30/04/2008 - 7:00
DINHEIRO ? Qual é a importância do Brasil para o Grupo Espírito Santo? RUGERONI ? O Brasil tem uma relação histórica com o nosso grupo, aqui nós temos uma posição importante na área financeira. Há dez anos, o GES considerou o turismo como uma área estratégica de expansão da empresa. A partir daí, o grupo priorizou desenvolver projetos em países nos quais Portugal tem investimentos. O Brasil, no caso, representa cerca de 15% do nosso investimento total. Nos próximos cinco anos, deverá representar entre 25% e 30% do nosso volume de negócios.
DINHEIRO ? O sr. considera a economia brasileira favorável para futuros investimentos no turismo?
RUGERONI ? Basicamente, no Brasil, existem dois aspectos considerados importantes para investimentos no turismo. O primeiro deles é o fato de o Brasil estar com uma inflação controlada. Ao contrário de algumas expectativas, depois da entrada do presidente Lula no governo, a economia brasileira caminhou rumo à estabilidade. E, com a tendência de investment grade, que deverá ser confirmada ainda este ano, esse quadro se torna interessante para o nosso grupo.
DINHEIRO ? Qual é o segundo aspecto?
RUGERONI ? O segundo aspecto é que o governo federal vem anunciando importantes investimentos na área de infra-estrutura. Isso permitirá o desenvolvimento de toda a cadeia de turismo.
DINHEIRO ? Apesar de existirem fatores favoráveis, quais são as dificuldades que o investidor estrangeiro encontra para investir em empreendimentos turísticos no Brasil?
RUGERONI ? O primeiro ponto é a legislação. Mesmo com suporte técnico, o investidor perde muito tempo para analisar o que é possível e o que não é possível fazer.
DINHEIRO ? Existem outras dificuldades?
RUGERONI ? Sim. O Brasil ainda tem uma visão de turismo muito pequena. Aqui se fala em seis milhões de turistas por ano. Portugal, por exemplo, que é um país muito menor em território, recebe 12 milhões de turistas por ano. Esse quadro negativo para o Brasil está associado à questão de falta de infra-estrutura, como transporte aéreo e segurança. Existem poucas companhias aéreas voando para cá. Cabe à ministra Marta Suplicy promover a abertura desses vôos. Esse será o seu grande desafio. O País precisa de mais hotéis, mas o investidor só quer investir se houver mais vôos. Sem falar nos problemas de segurança, que inibem a vinda do turista.
DINHEIRO ? Quais são os principais projetos turísticos do GES no Brasil? RUGERONI ? Do ponto de vista estratégico, nossas atividades estão divididas em três pilares. O primeiro está ligado ao desenvolvimento de nossa bandeira Tivoli. Nos próximos cinco anos, iremos construir quatro resorts. O segundo pilar é desenvolver outros projetos, não necessariamente com a marca Tivoli. Podem aparecer outras oportunidades para desenvolvermos projetos imobiliários de turismo com uma outra bandeira internacional. Por último, nós temos uma participação institucional de 10% na Invest Tur (empresa listada na Bovespa que investiu R$ 933 milhões no setor de turismo em 2007), que também poderá ser uma parceira em novos projetos.
DINHEIRO ? Como serão esses resorts?
RUGERONI ? Os destinos ainda estão sendo estudados, mas as áreas de interesse, por enquanto, são Recife, Natal, Fortaleza e Alagoas. São áreas que têm entre 50 hectares e 100 hectares, que abrigarão resorts com até 170 apartamentos e terão uma média de 180 a 250 residências. Todos serão de frente para o mar e a 85 quilômetros de distância de um grande aeroporto.
DINHEIRO ? Além dos resorts que serão construídos, o GES adquiriu, em 2006, um resort na Praia do Forte, litoral norte da Bahia. Quais são os planos do grupo para este empreendimento?
RUGERONI ? Este resort passará a se chamar Tivoli Praia do Forte EcoResort. Entre 2006 e 2007, investimos R$ 3,7 milhões em reformas na recepção, nos restaurantes, nas áreas úteis e em 100 apartamentos. Investiremos mais R$ 15,5 milhões até 2010 na reforma das cozinhas, de mais 100 apartamentos e nos detalhes operacionais, como a rede de internet.
DINHEIRO ? O que mais será feito neste resort?
RUGERONI ? Injetaremos R$ 50 milhões na construção de 45 residências de três a cinco dormitórios, que terão entre 350 e 490 metros quadrados de área construída. Os proprietários dessas casas poderão usufruir de toda a estrutura do hotel, que irá cuidar das residências na ausência de seus donos. Aliás, esse mesmo conceito será aplicado em todos os outros resorts que serão construídos no Brasil.
DINHEIRO ? Existe uma previsão para a conclusão das obras?
RUGERONI ? O início de construção das casas está previsto para o primeiro semestre de 2008 e a conclusão da obra deverá ocorrer entre 18 e 24 meses depois que for iniciada.
DINHEIRO ? Qual o conceito de resort que o grupo vai desenvolver no Brasil?
RUGERONI ? Para nós, o resort é um componente imobiliário e hoteleiro. Na Praia do Forte, por exemplo, nosso foco principal é a família que busca três coisas no resort, o bem-estar, a boa comida e, por último, um ótimo spa de 4,2 mil metros quadrados. Tratase de um hotel com cara de pousada. Este modelo só funciona aqui no Brasil.
DINHEIRO ? Quais são os resultados esperados nestes projetos? RUGERONI ? Esperamos obter o retorno do investimento em aproximadamente dez anos.
DINHEIRO ? Os donos do mega-resort Costa do Sauípe, na Bahia, não conseguiram recuperar os R$ 330 milhões investidos no empreendimento em 2000 e as bandeiras hoteleiras estão saindo de lá. Mesmo com esse quadro, o sr. mantém o otimismo em relação aos investimentos que o Grupo Espirito Santo está planejando para o Brasil?
RUGERONI ? Sim, mantenho o otimismo. Além disso, o secretário de Turismo da Bahia acabou de anunciar uma importante verba publicitária que será destinada para promover a Bahia em Portugal, que é um dos nossos principais mercados.
DINHEIRO ? O sr. classifica a situação do Costa do Sauípe como um caso isolado? É possível afirmar que houve má administração nesse caso? RUGERONI ? Não estou habilitado para comentar a gestão deles. No entanto, considero o Costa do Sauípe um produto não diferenciado e muito grande. No mercado competitivo de hoje, isso dificulta a rentabilização do empreendimento.
DINHEIRO ? Existe uma estratégia básica para que um resort não passe por isso no futuro?
RUGERONI ? A receita é ter uma definição clara do mercado-alvo e criar as condições de diferenciação no produto e nos serviços.
DINHEIRO ? Quais são os outros empreendimentos turísticos que o grupo pretende construir?
RUGERONI ? Além dos resorts que serão construídos no Brasil e de um hotel com 280 apartamentos em Portugal, o GES está estudando construir um resort em Cabo Verde. É uma área de 700 hectares com, no mínimo, três hotéis. Como lá a maioria das propriedades pertence ao governo, ainda estamos aguardando uma resposta das autoridades locais.
DINHEIRO ? Existe algum serviço diferenciado que a bandeira Tivoli oferece aos seus hóspedes?
RUGERONI ? Nossos hotéis são muito diferentes uns dos outros. Temos desde palácios até hotéis de negócios. Portanto, o grupo definiu uma estratégia de ligação entre eles. Iremos adotar para todas as unidades Tivoli o que chamamos de hotéis de experiências.
DINHEIRO ? Como irá funcionar essa novidade?
RUGERONI ? Um exemplo: em uma viagem de negócios, o hóspede pode ser pego no aeroporto de carro, mas, porque não buscá-lo com um Bentley, em vez de um automóvel comum. Essa estratégia está dividida em oito temas como experiência familiar, experiência de praia, experiência urbana, entre outras. Estamos analisando todos os serviços do hotel, desde a reserva até o check out. Para isso também fechamos parcerias com marcas de alto valor agregado, como a Banyan Tree, especializada em spas.
DINHEIRO ? Qual é o públicoalvo da bandeira Tivoli?
RUGERONI ? Varia entre classe média e alta. Em Portugal, o principal turista é o português, seguido do inglês e do alemão. No Brasil, 50% do nosso público é brasileiro, 18% é português e o restante varia bastante entre os europeus.
DINHEIRO ? Qual é o públicoalvo da bandeira Tivoli?
RUGERONI ? Varia entre classe média e alta. Em Portugal, o principal turista é o português, seguido do inglês e do alemão. No Brasil, 50% do nosso público é brasileiro, 18% é português e o restante varia bastante entre os europeus.