Foi mais do que alvissareira a chegada de Ilan Goldfajn à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Técnico de mão cheia, um dos melhores quadros que já passou pelo BC nacional, Goldfajn é tido e havido como um interlocutor gabaritado nos grandes salões financeiros globais e chega à instituição justamente em um momento que o Brasil anseia por mais capital externo para a retomada do crescimento. Seus planos e agenda estão afinadíssimos com a pauta de sustentabilidade e de combate à desigualdade, pobreza e fome que o futuro governo Lula pretende empreender por aqui. Não é pouca coisa o que ele irá comandar. O BID tem em carteira nada menos que 616 projetos e recursos comprometidos da ordem de US$ 56,18 bilhões. Somente com o Brasil são atualmente 82 projetos dependendo de seus financiamentos, que somam para cá algo da ordem de US$ 9,29 bilhões. Um olhar especial seu para a América Latina é tido como certo, após substituir no posto o norte-americano Mauricio Claver-Carone, que foi escolhido diretamente por Trump e alega ter caído por influência decisiva — veja só! — de Paulo Guedes, que, acusa, fez campanha contra ele. Goldfajn, ao contrário, tem a simpatia incondicional do bloco do Mercosul, por motivos óbvios. Já estava em Washington, atendendo a missões do Fundo Monetário Internacional e experiência com a região não lhe falta. O redirecionamento previsto de recursos a partir da linha de gestão que ele deverá empreender no organismo vai preencher lacunas de crédito até aqui sistemáticas. Especialmente os países endividados da região latina, como Argentina e Venezuela, esperam muito do futuro presidente da instituição e aguardam ansiosos por atenção prioritária na plataforma de distribuição dos fundos do BID. Goldfajn diz buscar maior eficiência nessa realocação com um olhar especial para demandas que atendam e incorporem uma ampla rede de proteção social — fomentando, também, a diversidade de gênero, raça e classe. Essa é uma política habitual adotada por Goldfajn, e ele a levou adiante por onde passou, numa atuação classificada como meritosa pela comunidade internacional. Em Brasília ainda prevalece uma certa dúvida sobre como será o relacionamento do economista com a equipe de Lula, ainda prestes a ser escolhida. O demiurgo em pessoa diz não ter qualquer restrição ao nome do brasileiro, que chegou a ser parcialmente vetado pelo ex-ministro Guido Mantega, quando de sua meteórica passagem pelo time de transição. Mantega não está mais lá no bloco que apita sobre o futuro governo. Alguns dizem que ele caiu justamente pelo passo em falso de pedir ao comitê do BID que desconsiderasse temporariamente Goldfajn como opção. Goldfajn, por sua vez, é estrela em ascensão. No BID ele terá 26 países vinculados como mutuários ou meros acionistas do banco, garantindo resultados tangíveis. Em tempos de rearrumação monetária de países fragilizados não apenas pela pandemia como também pela inépcia de seus governantes — Brasil entre eles —, quadros como o de Goldfajn se sobressaem. O momento é histórico: jamais antes um conterrâneo chegou ao pináculo do poder financeiro com o status que Goldfajn garantiu nessa vitória. A repercussão não poderia ser melhor. Como disse o ex-ministro Henrique Meirelles, “prevaleceu uma escolha de bom senso”.

Carlos José Marques
Diretor editorial