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“Começamos a exportar para a China neste ano. E o país já é nosso maior cliente”

 

 

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“Não daremos dinheiro para os clientes, como a Ford (de Maciel) ofereceu na Tv”

 

 

DINHEIRO ? Foram boas as notícias da GM neste começo de ano. Como o sr. está vendo a situação em 2003?
José Carlos Pinheiro Neto ? Na verdade, estamos muito bem. Mas com relação à anunciada liderança, isso é visto como conseqüência de um trabalho que vem sendo realizado há bastante tempo. Em 2002, lançamos cinco produtos ? inteiramente novos. E o consumidor responde muito rápido às novidades. Também investimos mais de US$ 800 milhões no último ano. E anunciamos mais US$ 1 bilhão para 2003 e 2004.

DINHEIRO ? Investimentos em quê?
Pinheiro Neto ? Basicamente, tecnologia e lançamentos. A única coisa que não iremos investir é em aumento de produção. Temos capacidade instalada de 600 mil veículos por ano. E já é suficiente. Mas temos investido milhões de dólares para melhorar a qualidade de nossos produtos.

DINHEIRO ? A liderança no Brasil tem a ver com as dificuldades da concorrência? A Fiat anunciou prejuízos históricos e a Ford tem anunciado que 2003 é sua última cartada no Brasil.
Pinheiro Neto ? Não. Pelo contrário. A concorrência está cada vez mais acirrada. Aquele período das quatro grandes instaladas no Brasil acabou.
Hoje, somos 18 companhias vendendo carros aqui. Mas
acredito que a GM tem uma facilidade adicional: ela é a
maior do mundo, então a filial brasileira tem acesso a todas as novidades.

DINHEIRO ? Falando nisso, quais as novidades para este ano?
Pinheiro Neto ? Pelo menos um lançamento de um modelo inteiramente novo no primeiro semestre. Será um produto que ainda não existe lá fora, feito no e para o Brasil.

DINHEIRO ? E como estão as vendas externas?
Pinheiro Neto ? Há dois anos, houve uma decisão de transformar a GM do Brasil em uma plataforma exportadora. Significa transformar exportação em um objetivo. Se você andar em nossas fábricas, perceberá que é tão importante a venda para o mercado externo quanto é para o interno.

DINHEIRO ? O ano passado foi muito difícil para o setor. Quais as perspectivas para 2003?
Pinheiro Neto ? Em termos de mercado interno, estamos imaginando um acréscimo de 5% na indústria. Chegaremos a 1,6 milhão de veículos. Já no mercado externo, vamos exportar 20% a mais. Na GM, isso já está consolidado. Nosso trabalho é aumentar. Já tenho esse total contabilizado, porque está contratado. Tenho dois contratos com a China, um de US$ 1 bilhão e outro de US$ 400 milhões. Vamos também abrir novos mercados.

DINHEIRO ? Quais seriam estes mercados?
Pinheiro Neto ? Egito, Índia e China. As exportações para a China, por exemplo, começaram a ser feitas este ano. Mas já é nosso maior cliente. Vamos fechar ainda acordos bilaterais com África do Sul e Venezuela também. E passamos a atender ainda o México. Até agora mandávamos apenas CKD (peças de carro desmontadas).

DINHEIRO ? Qual a razão para esse aumento nas exportações? O câmbio, a liderança?
Pinheiro Neto ? Um conjunto de fatores. Porque a liderança não é nosso objetivo. Queremos atender bem nosso consumidor. A liderança é apenas uma conseqüência e ela pode ser temporária.

DINHEIRO ? Mas como a montadora número 1 do mundo, o presidente Rick Wagoner deve fazer essa exigência.
Pinheiro Neto ? Nunca tivemos este tipo de exigência. Mas que
traz uma satisfação enorme, é verdade. Não seria maluco de
dizer o contrário.

DINHEIRO ? O que aconteceu em 2002 no mercado nacional?
Pinheiro Neto ? Foi uma consolidação. Em 97, produzíamos 2,07 milhões de veículos e estávamos a caminho de 2,5 milhões. Tivemos o primeiro tropeço da indústria automobilística, com as crises asiática, russa e brasileira. O governo tomou providências e, como conseqüência, tivemos aumento na carga tributária e taxas de juros. De 97 para 98, o número de carros vendidos caiu pela metade, para 1,2 milhão de veículos. E acho que agora, só agora, estamos recomeçando nossa caminhada rumo aos 2 milhões de carros.

DINHEIRO ? Nessa caminhada, novos aumentos nas taxas
de juros preocupam?
Pinheiro Neto ? Muito. Porque o mercado é sensível a qualquer mudança. Sempre que ocorre um aumento de taxas básicas de juros, as vendas no varejo são afetadas.

DINHEIRO ? O governo decidiu no final do ano pela diminuição do IPI. Isso ajuda a incrementar as vendas?
Pinheiro Neto ? Para nós, foi maravilhoso o estabelecimento de IPI menor para carros médios e grandes. Mas a maior vitória deste processo é do próprio consumidor. Antes, ele era obrigado a comprar um tipo de carro, porque optava por impostos de 10% ou 25% na outra ponta. A diferença era tão grande que você não dava alternativa ao cliente. Agora, ele deu sua resposta. De 77%, que era a participação do popular no mercado, caiu para 52%.

DINHEIRO ? E isso é uma tendência. Ou seja, vamos deixar de ser o país
do carro 1.0?
Pinheiro Neto ? Sim. O brasileiro estava condenado a isso. E o motor 1.0 é como jaboticaba, só tem no Brasil. Mas o mercado do popular sempre vai permanecer. O 1.0 terá ainda uma participação expressiva, ao redor de 45%. A GM, por exemplo, está tendo êxito com Corsa e Celta. São modelos que vieram para ficar.

DINHEIRO ? E com relação à Fiat. A GM já é parceira da montadora italiana e tem, em 2004, a opção de compra. Comenta-se no mercado que a GM injetaria recursos na montadora italiana e, em troca, ficaria com as operações da Fiat no Brasil. Isso procede?
Pinheiro Neto ? Nessa área, eu tenho adotado o critério de não ver, não ouvir, nem falar. Prefiro nem comentar para evitar especulações. Isso é assunto para o Wagoner (Richard Wagoner, o presidente mundial da GM) e a corporação.

DINHEIRO ? Nos EUA, as montadoras fizeram a venda de carros com juros zero para reaquecer o mercado no ano passado. O mercado brasileiro pode fazer o mesmo?
Pinheiro Neto ? Nem sequer cogitamos essa hipótese. Sai muito caro para a montadora e nós já perdemos muito dinheiro com isso. Mas mercado é mercado. Não há verdades definitivas.

DINHEIRO ? Se não for com preços baixos, como as montadoras pretendem aumentar o mercado nacional?
Pinheiro Neto ? Além da redução tarifária e IPI existe um programa que já foi discutido e analisado, mas nunca foi posto em prática. É a vistoria veicular. Todo mundo é a favor porque provocará uma renovação no mercado brasileiro.

DINHEIRO ? Outra opção que as montadoras vêm fazendo para aumentar o mercado é fazer lançamentos de nicho. Isso está acontecendo aqui?
Pinheiro Neto ? Sem dúvida, estamos trabalhando com isso no mundo todo. Lançaremos carros que vendam menos em número, mas com maior valor agregado. Por exemplo: continuamos montando o Corsa antigo, mesmo depois de ter reformulado o carro. Vendemos 6 mil deles por mês. Se os clientes continuam comprando, continuamos fabricando.

DINHEIRO ? No último Salão do Automóvel, em Detroit, falou-se muito sobre os carros híbridos. Isso é muito distante da realidade brasileira. O que vai ser aplicado aqui?
Pinheiro Neto ? Toda a tecnologia que apresentamos no Salão está 100% disponível. Mas ainda é muito caro e temos que nos adaptar à nossa realidade. Quando se fala em carro híbrido lá fora, eu falo do flex fuel aqui. É uma tecnologia que dará ao consumidor a oportunidade de utilizar dois tipos de combustível no mesmo carro, álcool e gasolina. Os modelos chegam este ano.

DINHEIRO ? Há aumento de custos no novo motor?
Pinheiro Neto ? Mas há benefícios fiscais também. Os mesmos aplicados nos carros a álcool. No veículo médio, por exemplo, o IPI cai de 15% para 13% e no de grande porte, de 25% para 20%. Além dos descontos de IPVA, que variam de Estado para Estado.

DINHEIRO ? O preço final do veículo será muito mais caro para o consumidor final?
Pinheiro Neto ? A vantagem fiscal certamente compensa o acréscimo da despesa. E, no final das contas, a GM pode até fazer uma surpresa para seus clientes.

DINHEIRO ? E lançar pelo preço exatamente igual ao
do carro tradicional?
Pinheiro Neto ? Tudo é possível.

DINHEIRO ? Com essas novidades, a GM deve seguir na liderança?
Pinheiro Neto ? Não. As três grandes vão ficar muito próximas em vendas. Por isso, costumamos dizer que a liderança é desejada,
mas temporária.

DINHEIRO ? Em 2002, falou-se bastante em fechamento de fábricas. Era mentira?
Pinheiro Neto ? Eu dizia que era.

DINHEIRO ? Então seus colegas reclamam muito?
Pinheiro Neto ? Não. Mas acho que as montadoras em geral têm dificuldade em se adaptar ao ziguezague do mercado brasileiro. Você tem que estar junto com ele, se ajustar. Aí está o segredo de tudo.

DINHEIRO ? Então ninguém vai fechar fábrica no Brasil?
Pinheiro Neto ? Eu não posso falar pelas outras montadoras instaladas aqui. A GM sequer cogitou essa hipótese. Tem capacidade de 600 mil unidades, está há quase 80 anos no Brasil e acaba de investir em duas novas fábricas.

DINHEIRO ? Antônio Maciel Neto (presidente da Ford) está
fazendo comerciais na TV e oferecendo R$ 200 para quem fizer
um test drive da Ford. A GM planeja fazer o mesmo tipo de campanha agressiva?
Pinheiro Neto ? Nós não estamos precisando disso. Mas estamos fazendo campanhas de marketing e espero que sejam agressivas o suficiente para convencer o consumidor a comprar nossos carros. E, aqui entre nós, isso tem acontecido.