DINHEIRO ? A Petrobras não está concentrando demais seus investimentos no setor de refinarias?


PAULO ROBERTO COSTA ? De maneira alguma. A última refinaria que nós colocamos em operação foi a Henrique Lage, em São José dos Campos (SP), em 1980. A Petrobras, na verdade, viveu vários ciclos de investimento. No passado, a produção era pequena e houve um investimento grande no refino. Como nós importávamos muito petróleo, passamos a investir em refinarias para produzir aqui os derivados. Mas na década de 70, depois da descoberta da bacia de Campos, nós já havíamos percebido a necessidade de investir mais em exploração e produção ? o que foi uma decisão acertada. Agora, precisamos de mais refinarias.

 

 

DINHEIRO ? As que já existem não atendem à demanda?


COSTA ? Nós fizemos várias melhorias nas refinarias existentes e ampliamos a capacidade de 1,3 milhão para 1,9 milhão de barrias/dia, um pouco menos do que o nosso consumo interno. Só que nós praticamente já esgotamos a possibilidade de ampliações. Por isso, a necessidade das novas refinarias. Hoje eu já refino menos do que o mercado demanda. 

 


DINHEIRO ? Mas a dosagem dos investimentos está correta?


COSTA ? No passado, para cada 4% a mais de PIB, deveríamos estimar um aumento de 2,5% no consumo de derivados. Só que isso foi verdade até o ano de 2009. O que está acontecendo em 2010? O Brasil vai crescer 7,2%. E os derivados de petróleo crescem 10%.

 

 

DINHEIRO ? Por que houve essa mudança de padrão?


COSTA ? Inclusão social. Muita gente da classe D passou para a C. Muita gente da classe C passou para a B. Nestes últimos anos, 20 milhões de pessoas entraram no mercado de consumo. São pessoas que adquiriram automóveis, passaram a viajar de avião e a consumir mais alimento. Aliás, alimento também é petróleo, usado nos fertilizantes e no transporte. Tudo isso resulta em derivado de petróleo.

 

 

DINHEIRO ? O crescimento foi geral?


COSTA ? Em todos os produtos. Na gasolina, o salto foi de 19%, um valor gigantesco, mesmo quando se leva em conta que houve problemas na safra da cana. Em 2009, vendeu-se mais álcool do que gasolina no Brasil. Isso foi revertido em 2010. Querosene de aviação deu 15% de expansão. Basta ir a qualquer aeroporto para ver o que está acontecendo. No diesel, o crescimento foi de 10%. É por isso que eu digo que a decisão das refinarias foi totalmente acertada. Visão de futuro.

 

 

DINHEIRO ? Quando a Petrobras decidiu fazer esses investimentos?


COSTA ? A refinaria do Nordeste foi decidida em 2005. O Comperj, o complexo petroquímico do Rio de Janeiro, em Itaboraí, foi em 2007. Já as refinarias premium, no Ceará e no Maranhão, foram decididas em 2009.

 

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Hugo Chávez, presidente da Venezuela

 

 

DINHEIRO ? Muitos analistas de mercado criticam essas duas últimas.


COSTA ? Visão de curto prazo. Vamos fazer um exercício de futurologia. Somando todas as refinarias, o País terá uma capacidade de 3,1 milhões de toneladas em 2020. Imaginávamos um mercado de 2,8 milhões de barris/dia. Haveria até uma folga para exportar. Só que, na nossa conta, estávamos utilizando 4,1% de PIB e 3,2% de aumento dos derivados. Mas se o PIB crescer 4,5%, já não sobra nada. 

 

 

DINHEIRO ? Isso está sendo revisto?


COSTA ? Ainda não. Vamos discutir em 2011. Dos US$ 224 bilhões do plano de investimentos da Petrobras, já temos US$ 78 bilhões aqui na área de abastecimento. O fato é que, se o PIB crescer mais do vem sendo estimado, o que é bastante provável, não sobrará nada para a exportação. E o fato é que, no mínimo, o mercado interno, que é o mais lucrativo para a Petrobras, terá que ser bem atendido por nós.

 

 

DINHEIRO ? Então a crítica dos analistas não faz sentido.


COSTA ? De maneira alguma. Outro dia, tive aqui uma reunião com analistas de 25 bancos tratando desse assunto. Alguns sugerem que seria melhor investir mais em exploração e produção em função do pré-sal. Só que ninguém, em nenhum lugar do mundo, coloca petróleo num carro, num caminhão ou num avião. O que se coloca é um derivado. Portanto, eu tenho que investir em refino para vender o produto. A situação-limite seria o Brasil produzir petróleo, exportar e depois importar os derivados. Nonsense total. Se nós não estivéssemos fazendo as refinarias, teríamos que importar 700 mil toneladas de diesel em 2020. Isso significa colocar a economia brasileira numa situação  de total fragilidade.

 

 

DINHEIRO ? E como está o andamento das refinarias? O Tribunal de Contas da União tem atrasado as obras?


COSTA ? Os problemas no TCU continuam. Eles têm uma visão totalmente diferente da nossa. Eles usam como referência indicadores de obras civis. Só que nossos projetos são de montagem industrial. Na terraplenagem, eles fazem as contas com as tabelas do DNIT para fazer uma rodovia. A maior carreta pesa 35 toneladas. Numa refinaria, eu tenho tanques de petróleo que chegam a pesar 100 mil toneladas, gerando uma força muito maior sobre o terreno. 

 

 

DINHEIRO ? Na refinaria Abreu e Lima, a sócia da Petrobras é a PDVSA, que não colocou recursos no projeto. Foi a escolha correta do parceiro?


COSTA ? O que nós fizemos em relação a esse assunto? Os contratos e os acordos de acionistas. Além disso, levantamos um empréstimo de R$ 9 bilhões com o BNDES. E muita gente me perguntou se faríamos sem a PDVSA. O fato é que nós não podemos parar. Hoje, ela está sendo tocada 100% pela Petrobras. A PDVSA, que tem 40%, teria que assumir R$ 3,6 bilhões junto ao BNDES. Ela foi ao banco, mas o BNDES não aceitou as garantias apresentadas por eles.

 

 

DINHEIRO ? Qual será o prejuízo se eles não entrarem?


COSTA ? Nenhum. Faremos 100%.

 

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Rubens Ometto, presidente da Cosan

 

 

DINHEIRO ? Falando de outras refinarias, o Maranhão não foi uma escolha política?


COSTA ? Não. Quando fizemos o projeto do Nordeste, todos os Estados foram avaliados. Pernambuco ficou em primeiro lugar e o Maranhão em segundo. É uma região estratégica para suprir a grande fronteira agrícola do País, o Mapito, formado pelos Estados de Maranhão, Piauí e Tocantins, além de vários outros Estados do Nordeste e do Centro-Oeste. Ali, temos também a Ferrovia Norte-Sul. Os trens levam grãos e o minério de Carajás e voltam vazios. E eles ainda têm um porto, o de Itaqui, com grande calado.

 

 

DINHEIRO ? E o Ceará?


COSTA ? Será uma refinaria de produtos premium e a mais próxima do mercado europeu, o que permitirá à Petrobras exportar boa parte de sua produção de derivados.

 

 

DINHEIRO ? Na petroquímica, a Petrobras participou de uma grande reorganização societária, que, de certa forma, criou um monopólio. Foi um erro?


COSTA ? Na petroquímica, nossa intenção era ter dois grandes players. A Petrobras comprou os ativos petroquímicos do grupo Suzano e se associou à família Geyer, criando a Quattor. O que prevíamos era ter no Brasil dois players de porte global: a Braskem e a Quattor. Mas veio a crise de 2008 e a Quattor enfrentou problemas. A saída foi incorporar esses ativos à Braskem. Hoje, na composição acionária, a Braskem tem 51% e a Petrobras tem 49%.

 

 

DINHEIRO ? Não há risco de abusos de preços contra os consumidores de resinas?


COSTA ? Não, porque a petroquímica forma seus preços no mercado internacional. E a importação está aberta. Não há nem haverá abusos.

 

 

DINHEIRO ? A construção do alcoolduto também está sob seu comando. Qual é a situação atual?


COSTA ? Há um ano, havia três projetos de alcooldutos no Brasil: o da Petro-bras, o da Brenco, uma empresa privada do setor sucroalcooleiro, e um terceiro, que tinha como sócios várias empresas, como Cosan, Coopersucar e Crystalsev. Eu me sentei com o Rubens Ometto, presidente da  Cosan, e fiz a ele uma proposta: por que não colocamos todos no mesmo projeto? Foi a saída mais racional. Esse duto sairá do Cer-rado  goiano, passará pelo Triângulo Mineiro, por São Paulo e chegará ao porto de Santos. Com isso, será viável exportar etanol para o resto do mundo.

 

 

DINHEIRO ? No universo de funcionários da Petrobras, quantos são vinculados à diretoria de abastecimento?


COSTA ? Somando tudo, são 20 mil funcionários diretos, dentro de um universo de 65 mil da Petrobras. Hoje, na logística, transportamos 14 milhões de barris por dia, de cá para lá e de lá para cá, embora o consumo brasileiro seja de dois milhões de barris. É uma ginástica fazer com que não faltem produtos em um país continental como o Brasil.

 

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