05/01/2001 - 8:00
O cenário não poderia ser melhor. A tradicional grife francesa Cacharel escolheu o Carrousel du Louvre, em Paris, para apresentar sua coleção primavera-verão 2001. Seria apenas mais um desfile, como tantos outros, não fosse por um detalhe: a Cacharel despertou de um sono profundo que durou mais de 20 anos. Durante esse período a marca ficou ausente dos eventos de grande porte, vitrine maior do segmento de alta costura. O longo jejum rendeu a Cacharel o apelido de ?A Bela Adormecida? do mundo fashion. Por trás do renascimento da empresa que fez história nos anos 60 e 70 (lembra-se da famosa blusa Cacharel?), está um brasileiro, franzino, de 37 anos, com diploma de estilista pela renomada escola inglesa de Saint Martin?s. Inácio Ribeiro é o nome do príncipe encantado desse conto empresarial. Ele assumiu a diretoria de criação da grife, cujo valor de mercado está avaliado em US$ 500 milhões, com poderes absolutos. Campanhas de marketing, layout das lojas, coordenação dos lançamentos e até decoração de vitrine; nada é feito sem a aprovação de Ribeiro. ?Nossas vendas de prêt-à-porter cresceram 30% desde que ele veio trabalhar conosco, no final de 1999?, comemora Jean Bousquet, presidente e fundador da Cacharel. Nas contas do empresário, as 81 butiques espalhadas pelo mundo ? uma delas fica em São Paulo ? garantiram vendas de US$ 200 milhões no ano passado.
O confete de Bousquet não é exagero para quem freqüenta o circuito da moda. No setor, já há quem compare o estilista brasileiro ao texano Tom Ford, que tirou a italiana Gucci do limbo. ?Ford é único e dificilmente seu trabalho será repetido?, diz Ribeiro. O desfile no Carrousel du Louvre foi apenas a primeira prova a que o brasileiro foi submetido. O próximo teste de fogo vai acontecer no início de fevereiro, durante a Semana de Moda de Nova York, um dos mais importantes palcos da alta costura. Ribeiro sabe que uma vitória por lá significa muito para o patrão Bousquet, que investiu US$ 2 milhões no lançamento mundial da coleção. Para seduzir os americanos ele está montando uma verdadeira operação de guerra. Durante o evento, as vitrines da rede de lojas Barneys vão exibir apenas produtos Cacharel. Outra ?carta na manga? do estilista é a ampliação da linha de produtos. Além da moda feminina ? composta por cerca de 200 mil peças ao preço médio de US$ 200 ?, ele aposta nos demais itens incorporados à grife: roupas masculinas e acessórios (gravatas, echarpes, sapatos, peças íntimas femininas, entre outros).
A carreira de Ribeiro começou aos 18 anos, em Minas Gerais. Autodidata, o estilista foi subindo cada degrau do mercado mineiro até assinar coleções de marcas famosas como a Divina Decadência. Mas ele queria mais. Partiu para Londres em 1988, onde graduou-se em moda com nível de excelência de primeiro grau. No curso ele conheceu a esposa Suzanne Clements, com quem fundou, em Londres, a grife Clements Ribeiro em 1993. Três anos mais tarde ele foi eleito como o melhor designer de moda da nova geração. Com uma bagagem desse porte, era uma questão de tempo para que fosse guindado à posição de ?homem-forte? em uma casa de tradição internacional. O contrato de três anos com a Cacharel, cujo valor ele não revela, o obriga a freqüentar a ponte Lon-dres-Paris. Ele não reclama, pois sabe que a fama tem seu custo e também um doce sabor.
PRÓXIMO PASSO: ABERTURA DE CAPITAL |
No final de 1996, Jean Bousquet, principal executivo e criador da grife Cacharel, resolveu reassumir o controle da companhia, fundada em 1962, após ter dedicado 13 anos à carreira política. Nesse período, ele se elegeu deputado e ocupou, por dois mandatos consecutivos, a Prefeitura de Nîmes. A seguir os principais trechos da entrevista concedida por Bousquet à DINHEIRO: DINHEIRO ? Quando o sr. decidiu retomar a carreira de empresário? DINHEIRO ? O que o levou a contratar um estilista brasileiro? DINHEIRO ? O sr. pretende abrir o capital da Cacharel? DINHEIRO ? A Cacharel mantém uma única butique no Brasil (em São Paulo), enquanto dispõe de 12 em Buenos Aires. O sr. tem planos de expandir a atuação da grife por aqui? |