Há uma sabida discrepância entre a visão que o mundo tem do Brasil e aquela veiculada internamente por seus pseudoespecialistas. Essa diferença de opiniões ficou mais uma vez evidente na semana passada quando um encontro para discutir rumos do capitalismo colocou no mesmo palco três ex-chefes de Estado, dois deles estrangeiros. Quem dessa vez puxou o coro de mensageiros otimistas sobre os rumos do País foi o paladino do neoliberalismo, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton. Tal qual um atento apostador de turfe, Clinton colocou seus lances na arrancada consistente do Brasil num páreo que incluiria o que há de mais puro-sangue entre as nações ditas emergentes – China, Rússia e Índia incluídas. “Se eu estivesse sentado em uma sala apostando sobre o futuro dos países em ascensão, apostaria primeiro no Brasil”, disse o ex-presidente. 

 

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E justificou: foi, no seu entender, o único país que conseguiu recentemente ter um crescimento econômico sustentável ao mesmo tempo que reduzia a desigualdade social. Clinton citou o amplo mercado consumidor que se abriu por aqui e ainda listou fatores positivos da situação interna, como a estabilidade política e monetária, os recursos naturais e a liderança econômica regional no eixo do Mercosul. Embora estivesse falando para uma plateia eminentemente de brasileiros – e poderia, assim, com esse discurso, estar tentando agradar aos ouvintes –, o fato é que ele transmitiu suas impressões com tamanho entusiasmo que convenceu cada um dos presentes. Com ele concordou também o ex-primeiro-ministro inglês Tony Blair, dizendo que o modelo de desenvolvimento interno está, comparativamente, mais bem assentado que o dos demais parceiros dos BRICs. 

 

Ambos entendem que o quadro de quase pleno emprego, a liquidez das linhas de crédito, a revoada de capitais internacionais para cá (que não cessou e continua no mesmo patamar do ano passado) e a volta do investimento produtivo, que já retomou a compra de maquinário e peças para seus projetos de expansão, são fatores mais do que suficientes para garantir uma travessia razoavelmente serena da crise externa. Fazendo trinca com os dois ex-mandatários que vieram debater, o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso lançou apenas uma ressalva: pediu rigor nas metas fiscais para evitar o descontrole de contas públicas. Diferentes olhares podem enxergar o copo meio cheio enquanto outros o veem meio vazio.