31/03/2015 - 8:00
Aplicar no Brasil os princípios de gestão de grandes empresas. Essa é a premissa do partido NOVO, fundado em 2010 pelo engenheiro e ex-executivo do mercado financeiro, João Amoedo. Com passagens pelo Citibank e o BBA, atual Itaú BBA, Amoedo deixou a iniciativa privada para se dedicar a um projeto político que diminua a presença do Estado na economia e permita que a meritocracia predomine. No momento, aguarda a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a criação legal do partido.
Muito criticado por se associar a idéias de direita e rotulado de partido de “coxinhas”, o NOVO diz não defender uma linha ideológica, mas um País com cargas tributárias menores e que aplique os conceitos de uma gestão privada. “Um dos principais pontos de preocupação em relação aos governos do PT foi criar uma estrutura de ideologia nas escolas, um Brasil competitivo deve ser livre de doutrinação ideológica”, diz Amoedo. Em entrevista à DINHEIRO, o engenheiro comenta os equívocos cometidos no governo de Dilma Rousseff, além de defender a desestatização de todas as empresas brasileiras.
DINHEIRO – O que o motivou sair do mercado financeiro para entrar na política?
João Amoedo – Nunca tive uma ligação com a política. Nunca fui um militante. Minha intenção ao idealizar o NOVO foi colocar em prática um projeto que consiga levar alguns parâmetros da iniciativa privada para a gestão pública e fazer o governo funcionar melhor.
DINHEIRO – Como o NOVO saiu do papel?
Amoedo – Eu e mais alguns amigos começamos a nos aproximar do mundo público ainda em nossas funções no mercado financeiro. Nossa conclusão foi que se queríamos influenciar de alguma forma, tínhamos que criar formalmente um partido. E nenhum dos que aí estavam defendia nossa visão de gestão.
DINHEIRO – É complicado falar de um novo partido em um momento de rediscussão da política da forma como a conhecemos?
Amoedo – Essa é a pergunta que mais me fazem. Apesar de existirem 32 partidos no Brasil, temos várias pesquisas apontando que as pessoas se sentem mal representadas. Existe um descontentamento e faltam opções. Além disso, não dá para fazer mudança sem ter uma força legal constituída.
DINHEIRO – Como vocês vão financiar o partido?
Amoedo – Somos contra um fundo partidário. O que queremos é vender o conceito do nosso partido e transformá-lo em uma marca. Queremos que as pessoas entendam nossos princípios e valores sem propaganda milionária na TV. Entendemos que será mais fácil eleger as pessoas com menos custos.
DINHEIRO – Isso é possível no Brasil? Como?
Amoedo – Já fazemos isso por meio das redes sociais. Tem muitas mídias novas. Bastante tecnologia disponível para vender uma imagem ou apresentar suas propostas de forma mais econômica.
DINHEIRO – No segundo turno das eleições do ano passado, o NOVO apoiou o candidato do PSDB, Aécio Neves. Não correram o risco de se associar a mais do mesmo?
Amoedo – Fizemos um comunicado dizendo que o projeto do Aécio não era compatível com o nosso, mas não poderíamos ficar ausentes em um processo em que só tínhamos duas opções. Seria um erro não ter se posicionado.
DINHEIRO – Por que o NOVO é tão associado à direita? Como você responderia o fato de muitas pessoas chamarem o partido de “partido de coxinhas”?
Amoedo – Temos idéias muito claras dessa questão da livre iniciativa, redução do Estado e maior poder ao individuo. O NOVO tem o um discurso de diminuir o poder de políticos e imagino que isso não seja do agrado de quem está no poder. É natural que exista resistência ao nosso discurso, justamente de quem está no poder. É fácil dizer que é de direita, que é coxinha. São carimbos que existem no Brasil e teremos que conviver com essa caracterização.
DINHEIRO – O NOVO esteve nas manifestações do dia 15 de março?
Amoedo – Institucionalmente não. Mas muitas pessoas ligadas ao partido estiveram.
DINHEIRO – É possível aplicar a governança do mundo empresarial no Brasil?
Amoedo – Sim. Sabemos que em um país do tamanho do Brasil não dá para fazer tudo bem feito. Vamos selecionar algumas coisas. Nossa conclusão é de que o Estado quer fazer muita coisa, não existe meritocracia. Vamos tirar o Estado de várias áreas e focar em saúde, educação e segurança.
DINHEIRO – Se você fosse CEO do Brasil, o que faria?
Amoedo – Precisaríamos trocar toda a diretoria executiva. Ela errou bastante e está sem credibilidade. A “empresa Brasil” precisa fazer ajustes e tirar de linhas alguns produtos e reverter o quadro de desconfiança de sua gestão. Sem isso, fica difícil comprar qualquer coisa do Brasil.
DINHEIRO – O NOVO prega a desestatização? Quais os argumentos?
Amoedo – O Estado é ineficiente, tem vários problemas de gestão. Se uma empresa é mal gerida ela quebra e sai do mercado. Se é uma empresa estatal, ela vai usar os recursos vindos do contribuinte para se manter, é algo que não tem freio. Sempre terá o Estado para algum tipo de salvação com o dinheiro das pessoas. Defendemos a liberdade das pessoas. Qual o sentido de eu pagar uma ajuda para uma empresa que eu não quero? Eu devo ter o direito de decidir para onde vai meu dinheiro. No fundo, todos temos uma ação do Banco do Brasil e da Petrobras.
DINHEIRO – Isso vale para os programas sociais?
Amoedo – Eu acredito que alguns programas podem fazer sentido. Mas nós não precisamos que o Estado faça caridade. O melhor de todos eles é o Bolsa Família porque ataca a miséria e a alocação de recursos é bem menor do que de alguns outros. No entanto, não qualifica as pessoas, não melhora a educação.
DINHEIRO – Aliás, Banco do Brasil e outras estatais correm o mesmo risco da corrupção envolvida na Petrobras?
Amoedo – É difícil saber. Mas acho que não deveria ser surpresa se tiver problemas em outras empresas. Esses problemas da Petrobras podem muito bem existir em outras empresas porque eles tiveram a mesma dinâmica de gestão. A lógica é a mesma.
DINHEIRO – A ineficiência do Estado se agravou no governo do PT?
Amoedo – Se agravou. E o que me preocupa é a doutrinação ideológica nas escolas. Onde entendemos que há nos currículos um viés doutrinário muito grande que induzem as crianças a um tipo de raciocínio. Ensino não deve ter viés ideológico.
DINHEIRO – Mas onde o governo do PT errou?
Amoedo – Criando uma quantidade de programas sociais e benefícios de tal forma que a população não consegue pagar a conta. Os problemas ficaram explícitos quando a situação externa piorou e o dinheiro ficou escasso.
DINHEIRO – O que tem achado da atuação do Joaquim Levy?
Amoedo – Me causa muita boa impressão a atuação dele pela seriedade e transparência como ele tem colocado os problemas. Difícil será saber se ele vai conseguir o que está se propondo. Mas um problema é que eles está indo na linha do aumento da arrecadação. Mesmo estando provado que o País não cresce porque não consegue pagar a carga tributária.
DINHEIRO – O NOVO terá candidato paras as eleições de 2016?
Amoedo – Pretendemos sair com um candidato em 2016. Não sabemos ainda em quais lugares. Até porque ainda falta o registro, mas já coletamos as assinaturas e validamos no TSE, em julho do ano passado. Imaginamos que em trinta dias a criação do partido vá a julgamento.
DINHEIRO – Pretende ser candidato à presidência em 2018?
Amoedo – Acho que tenho muito a contribuir na gestão do partido. Como não éramos habituados ao mundo da política, está dando mais trabalho do que eu imaginava. Temos uma norma que impede os membros do NOVO de se candidatarem. A minha responsabilidade e do partido é trazer bons candidatos e treiná-los.