Em fevereiro deste ano, quando Niall FitzGerald e Antony Burgmans, os dois chairmen da Unilever, anunciaram o mais ambicioso plano de reestruturação nos 150 anos de história do grupo, não esclareceram quem seria o comandante dessa tarefa. Pois aí está: é o brasileiro Sérgio Sassi. É bom guardar esse nome. A partir de 1º de julho, ele terá nas mãos uma das mais poderosas canetas do grupo Unilever. Sob seu controle, haverá um orçamento de US$ 3 bilhões para reformular inteiramente todo o parque industrial da Unilever no mundo, formado por 380 fábricas espalhadas por mais de 100 países. Sassi será o responsável ainda por uma economia de cerca de US$ 1,5 bilhão no setor de compras das operações mundiais.

Poucas pessoas dentro do grupo têm hoje tanto poder. Aos 53 anos, Sassi foi ungido depois de um processo que se estendeu por mais de dois meses. Numa tarde do mês de abril, recebeu um telefonema de seu chefe Ralph Kugler, presidente para a América Latina. Meia hora depois, outra chamada, desta vez de Rudy Markham, um dos membros do board mundial da companhia. O assunto dos dois manda-chuvas era o mesmo: Sassi acabara de ser nomeado para comandar a reviravolta da Unilever no mundo. Ele se reportará diretamente ao board, a mais alta instância do conglomerado. Entre os 40 executivos expatriados pela Gessy Lever, o braço brasileiro da Unilever, nenhum ocupa posição tão importante quanto a de Sassi.

Sua tarefa deverá consumir de três a quatro anos de trabalho. Nesse período, Sassi e sua equipe analisarão cada uma das 380 plantas da Unilever. Elas serão divididas em três grandes categorias. Na primeira, serão agrupadas cerca de 150, que receberão um tratamento de ouro. As linhas de produção serão ampliadas e equipadas com o que há de mais avançado em máquinas e tecnologia. ?Serão fábricas apátridas, que irão suprir grandes regiões internacionais e não só o país onde estão instaladas?, diz Sassi.

Na segunda categoria, encaixam-se as chamadas fábricas auxiliares. Seu campo de atuação será mais restrito, com produtos específicos para este ou aquele mercado. O terceiro grupo, formado por cerca de 100 unidades industriais, não tem futuro. Serão riscadas do mapa. Junto com elas, desaparecerão cerca de 25 mil postos de trabalho. O novo desenho do parque industrial será a missão prioritária para Sassi, mas não a única. De sua mesa, também sairá um programa de reformulação da área de compras do grupo. Na linha final do relatório, deverá constar uma redução nos custos da ordem de US$ 1,5 bilhão. A economia terá origem principalmente na diminuição do número de fornecedores.

Sassi comandará esse processo a partir do quinto andar do edifício-sede da Unilever, em Londres, situado às margens do Tâmisa. Da janela de sua sala, ele terá uma visão de cartão-postal, com a Torre de Londres e a Catedral de Saint Paul como elementos centrais. Por volta das 8 horas da manhã, deixará o apartamento nos arredores de Londres, onde morará com a mulher. A seguir, apanhará o metrô e, 20 minutos depois, descerá em frente ao QG da Unilever. Essa será sua rotina… às vezes. Sassi acredita que passará metade do tempo em viagens. ?Uma das características desse trabalho é a quantidade quase obscena de viagens?, diz ele, em tom de brincadeira. ?Mas o sucesso do trabalho depende da conscientização dos executivos locais da necessidade das mudanças. E isso só pode ser feito pessoalmente.?

Não será uma novidade na vida de Sassi. Nascido em Itapetininga, interior de São Paulo, ele estudou e trabalhou em diversas cidades paulistas. Formado em Engenharia, conquistou o primeiro emprego na Gessy Lever. Nunca mais saiu de lá. Em duas ocasiões, morou com a família na Inglaterra, também transferido pela empresa. No primeiro período, entre 1978 e 1981, dedicou-se ao desenvolvimento de produtos do grupo. Depois, de 1987 a 1990, coordenou a área técnica de uma parcela do território europeu. Na ocasião, participou do desembarque da companhia nos países do Leste Europeu. Isso foi fundamental para sua escolha. ?Aprendi a conviver com culturas diferentes e respeitá-las?, diz ele. ?Como terei de atuar globalmente, a experiência será decisiva para mim.?

Outro trunfo de Sassi na corrida pela posição em Londres foram os resultados durante os quatro anos em que ficou à frente da divisão de alimentos da Gessy Lever no Brasil. Nesse período, reduziu o número de fábricas de 10 para apenas três, sem perda da capacidade produtiva ? uma espécie de ensaio para o que pretende fazer em nível internacional nos próximos quatro anos. Com a mudança, Sassi abandonará o passatempo predileto, os jogos de tênis. ?Não terei tempo para isso?, diz ele. As duas filhas, de 27 e 29 anos, também ficarão por aqui. ?Espero que nas minhas viagens, eu tenha tempo para fazer algumas escalas em São Paulo para vê-las?, diz ele.