Durante os últimos quatro anos, ostentar a nacionalidade de brasileiro em fóruns internacionais de discussão sobre a agenda ambiental não foi fácil. A posição institucional da administração Bolsonaro provocava sentimentos de incredulidade, raiva e vergonha a cada discurso negacionista, recorde de desmatamento ou crime ambiental anunciado. Diante do inexorável, a voz de milhares de cidadãos minimamente responsáveis foi sufocada no peito. Aprisionada na garganta. Agora, foi liberta: “O Brasil voltou”, cantou em alto e bom som a plateia durante o discurso do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na COP-27, nesta quarta-feira (16) em Sharm el-Sheikh, no Egito.

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Brasileiros e não-brasileiros aguardavam por essa volta. Lula foi literal: “Estou hoje aqui para dizer que o Brasil está pronto para se juntar novamente aos esforços para a construção de um planeta mais saudável.” Aberta a porta, o que se viu dali para frente no discurso do presidente eleito foi a promessa de repactuação institucional na luta contra as mudanças climáticas, compromisso com o desenvolvimento de regiões em desenvolvimento e a promessa de adotar uma postura mais inquisitiva e de cobrança junto às nações desenvolvidas.

Em pouco menos de 30 minutos, Lula trouxe de volta a dignidade para quem trabalha pelo  fortalecimento das boas práticas ESG. Anunciou que o Brasil terá desmatamento zero, que crimes ambientais não serão tolerados, que irá se unir sim à África e países latinos para uma coalizão por um mundo mais justo e sem fome. E, ali, ainda sem ser chefe de Estado fez propostas como uma nova governança internacional para os assuntos da agenda climática com a criação de um órgão supranacional com poderes de decisão. Ambiental, social e governança. Tudo junto, misturado, com muita clareza e bom senso.

Mesmo sem ainda ser chefe-de-Estado, Lula colocou o País de novo nas mesas de negociação e não nas ruas comendo pizza. Entre palavras e a prática há um enorme caminho. Mas hoje na COP-27, Lula começou a reconstruir o papel que essa nação merece na nova ordem mundial: o de líder de uma economia inclusiva, biodiversa e de baixo carbono. O grito preso na garganta saiu. O Brasil voltou!