potencialidade do Brasil em ser o “celeiro do mundo” não só nos produtos do agronegócio, mas também naqueles gerados pela conservação do meio-ambiente e de florestas conservadas.
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“A pandemia mostrou que o mundo está desequilibrado. Estamos no cheque especial da terra há muito tempo e só nós temos a biocapacidade de vender para o mundo”, avalia.
Segundo a WWF (World Wide Fund for Nature), biocapacidade é a possibilidade dos ecossistemas proverem matéria biológica para utilização humana e absorverem os resíduos – gerados direta ou indiretamente – pela humanidade. Isso usando as atuais formas de manejo do solo e tecnologias de extração. “É a capacidade dos biomas se regenerarem”, explica Marson.
Ele afirmou que as empresas mais sérias são as mais preocupadas com a questão ambiental. “Não só porque elas precisam de certificações para mandar o produto para o exterior, mas porque elas sabem que não conseguem vender um pedaço de bife lá fora se não for comprovado que o pasto daquele rebanho não era em área de floresta”, diz.
Mais conhecido por sua carreira de quase 30 anos como executivo no setor aerosespacial e de Defesa, 15 deles como CEO da Airbus Brasil e da Helibras, Marson agora é empreendedor num mercado ainda pouco explorado no País. A ideia dele na Global Forest Bond é integrar, por meio de produtos financeiros, a economia global e a preservação dos ecossistemas.
O executivo entende que o Brasil deve garantir que os serviços ambientais sejam devidamente incorporados à economia, por meio de títulos financeiros que remuneram as áreas de florestas.
Dessa forma, essas áreas passam a gerar recursos financeiros para seus proprietários, sejam eles públicos ou privados, acabando com a pressão pelo desmatamento e remunerando de forma justa todos os atores das cadeias de produção.
Ele afirma que a pauta do meio-ambiente para o País, “não é só uma questão de imagem das empresas, mas uma questão de sobrevivência, de negócios”. “A gente tem uma capacidade de dobrar o PIB [Produto Interno Bruto], se souber e conseguir precificar os biomas”, avalia.
O executivo diz que o atual modelo de produção e consumo não reconhece, de forma ampla, a importância dos serviços prestados pelo meio ambiente. Na entrevista, ele afirma acreditar que é possível financiar o desenvolvimento sustentável por meio de relações ganha-ganha, remunerando de forma justa todos os atores das cadeias de produção por sua contribuição com a preservação.
“É um novo produto do agro, que contabiliza todos os serviços ecossistêmicos a partir de uma commodity. Daí, a gente monta um sistema de precificação e com isso consegue-se emitir uma cédula ao produtor rural que pode ser negociado no mercado com uma pegada ambiental.”
Marson destaca que o momento no qual o antiambientalismo do governo Bolsonaro começa a cobrar um preço alto tanto no que diz respeito à natureza quanto à economia, com ameaça de boicote aos produtos brasileiros no exterior.
“O esporte nacional é politizar assuntos que devem ser deixado para ciência. O erro é que o Brasil estava com uma agenda de desburocratização da questão do meio-ambiente e o resto do mundo já era pauta”, diz.
No entendimento do empresário, o País terá que puxar o freio de arrumação para reorganizar a setor ambiental. “Esse é um risco efetivo para a economia brasileira, apesar de não acreditar num boicote total as empresas brasileiras, mas é uma indicação muito forte que as coisas não estão bem. Estamos errando por falta de uma visão sistêmica”, conclui.